segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
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domingo, 20 de dezembro de 2020
O Discurso do "Tudo muda"
sábado, 7 de novembro de 2020
Integralismo e nazismo: O Sigma em oposição à Suástica
Há alguns dias tivemos o grande desprazer de assistir, no portal YouTube, a um vídeo do History Channel intitulado Como a ideologia do nazismo invadiu o Brasil e contendo a afirmação de que os brasileiros que se identificavam com a ideologia nazista criaram, na década de 1930, a Ação Integralista Brasileira.
Ora, não
poderia haver afirmação mais absurda do que essa. Com efeito, Plínio Salgado,
criador e Chefe Perpétuo do Movimento Integralista, sempre atacou duramente o
nazismo, assim como o racismo, elemento básico de tal ideologia, já condenando
no Manifesto de Outubro, documento fundamental do Integralismo, o
racismo dos pequenos e grandes burgueses citadinos de nosso País, que, em seus
dizeres, se envergonhavam “do caboclo e do negro de nossa terra” e desconheciam
“todas as dificuldades e todos os heroísmos, todos os sofrimentos e todas as
aspirações, o sonho, a energia, a
coragem do povo brasileiro”, vivendo “a cobri-lo de baldões e de ironias, a
amesquinhar as raças de que proviemos”.[1] A
propósito, cumpre ressaltar que o aludido Manifesto, autêntica Magna Carta do
Integralismo, não se inspira e fundamenta de modo algum no nazismo, mas sim nos
ensinamentos perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e nas lições de
grandes pensadores brasileiros, a exemplo de Alberto Torres, Jackson de
Figueiredo, Farias Brito, Oliveira Vianna, Pandiá Calógeras e Eduardo Prado.[2]
No dia 24 de abril de
1934, Plínio Salgado dirigiu aos integralistas uma carta em que explicou
muitíssimo bem o sentido do seu e nosso nacionalismo, condenando vigorosamente
o jacobinismo, a xenofobia e o racismo e proclamando que a animosidade racista
contra os judeus é anticristã e, como tal, condenada pelo Catolicismo e que a
guerra movida contra os judeus na Alemanha era, “nos seus exageros, inspirada
pelo paganismo e pelo preconceito de raça”. Em suas sábias palavras, que ora
fazemos nossas, “o problema do mundo é ético e não étnico”.[3]
Foi esta, de acordo com Gerardo Mello Mourão, a
primeira denúncia de peso, no Brasil, contra o antissemitismo e a perseguição
aos judeus na Alemanha hitlerista[4]
e por ela Plínio Salgado se tornou, de acordo com Hélio Rocha, o primeiro
escritor e intelectual de vulto brasileiro e latino-americano que rompeu fogo
contra a ideologia nazista.[5]
Em dezembro de 1935, Plínio Salgado escreveu a sua
célebre Carta de Natal e fim de ano, monumental e pioneiro libelo contra
os erros do nacional-socialismo, publicada no jornal integralista A
Offensiva, do Rio de Janeiro.
Na referida Carta, Plínio Salgado, tendo denunciado
vigorosamente as tendências racistas, totalitárias e pagãs do nacional-socialismo
e o verdadeiro endeusamento do Führer por seus adeptos, ressaltou que os
integralistas distinguem o “campo religioso da área política”, concebendo a
autoridade “não segundo o furor místico,
exacerbado, doentio dos adeptos em torno do Chefe, porém como um princípio de
manutenção das estruturas orgânicas da sociedade”.[6]
Aos 14 de
fevereiro de 1936, ao ser informado da prisão pelos nazistas de mais de cento e
cinquenta sacerdotes católicos e de centenas de membros de associações
católicas, Plínio Salgado voltou a abrir fogo contra o nazismo, desta vez no
artigo Nacional-socialismo e Nacionalismo Cristão, publicado no jornal A
Offensiva. Seguem alguns trechos de tal artigo, que revelam claramente a
posição de Plínio Salgado e do Integralismo em face do nacional-socialismo:
No caso da Alemanha, não tenho dúvidas (pelo que
tenho lido nos livros nazistas, notadamente no livro de Hitler, Minha Luta,
e pelo que eu tenho deduzido das medidas e iniciativas governamentais), que o
governo hitlerista está, sem dúvida nenhuma, infringindo as mais sagradas leis
naturais e humanas e dando lugar a que os católicos, ciosos do livre arbítrio e
da intangibilidade da personalidade do homem e de sua família, se rebelem
contra o Estado. (...) O ascetismo, a mística, a super-humanização do tipo
“Führer”, a sua divinização ao ponto de o considerarem, os mais exaltados, a
encarnação de Odin, exprime um artificialismo político que foge de toda a base
e equilíbrio da razão humana (...). Em torno do “Führer”, longe de se encontrar
o meio religioso, encontra-se o ambiente de um nacionalismo pagão, o clima das
ressurreições olímpicas de Juliano, o apóstata. Nós, os integralistas, que
somos coisa absolutamente diferente do nazismo e do fascismo, não nos cansamos
de dizer que o nosso fundamento é o fundamento cristão. Repetimos mil
vezes que jamais caminharemos num rumo pagão, jamais deixaremos de ser um
movimento, preliminarmente espiritual, em seguida, social-revolucionário, e,
sustentando aqueles dois rumos, colocamos os imperativos da nacionalidade
dentro da qual encontramos ainda as mais sólidas tradições de cristianismo...[7]
Aos 27 de maio do mesmo
ano de 1936, Plínio Salgado observou, no jornal A Offensiva, que o partido
nazista atuava em Santa Catarina sem qualquer restrição, tendo plena liberdade
para desfilar, realizar reuniões e pregar suas ideias, enquanto os
integralistas já não dispunham de tal liberdade. Tendo ressaltado que o
Integralismo se batia contra a existência de organizações hitleristas em nosso
País, evocou o Chefe Nacional do Movimento Sigmático o fato de que o
Integralismo estava conquistando com grande êxito os descendentes de alemães
para a Pátria Brasileira, mostrando-lhes que eram antes de tudo brasileiros,
enquanto os nazistas procuravam integrá-los na pátria de origem, desejando que
se sentissem alemães e não brasileiros.[8]
Na obra A Doutrina do Sigma, de 1935, escreveu Plínio
Salgado que “o Integralismo é completamente diferente do Fascismo e do
Hitlerismo”[9] e que
Os ignorantes, que nunca leram as obras integralistas, quando falam
em público sobre essa doutrina, não reparam que estão se expondo a um ridículo
tremendo, ao afirmar que o Integralismo é uma cópia do fascismo.[10]
Ora, se já caem num tremendo ridículo aqueles que afirmam
que o Integralismo é uma cópia do fascismo, em ridículo ainda mais tremendo
caem aqueles que sustentam que é este Movimento essencialmente cristão e
brasileiro uma cópia do nazismo ou mesmo minimamente inspirado neste.
