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domingo, 31 de julho de 2016

Papa Francisco apoia a Economia Social de Mercado


Construída por democratas cristãos na Europa do pós-Guerra, a Economia Social de Mercado (ou ordoliberalismo) apresentou excelentes frutos para a Europa. O caso mais emblemático foi a ressurgência no pós-Guerra da economia Alemã, da qual já falamos aqui muitas vezes. 

A ESM, fundada na macroeconomia keynesiana, na microeconomia neoclássica e com uma arranjo político-econômico de carácter distributista e subsidiário proveniente do pensamento social católico á até hoje a base da economia Alemã, mesmo após a criação do Euro, o que bagunçou um pouco as coisas. Através da última entrevista do Papa Francisco ao jornal francês "La Croix", o pontífice aprovou explicitamente a ESM como alternativa cristã viável, algo que já vinha subjacente desde a Centesimus Annus de São João Paulo II.

"Se há tanto desemprego, é por causa da falta de investimentos que possam gerar empregos, dos quais a África tanto precisa. Isso levanta, de modo mais geral, a questão de um sistema econômico mundial que caiu na idolatria do dinheiro. Mais de 80% das riquezas da humanidade estão nas mãos de cerca de 16% da população. Um mercado completamente livre não funciona. O mercado, em si mesmo, é uma coisa boa, mas deve haver, como ponto de apoio, um terceiro, o Estado, para controlá-lo e equilibrá-lo. É o que se chama de economia social de mercado."


sexta-feira, 29 de julho de 2016

O Free Banking na Austrália

Tradução de Hugo Rossi

Esta postagem é, em parte, uma resposta à Jonathan Finegold Catalán here (“Fiduciary Cycles,” Economic Thought, 14 May, 2012), apesar de que, essa não será minha única resposta.

            A problemática que gostaria de levantar aqui é a seguinte: qual é a evidência empírica com relação à sistemas que se aproximaram do ideal de Free Banking. Eu uso o termo “aproximado” porque, obviamente, não existe nenhum exemplo no mundo real de um sistema que se enquadra perfeitamente na utopia dos Free Bankers. Contudo, existem algumas aproximações, sendo a Austrália do final do século XIX é uma delas.

            Apesar da supervisão bancária Australiana ser originalmente feita pelo Tesouro Britânico, a partir de 1846 todas as colônias Australianas (exceto a Austrália Ocidental) receberam autonomia bancária, e a partir de 1862 o Tesouro Britânico não mais exercitou essa responsabilidade, que passou para cada governo colonial. Esses governos coloniais (ou governos estatais, como assim foram chamados na Austrália) fizeram muito pouco para regular os bancos. Sobre as regulações do Banco Colonial de 1840, os bancos Australianos já tinham obrigações limitadas. Apesar disso, a não ser que alguém deseje argumentar que obrigações limitadas são anti-mercado, essa não foi uma medida anti-mercado.

            Até mesmo as básicas regulações iniciais não foram seguidas em nenhum grande nível: a restrição no que diz respeito aos avanços imobiliários foi contornada por arranjos legais, e a regulamentação em Vitória foi abolida em 1888 (Hickson e Turner 2002:154).

Por volta de 1860, o sistema bancário Australiano possuía essas características:

(1)   Padrão ouro (Usualmente datado de 1852 [Bordo 1999:327] com uma filial da casa da moeda Britânica estabelecida em Sidnei em 1855);
(2)   Nenhum banco central;
(3)   Nenhum controle de capital;
(4)   Poucas barreiras para entrar no mercado;
(5)   Sem restrições ao branching;
(6)   Nenhuma restrição credível sobre ativos, passivos ou capital bancário;
(7)   Nenhum controle de preços estabelecido;
(8)   Nenhuma garantia de depósitos enforcada pelo governo.

O que aconteceu? 

            Um fator óbvio que o sistema bancário nunca vai controlar é a entrada e a saída de capitais especulativos que qualquer país experiência: apenas por esse fator, sempre haverá a possibilidade de uma inflação veloz da base de moeda-mercadoria, que permitirá um aumento do crédito. Isso aconteceu no caso Australiano: houve um aumento dos influxos de capital entre 1881-1885e uma enchente entre 1886-1890 (Hickson and Turner 2002:149).
           
