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domingo, 30 de abril de 2017

Da taxa natural de juros - John Médaille coloca neoclássicos em xeque.


Relendo as 50 primeiras páginas do magnífico "Toward a trully free market: a distributist perspective on government role, taxes, healthcare, defcits and more" do economista distributista (e portanto heterodoxo) John C. Médaille da Universidade de Dallas, percebo que ele argumenta corretamente de modo a colocar todos os filhos de Jevons, Walras e Menger (consenso marginalista/neoclássico) em posição de xeque.

Médaille na página 47 resume em uma boa frase aquilo que teoriza em continuidade com a tradição greco-católica de pensamento nas páginas anteriores, com a expressão: "não existem leis econõmicas, e sim tendências econômicas". As famosas curvas de demanda e de oferta partem do princípio de que existe um preço de equilíbrio, o chamado equilíbrio de mercado em que os desejos dos ofertantes e dos demandantes se encontram na formação de um preço.

Só que, como chama a atenção a duas coisas, a primeira que oferta é na verdade demanda e segunda, que o preço de equilíbrio é um achismo e, na realidade, é incognoscível visto que na economia real os preços se alteram de minuto em minuto, hora em hora, ou em mercados mais constantes de dia em dia. Falemos primeiro da segunda: que é que embora hajam preços de equilíbrio, eles não são cognoscíveis, embora sejam intuitivos.

Daí, Médaille segue para o conceito exposta na lei de utilidade marginal, a qual se ampara nas noções de receita marginal e custo marginal. A primeira corresponde ao preço de equilíbrio de uma dada commoditty, o segundo corresponde ao ponto em que a produção de uma unidade extra de um determinado produto se torna contraproducente. Para conhecer o custo marginal é necessário conhecer a receita marginal, mas para conhecer a receita marginal é necessário conhecer o preço de equilíbrio e ele como dito anteriormente é incognoscível.

Agora a primeira, se oferta é demanda, é necessário entender porque. Se estivéssemos em tempos feudais, trocaríamos por exemplo, milho por camisas, então claramentesão duas demandas distintas. Um demanda camisas e outro milho, ou duas ofertas, ambos oferecem ou milho ou camisas. Contudo, como não estamos em economia in natura, temos a moeda como mediador econômico, a qual alguém tem que demandar para demandar outra coisa. Assim ocorre uma separação entre oferta e demanda. O ofertante na verdade está demandando dinheiro, que no capitalismo é também uma commoditty (como acertadamente notou Keynes), e que tem uma produção especial em relação as demais uma vez que esta não demanda trabalho pra sua produção.

Então, pensemos se o dinheiro pode ser demandado, ele tem também como commoditty um preço de equilíbrio, certo? Não, errado. Não tem. O dinheiro como uma mercadoria que não é produzida por trabalho tem a especial faculdade (como novamente percebeu Keynes) de ser uma mercadoria universal de trocas a qual deve ter a faculdade de representar os preços de inumeros produtos com quantidades de estoque, oferta e demanda totalmente distintos de modo que ele não pode ter um preço de equilíbrio apenas, ou pelo menos um preço constante e que não esteja mudando a cada segundo. Ora, o preço do dinheiro (juros) uma vez assumido o preço de equilíbrio representa uma espécie de taxa natural de juros (conceito wickselliano), que como podemos perceber agora, não existe ou ao menos não é cognoscível. E mesmo que fosse, seria a mais difícil de se conhecer dentre todos os preços de equilíbrio.

Steve Keen em "Debunking Economics" traz ainda o fato incômodo para os neoclássicos e austríacos que a curva de demanda para mais do que um único indivíduo devido ao efeito riqueza pode assumir qualquer forma, é o teorema de Sonnenscheim-Matel-Debreu.