Isto posto, faz-se mister sublinhar que não apenas Plínio
Salgado, mas todos os principais pensadores integralistas condenaram o racismo
nazista e o totalitarismo. Com efeito, tratando das profundas diferenças
existentes entre o nazismo, o fascismo e o Integralismo, salientou Gustavo
Barroso que cada um de tais movimentos possui a sua “doutrina própria” e
“obedece a realidades humanas diferentes, que só os ignorantes ou os de má-fé
negam ou escondem”,[11] tendo, ainda, frisado
que “o Estado nazista” é pagão e baseado “na pureza da raça ariana, no
exclusivismo racial”, ao passo que “o Estado Integralista”, alicerçado “na
tradição da unidade da pátria e do espírito de brasilidade”, é “profundamente
cristão” e “combate os racismos, os exclusivismos raciais”.[12]
Da mesma maneira, no
artigo Nós e os fascistas da Europa,
dado à estampa na edição de abril-maio de 1936 da revista Panorama, de São Paulo, Miguel Reale, Secretário Nacional de
Doutrina da Ação Integralista Brasileira, havendo deixado claro que o Integralismo
não aceita a tese nazista da superioridade racial ariana, assim escreveu:
Nós brasileiros devemos nos libertar do jugo do
capitalismo financeiro e do agiotarismo internacional, sem que para isso
abandonemos os princípios éticos para descambarmos até aos preconceitos
racistas. A moral não permite que se distinga entre o agiota judeu e o agiota
que diz ser cristão; entre o açambarcador que frequenta a Cúria e o que
frequenta a Sinagoga. O combate ao banqueirismo internacional e aos processos
indecorosos dos capitalistas sem pátria, justifica-se no plano moral. E quando
a pureza da norma ética está conosco, não se compreende bem qual a necessidade
de outras justificações, que podem ser de efeito, mas que certamente são
discutíveis.[13]
No
artigo O Integralismo e os judeus, publicado no jornal A Offensiva aos
13 de dezembro de 1934, o mesmo Miguel Reale já afirmara que “o Integralismo mantém-se alheio a todo e qualquer
preconceito de raça, preferindo julgar o homem, não pelos aspectos exteriores
da cor, ou do formato dos crânios, mas pelos valores morais e cívicos”, e que
“a tese racista não está, nem nunca esteve, dentro das nossas cogitações”.[14]
Em outro
trecho do supramencionado artigo, Miguel Reale assim asseverou:
No Brasil, onde se reúnem e se fundem todas as etnias para
dar ao mundo o homem cósmico da civilização americana tropical, a teoria das
raças superiores revela-se em toda sua fraqueza. Já tivemos e temos provas do
poder do homem negro no campo da ciência, da arte e da política. e a participação
na vida cultural do país de fileiras de imigrantes antigos ou recentes com o
seu acendrado amor à terra nativa mostra de sobejo a relatividade de tão
decantada voz do sangue.[15]
O magno
poeta e pensador católico e integralista Tasso da Silveira, na obra O Estado
Corporativo, de 1937, ao condenar veementemente o Estado Totalitário,
ressaltou que, no momento em que escrevia, apenas dois países se encaixavam
rigorosamente nos quadros do totalitarismo estatal, a saber, a União Soviética
de Stálin e a Alemanha de Hitler.[16]
Um pouco adiante, o mesmo Tasso da Silveira condenou o racismo do Estado
hitlerista e sua equivocada afirmação do primado da raça germânica sobre as
demais raças do Mundo, sustentando que os nazistas tinham subordinado o
espírito religioso à raça e ao Estado que a personificava.[17]
Segundo o poeta do Puro Canto e ensaísta de Caminhos do Espírito
(Tasso da Silveira), a Alemanha, sob a égide do nazismo, recriava os seus
deuses pagãos, que a levariam à morte, caso não a salvasse o Cristianismo e “o
totalitarismo estatal não poderia manifestar-se de maneira mais violenta do que
com essa tentativa de sujeição de populações cristãs a um paganismo perempto” e
“do que com essa tentativa de retorno às fontes bárbaras,” impossível de ser
realizada “senão à custa de desagregações dolorosas e funestas”.[18]
Consoante enfatizou Tasso da Silveira,
o Estado Totalitário, tanto comunista quanto nazista, de um modo ou de outro,
“se apresenta como senhor dos destinos dos povos, impondo-lhes autocraticamente
os moldes que confeccionou segundo ideologias que desconhecem, sempre, as faces
mais reais da realidade”.[19]
Ainda como destacou o vate do Cântico ao Cristo do Corcovado e ensaísta
de Tendências do pensamento contemporâneo (Tasso da Silveira), os
integralistas não pregam “nenhuma vaga ideologia”, tendo elaborado “uma
doutrina profundíssima supremamente realista, no sentido de que está em
perfeita adequação com a nossa realidade”,[20] e
“o Estado Integral, objetivado pelo Movimento do Sigma, se contrapõe a um só
tempo (...) ao Estado Totalitário do Comunismo e do Nazismo, e ao Estado
neutro, de estrutura puramente jurídica, da liberal-democracia”.[21]
Em outra passagem da obra Estado
Corporativo, Tasso da Silveira frisou que a concepção integral ou
totalitária do mundo, fundamento da Doutrina Integralista, constitui exatamente
o polo oposto de todos os particularismos lamentáveis do nazismo e do fascismo.