            Há um real paradoxo aqui: os free bankers, assim como os Austríacos, fazem do livre mercado um fetiche. Para eles apenas o movimento irrestrito do capital é consistente com uma economia livre, mas é exatamente essa peculiaridade que demonstra que qualquer sistema de free banking vai estar sujeito a fatores exógenos que causam seu influxo e saída de capital flutuarem. Esse é o seu calcanhar de Aquiles, por assim dizer*.

             Em teoria, não há uma razão pela qual um sistema de free banking, superabundante em capital estrangeiro, não poderia experienciar um boom do crédito.
            Segundamente, sem nenhuma regulação nada impediria os bancos de:
(1)   Abaixarem os padrões para empréstimos (deixando o banco com empréstimos inadimplentes);
(2)   Comprarem as ações de baixa qualidade da moda, que será guardado em suas carteiras, para apenas colapsar em valor depois.

Por que um sistema de free banking não seria pego na excitação especulativa, quando pessoas e bancos acreditam que podem fazer dinheiro fácil sobre o aumento do preço dos ativos?

Isto foi precisamente o que aconteceu no caso da Austrália: bancos começaram a direcionar crédito para especuladores imobiliários e para aqueles comprando o que chamamos de “títulos pastorais” (Hickson and Turner 2002:159). Uma nova classe de companhias, aparentemente especializadas em propriedade e especulação no mercado de ações, assim como sociedades e companhias imobiliárias, obtiveram créditos dos bancos para esses propósitos (Hickson and Turner 2002:159)

O boom especulativo dos preços imóveis e ações imobiliárias, finanças e companhias de mineração atingiram seu apogeu em 1888, mas terminaram em Outubro desse ano (Hickson and Turner 2002:148).

De 1891 para março de 1892, 41 companhias captadoras de depósitos imobiliários e financiamento faliram em Melbourne e Sidney (Hickson and Turner 2002:148). A crise bancária não atingiu força total até 30 de janeiro de 1893 quanto o Banco Federal faliu. De abril, quando o Banco Comercial da Austrália foi atingido pela crise, houve um grande pânico, e ao redor de 17 de maio ao menos 11 bancos comerciais foram suspendidos, com efeitos em muitos outros (Hickson and Turner 2002:149).

Havia uma organização de bancos privados chamada “The Associated Banks of Victoria” que supostamente existiam parcialmente para coordenar as atividades dos bancos. Free bankers pensam que esse tipo de associações irão se engajar em auto regulação e garantir ao emprestador um ultimo recurso em tempos de pânico.

Isso não é o que aconteceu no caso Australiano: em janeiro de 1893 o Banco Federal faliu e ele era membro da Associated Banks, e, logo em seguida, o Banco Comercial da Austrália faliu sem nenhum suporte.

O que é ridículo aqui são as desculpas oferecidas pelos apologistas do livre mercado: eles defendem que as tentativas do tesoureiro Vitoriano de forçar a Associeted Banks       a dar assistência aos bancos menores e o feriado bancário introduzido pelo governo Vitoriano no inicio de 1893 exacerbaram a crise. No entanto, a escala total do pânico já havia começado em abril de 1893, antes dessas ações. Nenhuma dessas ações teve nada haver com a criação da bolha de ativos, que ocorreu na década prévia. Já havia um boom do crédito na década anterior à 1893.

De abril de 1893, houve um numero de intervenções limitadas que os governos coloniais assumiram: alguns bancos que suspenderam foram autorizados a participar da reconstrução (conversão de depósitos em ações preferenciais, mudança de depósitos de curto prazo em depósitos fixos de longo prazo e emissão de novas ações para obter capital).

Em Victoria, o governo declarou um feriado bancário de cinco dias na segunda feira, primeiro de maio de 1893, ação apontada por alguns como um movimento que tornou as coisas piores. Contudo, o que não é dito é que a história reproduziu um experimento para nós em 1893: o governo Vitoriano fez muito pouco para evitar a crise e salvar o seu sistema financeiro, a despeito do seu feriado bancário. Em contraste, o governo da Nova Gales do Sul tomou uma ação bem diferente.

Na Nova Gales do Sul, o governo fez a nota bancária dos grandes bancos – o Banco da Australasia, Banco da Nova Gales do Sul, Banco da cidade de Sydnei e Banco da União – curso legal, e anunciou que estaria disponível para agir como emprestador, como ultimo recurso. Isso recuperou a confiança do setor financeiro na Nova Gales do Sul em tal ponto que a crise terminou em alguns dias (Hickson and Turner 2002:165).