Em suas palavras, “quem diz ‘concepção totalitária do mundo’ diz, a um só
tempo, combate à ideia do ‘Estado totalitário’", assim como “combate a
qualquer pensamento de preeminência racial, no sentido em que a proclama o
nazismo”.[22]
Em
julho de 1936, no artigo O Integralismo e o hitlerismo na colônia,
publicado na revista Panorama, o integralista Mário F. Medeiros
salientou que no seio da colônia teuto-brasileira do Sul do País existiam duas
mentalidades em conflito: a dos colonos que se consideravam alemães e a dos
colonos que se sentiam brasileiros. Segundo ele, penetrando o ambiente da
aludida colônia, o Integralismo foi
rapidamente conquistando “o coração e a Inteligência de todos aqueles que se
julgavam brasileiros, enquanto a propaganda racista do hitlerismo apaixonava os
velhos colonos que se diziam alemães”. Era por tal razão que, de acordo com
Mário Medeiros, homens como o líder integralista gaúcho Wolfram Metzler viam no
hitlerismo um dos maiores inimigos do Movimento Integralista, dentro da chamada
zona colonial. Assim, tudo acontecia bem ao contrário do que espalhavam as agências
telegráficas e os jornais que combatiam o Integralismo, pois este não encontrava
“nenhum apoio no hitlerismo”, sendo, ao contrário, duramente “combatido por ele”.[23]
No capítulo da obra Introdução ao
Integralismo, de 1936, em que distinguiram o Integralismo do nazismo
e do fascismo, Arthur Machado Paupério e J. Rocha Moreira, tendo condenado o
Estado Totalitário nazista, observaram que ao totalitarismo hitlerista
acrescia, ainda, “na Nova Alemanha, a política
racista, de fundo profundamente materialista e anticristão”.
Fundado “numa pretensa superioridade do ariano, proclamada pelas teorias, hoje
caducas, de Chamberlain e Gobineau”, o nazismo desencadeara, em suas palavras,
“a luta racial, movendo contra todos os não arianos a mais acentuada e ignóbil
campanha”. Já nós, os integralistas, ainda em seus dizeres,
graças a Deus, não temos
preconceitos de raça. À luz da comunhão cristã, não distinguimos pigmentos nem
caracteres cranianos.
Somos mesmo o produto do
caldeamento de três raças (branca, negra e indígena) que se fundiram e que
permanecem ainda em continuada evolução. Não temos ainda um tipo
brasileiro. Além disso, povo novo, não podemos ainda dispensar o concurso
imigratório. Mister é povoarmo-nos, se queremos a nossa vida e a nossa
grandeza.
Por tudo isto, e principalmente pelo ideal cristão que nos anima, jamais
fizemos campanha racista. À diferença étnica opomos a igualdade espiritual de
todos os homens.
Brancos e negros, caboclos e mamelucos, jagunços e caudilhos, todos são
brasileiros, capazes de cooperar com a sua parcela de esforço, de coragem e de
dedicação na obra de reconstrução da Pátria.
Se o índice étnico os separa, o espírito os irmana.
Dentro do nosso caráter cristão não há lugar para antagonismos e
preconceitos raciais. Esse caráter que se revela a cada passo na concepção do
Integralismo é o grande motivo de sua superioridade e de sua vitória.[24]
Dito isto, cumpre
ressaltar que o Integralismo não apenas condenou veementemente o nazismo e o
racismo, como também teve, em suas fileiras, dezenas de milhares de negros.
Com efeito,
dentre os inúmeros brasileiros descendentes de africanos que pertenceram ao
Movimento Integralista, reunindo-se à sombra da bandeira azul e branca do Sigma,
podemos mencionar o “Almirante Negro” João Cândido, líder da chamada Revolta da
Chibata; o ativista negro, teatrólogo, escritor e artista plástico Abdias do
Nascimento; o sociólogo Alberto Guerreiro Ramos; o escritor e militante negro
Sebastião Rodrigues Alves; o professor de Direito, escritor, poeta e membro da
Academia Sul-rio-grandense de Letras Dario de Bittencourt, que chegou a ser
Chefe Provincial da AIB no Rio Grande do Sul, e o jornalista, escritor,
advogado, militante negro e professor Ironides Rodrigues, que durante anos
assinou uma coluna sobre cinema no jornal integralista A Marcha,
dirigido por Gumercindo Rocha Dorea.
Muitos também foram os judeus e
descendentes de judeus que militaram no Movimento Integralista, a exemplo de
Aben-Attar Neto, de Adam Steinberg, de Paulo Zingg, de Willy Ribeiro e mesmo do
poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, que tinha alguns ancestrais de origem
judaica. Com efeito, judeus e descendentes de hebreus honestos, patriotas e
cumpridores de seus deveres para com a Sociedade são e sempre foram e serão tão
bem-vindos no Movimento do Sigma quanto quaisquer outros brasileiros nas mesmas
condições. Neste sentido, aliás, assim escreveu Miguel Reale, no há pouco
aludido artigo, O Integralismo e os judeus, de 1934:
Os judeus que se estabeleçam em nossa terra sem os
pensamentos de formar uma nação dentro de uma nação; os judeus que vêm aqui
para trabalhar com os brasileiros na construção de uma grande Pátria; os judeus
que não procuram destruir os valores espirituais da civilização cristã; os
judeus que não são instrumento do banqueirismo internacional ou agentes
secretos do imperialismo vermelho de Moscou; os judeus que não segregam os seus
descendentes da comunhão nacional; os judeus que não vivem de usura e do infortúnio
dos produtores, esses nada têm a temer do Integralismo. Nossas fileiras estão
abertas para os brasileiros de raça semita, assim como os judeus estrangeiros
podem formar em nossa Legião
dos amigos do Brasil desde que eles possuam consciência dos
nossos deveres morais e cívicos.[25]
Consoante expôs Miguel
Reale no mesmo artigo, o elemento semita, que colaborou na formação do Brasil
desde o chamado período colonial, “pode e deve trazer o seu coeficiente
poderoso de energias para a implantação do Estado Integral”. E se, como
sublinhou Reale, é avultado o número de semitas nas fileiras do comunismo desde
Karl Marx a Léon Trotsky e Maxim Litvinov, “não é difícil lembrar nomes de
semitas adversários poderosos das doutrinas materialistas de dissolução”, o
que, em seu sentir, demonstra que, diversamente do que julgam muitos
antissemitas, o judeu é plenamente capaz “de aceitar ideias orgânicas e
disciplinares”. Como exemplos de judeus adversários das doutrinas materialistas
dissolventes, mencionou o autor de O Estado Moderno (Miguel Reale),
dentre outros, o jurista, pensador político e estadista alemão Friedrich Julius
Stahl, o estadista inglês Benjamin Disraeli, “o construtor do Império
Britânico”, o jurisconsulto austríaco Georg Jellinek, o economista italiano
Gino Arias, “um dos mais profundos representantes” do corporativismo, e o
filósofo francês Henri Bergson, a quem reputava o “ponto de partida do
espiritualismo contemporâneo”.[26]
No artigo Questão de culturas,
dado à estampa no jornal O Estado de São Paulo
a 3 de abril de 1940 e transcrito na obra Uma cultura ameaçada: A
luso-brasileira, vinda à luz no mesmo ano, o sociólogo Gilberto Freyre
tratou de um artigo publicado pelo geógrafo nacional-socialista alemão Reinhard Maack na revista de
professores e estudantes da Universidade de Harvard, The Quartely Journal of
Inter-American Relations. Em seu artigo, em que discorreu a respeito dos
colonos alemães ou de origem alemã do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do
Paraná, o geográfo Maack sustentou ideias abertamente racistas e atacou as
ideias universalistas do nacionalismo brasileiro, com razão atribuindo tais
ideias, em seu entender absurdas, ao Integralismo. Nas palavras de Gilberto
Freyre,
O
geógrafo Maack atribui essas ideias “universalistas”, para ele absurdas, ao
próprio movimento integralista, recordando, com indignação, que um dos chefes
teuto-brasileiros do extinto partido teria exclamado, em discurso em Blumenau:
'Na época de completa fraternização de toda a família brasileira num Estado
integral, não haverá mais diferenças de raça e de cor”.
Para
nós, um dos pontos simpáticos e essencialmente brasileiros do programa daquele
movimento. Para o geógrafo Maack: heresia das heresias. Os homens de raça e de
cultura germânica, sob a orientação nazista, não se submeteriam nunca a
semelhante confraternização de raças e de costumes, dentro das tradições
portuguesas que se tornaram estruturais para o desenvolvimento brasileiro.[27]
Como observou Gilberto Freyre no artigo ora em apreço,
é absoluta a divergência existente entre a filosofia brasileira de formação
nacional e a filosofia imperialista de colonização de parte do Brasil pelo
nazismo[28]
e o Integralismo claramente sustenta a primeira filosofia, ao mesmo tempo em
que se opõe vigorosamente à segunda.
Posto isto, faz-se mister sublinhar que não apenas os
integralistas sempre condenaram o nazismo, como também os nazistas sempre condenaram
o Integralismo, o que é, aliás, natural, tendo em vista que os dois movimentos
tinham ideários absolutamente contrários em aspectos fundamentais e também o
fato de que o Integralismo tirou da área de influência do nazismo milhares de
alemães e teuto-brasileiros, que trocaram a camisa-cáqui e a suástica pela
camisa-verde e o Sigma.
Em 1935, o cônsul alemão em Florianópolis, Alnobert
Dittmar, enviou um relatório a Berlim em que se queixou do fato, em seu
entender lastimável, de ser grande o número de alemães engrossando as fileiras
do Movimento Integralista em Santa Catarina. Segundo Dittmar, um alemão vestido
de camisa-verde é, a longo prazo, “o coveiro de seu próprio germanismo”.[29]
No prefácio ao primeiro volume da obra Plínio
Salgado: “In memoriam”, Antônio Arruda Camargo escreveu que Rui de Arruda
mostrara-lhe um dia um jornal alemão em que havia um artigo escrito por um
líder nazista, que nele afirmava que “o
nacionalismo do Sr, Plínio Salgado impedia a propagação do nazismo, entre os
alemães de Santa Catarina".[30]
Em sua tese intitulada Der Brasilianische Integralismus,
defendida perante a Universidade Friedrich Wilhelm, em Berlim, a 29 de junho de
1938, e publicada na forma de livro no mesmo ano, o teuto brasileiro Carlos
Henrique Hunsche, então adepto do nacional-socialismo, reproduziu as posições
racistas dominantes neste movimento, não deixando de censurar o Integralismo por
este, em seu entender, não representar, ao contrário do nazismo, “uma ideia
racial”,[31] ou, em
outras palavras, por não colocar o elemento raça acima de tudo. Daí ter
afirmado Hunsche que devia ser sublinhada duas ou três vezes a frase do pastor
luterano teuto-brasileiro Hermann Dohms segundo a qual jamais de deve, em
hipótese alguma, confundir-se o Integralismo Brasileiro com o nacional-socialismo
alemão.[32]
Publicada em janeiro de
1938, a obra de Hunsche sobre o Integralismo ficou exposta nas vitrines das
livrarias alemãs por apenas quinze dias, pois, por conta da decretação do
Estado Novo, em novembro de 1937, e do fechamento da Ação Integralista
Brasileira (AIB), em dezembro do mesmo ano, o governo de Hitler, que mantinha
boas relações com a ditadura varguista,
julgou que não fosse prudente e oportuno que circulasse um livro sobre o
Integralismo na Alemanha naquele momento. Segundo o próprio Hunsche narrou a
Plínio Salgado numa carta escrita muitos anos depois, foi o Dr. Joseph Goebbels
o autor do documento que proibiu a circulação de seu livro em terras alemãs.[33]
Se a obra de Carlos
Henrique Hunsche não agradou as autoridades nazistas mesmo consagrando as
posições do nacional-socialismo em face da questão étnica, menos ainda as
agradou a tese de doutorado do sacerdote e monge beneditino D. Nicolau de Flue
Gut sobre Plínio Salgado, o criador do Integralismo Brasileiro na Literatura
Brasileira, defendida em 1938 na Universidade Ludwig Maximilian de Munique
e publicada em 1940, em português, na Alemanha. Com efeito, a tese de D.
Nicolau de Flue Gut tratou sobretudo da obra literária de Plínio Salgado mas também
discorreu sobre seu pensamento político, que, como já aqui salientamos, é
essencialmente contrário aos princípios do nacional-socialismo alemão, e isso
lhe valeu a sua expulsão da Alemanha nazista.[34]
No dia 7 de setembro de
1941, Plínio Salgado, então exilado em Lisboa pela ditadura estadonovista de
Vargas, ali lançou o chamado Manifesto de Setembro. Neste histórico
documento, consciente de que o Brasil logo seria forçado pela Alemanha a entrar
do lado dos chamados Aliados no conflito global que então se travava, o Chefe
Nacional do Integralismo preconizou a união de todos os brasileiros,
“esquecidos de mútuos agravos ou divergências e animados pela deliberação firme
de defender nossa Pátria em qualquer circunstância”, e conclamou todos os
integralistas a dar seu integral apoio ao governo do nosso País em tudo o que
este houvesse “de se empenhar para defender a intangibilidade da nossa
soberania e independência”, assim como para “salvaguardar a família brasileira
de todos os fatores dissolventes da nacionalidade” e “para construir e
engrandecer o Presente e o Futuro da nossa Pátria”.[35]
Nos primeiros dias do ano
de 1942, Plínio Salgado gravou, em Lisboa, num disco fonográfico imediatamente
enviado ao Brasil, uma Mensagem aos integralistas, de que destacamos as
seguintes linhas:
Sabeis o que vos cumpre como
bons brasileiros ao serviço de Deus e da Pátria, porquanto, em dezembro do ano
findo, vos foi por mim traçada a linha de conduta que vos deve nortear. Ela
consiste no culto sagrado do amor ao Brasil, na sustentação da sua soberania e
independência, na vigilância contra os fatores da dissolução social, na
cooperação com o governo do nosso País em tudo o que disser respeito à defesa da
Nacionalidade contra todos os terríveis agentes da corrupção interna, e contra
quaisquer ameaças externas, venham de onde vierem.
(...) Nesta hora, acima de
tudo é preciso amar e amar cada vez mais, o Brasil. Cultivar esse amor com
entusiasmo. Sede baluartes da ordem e da união nacional, com dignidade. Sede,
principalmente, fiéis aos princípios de Cristo, que são a luz do nosso
nacionalismo.
Não temos outro partido,
outra predileção, outro interesse, outro desejo, outro sonho senão os que
comportam estas três palavras: Deus, Pátria e Família. Com elas vos envio as
saudações para o Ano-Novo. Nelas ponho meu coração, meu pensamento, meu
Espírito, pelo Bem do Brasil.[36]
No dia 22 de agosto de 1942, quando o Brasil declarou
guerra às potências do Eixo, um grupo de personalidades integralistas expediu
ao Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, o seguinte telegrama:
A gravidade deste
momento nacional, tão eloquentemente expressa no manifesto de V. Ex.a ao
Exército, impôs-nos esta atitude de plena solidariedade às classes armadas da
Nação, exorando-lhes, na pessoa de V. Ex.a, a que não nos recusem o direito de ser os primeiros a
nos sacrificarmos, sem distinção de classe ou idade, pela soberania nacional.
Respeitosas saudações. (aa) Raimundo Delmiriano Padilha, Gustavo Barroso,
Miguel Reale, Machado Florence, Marcos Sousa Dantas, Marcel da Silva Telles,
Maurício da Silva Telles, Milton Ferreira de Carvalho, Alcebíades Delamare,
Amaro Lanari, Henrique Brito Pereira, Rodolfo Josetti, Sílvio Rego, Jorge
Brisola, Paulo Lomba Ferraz, Queiroz Ribeiro, Filemon Cordeiro, Severino
Rezende, Aristóbulo Soriano de Melo, Carlos de Freitas Henriques, Ordival
Gomes, Custódio de Viveiros, Nunes da Silva, Alfredo Luís Greve, Henry
Leonardos, Maurílio de Melo, Vicente Meggiolaro.[37]
No dia seguinte, as mesmas personalidades integralistas e
mais Lúcio José dos Santos, Carlos de Faria Albuquerque, Othon de Barros e João
Carlos Fairbanks enviaram ao Presidente da República, Getúlio Dorneles Vargas, um
telegrama com os seguintes dizeres:
Ao traduzirmos, em
manifesto de 7 de setembro de 1941, nosso integral apoio a V. Ex.a e
ao regime,[38]
fundamentamos nossa atitude salientando que “as ameaças tornaram-se agora mais
pesadas, os perigos mais iminentes, os inimigos mais próximos, os ardis mais
dissimulados e mais imprevisíveis as catástrofes em que soçobram as
nacionalidades” e, consequentemente, nos colocávamos ao lado do governo para
auxiliá-lo “em tudo o em que ele houver de se empenhar para defender a
intangibilidade da nossa soberania e independência e contra todos os fatores
dissolventes da nacionalidade”. No momento em que nossa Pátria se vê na grave
contingência de aceitar impavidamente a luta que lhe foi imposta, a nossa
posição, Senhor Presidente, já estava irrevogavelmente preestabelecida pelo bem
do Brasil. Respeitosas saudações.[39]
Aos 15 de novembro de 1943, Plínio Salgado, que fora
informado de que circulava a falsa acusação de que ele e outros integralistas
estavam colaborando com a espionagem alemã, lançou o chamado Manifesto de 1943,
dirigido ao povo brasileiro e enviado a seu pedido pelo Embaixador do Brasil em
Portugal, João Neves da Fontoura, ao Presidente Vargas e ao Ministro das
Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, a fim de lhe permitirem a publicidade.[40]
No início do referido Manifesto, Plínio Salgado
sublinhou que a Doutrina que sustentara, fundando e propagando o Movimento
Integralista, era a mesma que continuava a sustentar e cujos princípios são
contrários: 1) a todas as formas de materialismo; 2) ao Estado totalitário, seja
comunista, seja nazista ou outro qualquer; 3) a qualquer teoria de predomínio
de uma raça ou de uma nação sobre as outras; 4) à prevalência da força sobre o
Direito, tanto nas relações entre povos quanto nas relações entre indivíduos;
5) ao enfraquecimento da nossa Brasilidade, das tradições pátrias e da
segurança do território que herdamos dos nossos ancestrais lusitanos e
posteriormente ampliamos; 6) a qualquer restrição à justa e regrada liberdade
de pensamento e à dignidade da pessoa humana. Tais ideias, inspiradas na
Tradição do Brasil e por ele absorvidas desde o berço, patenteiam, como frisou
Plínio Salgado, que sua “filosofia política nunca dependeu de ideologias
estrangeiras nem se subordinou a qualquer partido do mundo”. O que há de
universalista em tal Doutrina é, na expressão do autor de Primeiro, Cristo! (Plínio
Salgado), “aquilo que deriva do ensino da Igreja, transmitido da cadeira de São
Pedro”, pois era como homem, e não somente como brasileiro, que via, “no
Redentor Divino, a Luz, o Caminho e a Vida”.[41]
Um pouco adiante, frisou Plínio Salgado que, na guerra
então travada contra os países do Eixo, “só traidores poderiam deixar de
trabalhar pela vitória de nossa Pátria e das nações suas aliadas”. Em seus
dizeres, tal vitória livraria o nosso Brasil “do mais imediato dos perigos” que
então o ameaçavam, que era justamente o “racismo expansionista”, e daria à
Nação “a possibilidade de subsistir dentro do princípio da intangibilidade das
pátrias”.[42]
Em seguida, já quase ao final de seu Manifesto,
tratando especificamente da suspeita, de que fora vítima, de pretender
entendimento ou concurso nazista para fins partidários no Brasil, o autor da Vida
de Jesus (Plínio Salgado) protestou veementemente contra tão vil calúnia. O
escritor, pensador e líder político patrício enfatizou, com efeito, que jamais
mancharia sua honra, servindo-se de estrangeiros para galgar postos de governo
em nosso País, posto que, em seus dizeres, “o Brasil pertence aos brasileiros e
só aos brasileiros cabe a escolha dos seus destinos políticos e dos seus
governantes”.[43]
Tanto o Embaixador do Brasil em Portugal, o há pouco
mencionado João Neves da Fontoura, quanto o Ministro Osvaldo Aranha e o
Itamaraty jamais duvidaram da inocência de Plínio Salgado em face das calúnias
de que foi vítima e, como declarou, anos mais tarde, ao Jornal do Brasil,
do Rio de Janeiro, D. Carmela Patti Salgado, viúva de Plínio, possuía esta
diversos documentos que provavam que o criador e máximo líder e doutrinador do
Integralismo Brasileiro se encontrava com graves problemas pulmonares e internado
num sanatório nas datas em que o acusavam de se encontrar com um agente do
serviço secreto alemão.[44]
Inúmeros foram os integralistas que combateram os
nazistas durante a II Guerra Mundial, tanto nas águas do Atlântico quanto nos
campos, colinas e montanhas da Itália, havendo dezenas deles, aliás, dado a
vida pela Pátria. No célebre e magnífico Discurso do Teatro Municipal do Rio
de Janeiro, proferido em 27 de outubro de 1946, Plínio Salgado evocou os nomes
de diversos integralistas que lutaram contra as forças do Eixo na batalha do
Atlântico e nos campos de combate da Itália e de alguns que tombaram por Cristo
e pelo Brasil nessas duas zonas de confronto.[45]
Como ressaltou Plínio Salgado, oitenta por cento dos
oficiais e marinheiros da nossa Marinha de Guerra tinham feito sua inscrição
nas fileiras da Ação Integralista Brasileira (AIB) e que eram também
numerosíssimos os marujos da Marinha Mercante pátria que militaram em tais
fileiras.[46]
Dentre os inúmeros
oficiais integralistas da Marinha de Guerra Brasileira que se destacaram no
combate contra os submarinos alemães e italianos nas águas do Atlântico, o mais
importante foi, sem sombra de dúvida, o então Capitão-de-fragata e futuro
Almirante Gerson de Macedo Soares, que durante a Guerra chefiou o Estado-Maior
do Almirante Alfredo Soares Dutra, comandante da Força Naval do Nordeste, tendo
sido condecorado pelo governo dos Estados Unidos da América. Como observou
Plínio Salgado, o nobre e bravo oficial de nossa Marinha que foi e é Gerson de
Macedo Soares, a quem, aliás, Franklin Delano Roosevelt apertou a mão, era, ao
tempo da Ação Integralista Brasileira, o coordenador dos membros da Marinha no
Movimento do Sigma, e continuou a professar depois os ideais do Integralismo,[47] ideais
a que, a propósito, permaneceu fiel até a morte.
Quando, em 1955, Plínio Salgado concorreu à Presidência
da República, certos inimigos seus e do Integralismo reproduziram na imprensa
alguns telegramas em que determinados membros da Associação dos Ex-combatentes
da Força Expedicionária Brasileira (FEB) arvorados em representantes de todos
os chamados “pracinhas” repetiam velhas, absurdas e desacreditadas calúnias
segundo as quais o Chefe Nacional do Integralismo teria sido o chefe da
denominada quinta-coluna nazista na II Guerra Mundial e praticado atos de
espionagem em favor das potências do Eixo. Em resposta a essas lamentáveis calúnias,
o já então Almirante Gerson de Macedo Soares escreveu um corajoso depoimento em
defesa do tão grande quanto injustiçado líder e pensador político
tradicionalista e nacionalista que foi e é Plínio Salgado. Em tal depoimento, publicado originalmente no Jornal
Pequeno, de Recife, a 21 de setembro de 1955 e transcrito em panfleto e
amplamente distribuído naquele ano, o Almirante Gerson de Macedo Soares
salientou que o que se dizia contra Plínio Salgado não era verdade, jamais
tendo sido ele o traidor que se queria apontar à execração do eleitorado
brasileiro e, do mesmo modo, “os seus adeptos, os verdadeiros, os que sempre
seguiram os seus sadios ensinamentos jamais se enxovalharam em espionagens,
delações e correspondências com o inimigo”. Segundo ele, “os verdadeiros e
heroicos ‘pracinhas’” sabiam perfeitamente bem disso e ele mesmo podia dar seu
testemunho pessoal no sentido de que,
em tempo algum, desde
meados de 1942 até 1945, houve qualquer notícia de uma traição de brasileiros,
dando informações ao inimigo, exercendo a execranda espionagem, e muito menos
de adeptos de Plínio Salgado, CUJO AMOR À PÁTRIA SEMPRE ESTEVE ACIMA de quaisquer
MAQUINAÇÕES ALEIVOSAS.[48]
Ainda conforme escreveu o Almirante Macedo Soares, no
Estado-Maior da Força Naval do Nordeste, no comando de unidades navais, entre a
oficialidade e entre as nobres e patrióticas guarnições, contavam-se muitos seguidores
dos ensinamentos de Plínio Salgado, todos eles trabalhando “AFINDACAMENTE, ao
lado dos americanos, para a derrota integral do inimigo”.[49]
Ao tratar, no há pouco aludido Discurso do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, dos integralistas caídos em combate nos campos
italianos na guerra contra Hitler, mencionou Plínio Salgado não apenas
camisas-verdes ali tombados, mas também sobreviventes que para cá tornaram ao
término do conflito, feridos ou não. E, dentre os integralistas tombados nos
campos da Península Itálica, destacou ele particularmente a legendária figura
de Frei Orlando, o heroico capelão militar, patrono do Serviço de Assistência
Religiosa do Exército desde 1946 e que, nas palavras de Plínio Salgado, “era
dos nossos, pensava como nós”, e, antes de partir trabalhar junto aos soldados
que defendiam a honra do nosso Brasil, despediu-se de Raimundo Padilha,
reafirmando a sua fidelidade ao Integralismo.[50]
Em discurso em memória do General Olympio Mourão Filho
proferido na Câmara dos Deputados, em Brasília, no dia 10 de junho de 1972,
Plínio Salgado observou que esse nobre militar brasileiro seguira, no posto de
tenente-coronel, para os campos de batalha na Europa, onde lutou “como
verdadeiro brasileiro, levando aquele pensamento do Integralismo”, que, muito
diversamente do que afirmou a “propaganda comunista que se fez no Brasil, era
contrário ao fascismo e ao nazismo”.[51]
Em 3 de dezembro de 1974, em seu último discurso na
Câmara dos Deputados, Plínio Salgado ressaltou que os três grandes inimigos da
Ação Integralista Brasileira (AIB) tinham sido o capitalismo internacional, o
comunismo soviético e o nazismo de Hitler. Em suas palavras, este último
acusava os integralistas de pretender
caboclizar
os arianos, porquanto nos Estados do Sul consegui substituir a camisa cáqui e a
cruz gamada por uma camisa verde, cor de nossas matas, atraindo dessa forma os
teutos, descendentes de alemães que nem sabiam falar nossa língua. Fundei
numerosíssimas escolas para ensinar o português aos filhos de alemães. Então,
os jornais de Berlim e de Munique atacavam-se violentamente. Ao mesmo tempo me
agrediam os comunistas, dos quais eu não podia deixar de ser inimigo, e me
atacava o capitalismo internacional, este finalmente conseguindo que viesse
aqui o Presidente Roosevelt conferenciar com o Presidente da República
brasileira para combinar um golpe de Estado a fim de nos liquidar.[52]
Fechemos este artigo. Como dissemos
inúmeras vezes e repetiremos sempre que se fizer necessário, o Integralismo
difere profundamente do nacional-socialismo alemão e seus líderes jamais se
identificaram com a ideologia nazista ou nela se inspiraram. Ao contrário, o
Integralismo, Movimento essencialmente cristão e brasileiro, sempre combateu o
racismo nazista e condenou todas as formas de totalitarismo, proclamando que o
problema do Mundo é ético e não étnico.
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Secretário
Nacional de Doutrina e Estudos da Frente Integralista Brasilera,
São
Paulo, 29 de setembro de 2020-LXXXVII.
[1] Manifesto
de Outubro. de Outubro. Disponível
em: https://www.integralismo.org.br/manifesto-de-7-de-outubro-de-1932/.
Acesso em 29 de setembro de 2020.
[2] Sobre os fundamentos doutrinários do Manifesto
de Outubro e do Integralismo: Plínio SALGADO, O Integralismo na vida brasileira, in Enciclopédia do Integralismo, Volume I, Rio de Janeiro, Edições
GRD/Livraria Clássica Brasileira, s/d, pp. 21-32. O mesmo trecho (Capítulo II)
também se encontra disponível em
https://www.integralismo.org.br/sintese-doutrinaria/o-integralismo-na-vida-brasileira/os-fundamentos-doutrinarios/.
Acesso em 29 de setembro de 2020. A respeito do mesmo assunto, recomendamos,
ainda, a primeira aula do nosso curso sobre as fontes do Integralismo:
https://www.youtube.com/watch?v=yqrO9yDpVhI&t=1568s. Acesso em 29 de
setembro de 2020.
[3] Trechos de uma carta, In Panorama: Coletânea do pensamento novo, Ano I,
Nº 4 e 5, São Paulo, abril e maio de 1936, p. 5.
[4] Quem tem medo de Plínio Salgado?,
In Gumercindo Rocha DOREA (Organizador) Anais
do Centenário e da 2ª Semana Plínio Salgado, São Paulo/São Bento do
Sapucaí, Edições GRD/Espaço Cultural Plínio Salgado, 1996, p. 27. Artigo
originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo, da Capital
Paulista, em 3 de maio de 1995, e disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/5/03/opiniao/9.html.
Acesso em 29 de setembro de 2020.
[5] O Integralismo não é totalitarismo,
2ª edição, In Enciclopédia do Integralismo, Volume VIII, Rio de Janeiro,
Livraria Clássica Brasileira/Edições GRD, 1958, pp. 63-133.
[6] Carta de Natal e fim de ano, In Palavra nova dos tempos novos, 4ª edição, In Obras Completas, 2ª edição, Volume 7,
São Paulo, Editora das Américas, 1957, p. 294.
[7] Nacional-socialismo e Nacionalismo
Cristão. Disponível em:
https://www.integralismo.org.br/sem-categoria/nacional-socialismo-e-nacionalismo-cristao-plinio-salgado/.
Acesso em 29 de setembro de 2020.
[8] A Poeira da Estrada,
in A Offensiva, Rio de Janeiro, 27 de maio de 1936.
[9] A Doutrina do Sigma, 2ª edição,
Rio de Janeiro, Schmidt, Editor, 1937, p. 182.
[10] Idem, p. 154.
[11] A Sinagoga Paulista, 3ª edição, Rio
de Janeiro, Empresa Editora ABC Limitada, 1937, p. 176.
[12] O Integralismo e o Mundo, 1ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1936, p. 17.
[13] Nós e os fascistas da Europa, in Obras
políticas (1ª fase – 1931-1937).Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1983, p. 231-232.
[14] Texto disponível em: https://www.integralismo.org.br/sem-categoria/o-integralismo-e-os-judeus-miguel-reale/. Acesso em 29 de setembro de 2020.
[15] Idem.
[16] Estado
Corporativo, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1937, p. 273.
[17] Idem, pp. 276-277.
[18] Idem, p. 277.
[19] Idem, loc. cit.
[20] Estado Corporativo, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1937, p. 14.
[21] Idem, pp. 271-272.
[22] Idem, p. 251.
[23] O Integralismo e o hitlerismo na colônia, in Panorama: Coletânea do pensamento novo, Ano I,
Nº 7, São Paulo, julho de 1936, pp. 57-58.
[24] Capítulo transcrito por Arthur Machado
Paupério em O caráter antitotalitário do Integralismo, in VV.AA., Plínio Salgado: “In memoriam”,
volume I, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985, pp.
143-148.
[25] Texto disponível em: https://www.integralismo.org.br/sem-categoria/o-integralismo-e-os-judeus-miguel-reale/. Acesso em 29 de setembro de 2020.
[26] Idem. Em tal artigo Reale igualmente
citou como de origem semita o filósofo francês Jacques Maritain, então
considerado, em seus dizeres, “a maior figura da neoescolástica”. Em verdade,
porém, Maritain não tinha tal origem, ao contrário de sua esposa Raïssa,
convertida, juntamente com ele, ao Catolicismo em 1906.
[27] Uma cultura ameaçada e outros
ensaios, São Paulo, É Realizações, 2010, p.
51.
[28] Idem, loc. cit.
[29] DDA, Pol. Abt. III, in Akten
“Nationalsozialismus, Faschismus...” doc. n.1545/35 de 20 de novembro de1935,
pp.12-13, apud Ricardo SEITENFUS, O Brasil vai à guerra, 3ª edição,
Barueri, SP, Manole, 2003, p. 36. Cumpre assinalar que o livro de Seitenfus
reproduz inúmeras falsas acusações contra o Integralismo, todas elas há muito
respondidas.
[30] Plínio Salgado - Vida e obra, in VV.AA., Plínio Salgado: “In memoriam”, volume I, São Paulo, Voz do Oeste/Casa
de Plínio Salgado, 1985, p. 14.
[31] O
Integralismo brasileiro, Tradução de Leandro Silva Telles, Porto Alegre,
Centro de Documentação AIB/PRP, 1996, p. 74.
[32] Idem, loc. cit. A frase de Dohms pode
ser lida em: O Movimento Integralista, in Martin N. Dreher
(Organizador), Hermann Gottlieb Dohms: Textos escolhidos, Porto Alegre,
EDIPUCRS, 2001, p. 273. O ensaio de Hermann Dohms sobre o Integralismo foi
originalmente publicado em alemão na revista Deutsche Evangelische Blätter
für Brasilien em 1934.
[33] Carta a Plínio Salgado, de 12 de maio
de 1972, in VV.AA., Plínio Salgado: “In
memoriam”, volume I, São Paulo,
Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985, p. 221.
[34] No magnífico ensaio Sobre um jovem
professor de Salamanca, em que falou de Francisco Elías de Tejada e de sua
obra e que consta de seu livro O ritmo da História, Plínio Salgado
observou que o primeiro que lhe falou de Tejada foi D. Nicolau de Flue Gut,
que, em suas palavras, “havia sido recentemente expulso da Alemanha, por haver
publicado uma tese de doutorado sobre a minha obra, cujas ideias, transcritas
no texto, não agradaram ao regime nazista” [O ritmo da História, 3ª edição (em
verdade 4ª), São Paulo, Voz do Oeste; Brasília, INL (Instituto Nacional do
Livro), 1978, p. 193].
[35] Manifesto de Setembro, in O
Integralismo perante a Nação, 4º edição, in Obras Completas, vol. 9, 2ª edição, São Paulo: Editora das Américas,
1957, p, 307.
[36] Mensagem, in O Integralismo
perante a Nação, cit., pp. 321-322. Grifos em itálico no original.
[37] O Integralismo perante a Nação,
cit., p. 323-324.
[38] Cumpre ressaltar que tal apoio foi dado
a Vargas e ao regime apenas na luta em defesa da Nação contra as ameaças
internas e externas à sua independência e soberania, o que, aliás, fica bem
claro tanto no Manifesto de Setembro quanto nesse mesmo telegrama ao
Presidente da República.
[39] O Integralismo perante a Nação,
cit., p. 324.
[40] Cf. Plínio SALGADO, O Integralismo
perante a Nação, cit., p. 328.
[41] Manifesto de 1943, in O
Integralismo perante a Nação, cit., pp. 329-330.
[42] Idem, p. 331.
[43] Idem, loc. cit.
[44] Cf. JORNAL DO BRASIL, Viúva de
Plínio Salgado processa historiador que o acusou de espionagem, in Jornal
do Brasil, Ano LXXXVII, nº 289, Rio de Janeiro, 24/01/1978, p. 2.
[45] Discursos, 1ª edição, São Paulo,
Companhia Editora Panorama, s/d, pp. 20-24.
[46] Idem, p. 20.
[47] Idem, loc. cit.
[48] Texto disponível em: https://www.facebook.com/photo?fbid=3039187709525342&set=a.411355048975301. Acesso em 29 de setembro de 2020.
[49] Idem.
[50] Discursos, cit, p. 24.
[51] Olympio Mourão Filho, in Discursos parlamentares (Volume 18
– Plínio Salgado), Seleção e introdução de Gumercindo Rocha Dorea, Brasília,
Câmara dos Deputados, 1982, pp. 784-785,
[52] Despedida da vida parlamentar,
in Discursos parlamentares, cit., p. 305.