O governo de Victoria falhou em intervir da mesma forma que o de Nova Gales do Sul fez, e o resultado foi claro: Victoria vivenciou uma crise profunda, enquanto em Nova Gales do Sul a crise for largamente evitada.

Victoria representava uma grande parte da economia Australiana, então era natural que a crise financeira exacerbasse a recessão nesses anos. Em fato, o padrão familiar do desastre deflacionário já tinha afetado a economia Australiana em 1890, depois de que a bolha de ativos colapsou, desalavancando um setor privado altamente endividado.

“Na Australia, o PIB caiu por quatro anos seguidos, de 1890 até 1893... O desemprego cresceu exponencialmente. A imigração desacelerou e provisoriamente reverteu a direção. A desordem social se alastrou, comandada por tosquiadores de ovelhas, trabalhadores portuários e mineiros. A recuperação pós 1893, se é que pode ser chamada assim, foi lenta e desigual” (Adalet e Eichengreen 2007:233).

Como sempre, quando lidamos com um PIB do século XIX, apenas podemos ter estimativas. Uma estimativa diz que o PIB real caiu por volta de 10% em 1892 (Kent 2011), e em 7% por volta de 1893, ocorrendo deflação no período de 1891-1897. Angus Maddison fez as seguintes estimativas:

Ano | PIB
1888 | $14,685
1889 | $15,953 | 8.64%
1890 | $15,402 | -3.45%
1891 | $16,586 | 7.69%
1892 | $14,547 | -12.29%
1893 | $13,748 | -5.49%
(Maddison 2006: 452).

Nessas figuras, uma recessão moderada começou em 1890, uma recuperação ocorreu em 1891, mas não durou e uma real, depressão técnica (Isso é, o período em que o PIB/PNB contraiu em 10% ou mais) atingiu a Austrália em 1892, o que persistiu em 1893.

Após 1893, houve um crescimento inconstante, com recessão em 1895 e 1897, e a economia estava atolada no que chamamos de desemprego desequilibrado crônico, como vários países estavam nos anos 30.


APENDICE: ESTIMATIVA DO PIB AUSTRÁLIANO POR VOLTA DE 1890


Existem três estimativas modernas do PIB australiano no século XIX, como esses:
 (1) The figures of Noel G. Butlin, Australian Domestic Product, Investment and Foreign Borrowing 1861–1938/39 (Cambridge University Press, Cambridge, 1962), p. 460ff., with some amendments in Noel G. Butlin, Investment in Australian Economic Development, 1861–1900 (Cambridge University Press, Cambridge, 1964), p. 453.

(2) the revised lower estimates of Bryan Haig, “New Estimates of Australian GDP: 1861-1948/49,” Australian Economic History Review 41.1 (March, 2001): 1–34.

(3) adjusted figures for both (1) and (2) by Angus Maddison, The World Economy, Volumes 1–2 (OECD, 2006), p. 452, but using the estimates of Butlin (1962) and Haig (2001).
The data from Angus Maddison are below:

I. Angus Maddison’s Estimates of Australian Real GDP from Butlin (millions of 1990 international Geary-Khamis dollars)
Ano | PIB | Taxa de Crescimento
1888 | $14,685
1889 | $15,953 | 8.64%
1890 | $15,402 | -3.45%
1891 | $16,586 | 7.69%
 
1892 | $14,547 | -12.29%
1893 | $13,748 | -5.49%

1894 | $14,217 | 3.41%
1895 | $13,418 | -5.62%
1896 | $14,437 | 7.59%
1897 | $13,638 | -5.53%
1898 | $15,760 | 15.56%
1899 | $15,760 | 0%
1900 | $16,697 | 5.95%
(Maddison 2006: 452).
É interessante como isso mostra outras recessões ruins em 1895 e 1897, além de crescimento estagnado (sem crescimento) em 1899.

II. Angus Maddison’s Estimates of Australian Real GDP from Haig (millions of 1990 international Geary-Khamis dollars)
Ano | PIB| Taxa de crescimento
1888 | $12,546
1889 | $13,702 | 9.21%
1890 | $13,772 | 0.511% 
1891 | $13,890 | 0.857%
1892 | $13,640 | -1.8%
1893 | $13,663 | 0.17%

1894 | $13,819 | 1.14%
1895 | $14,015 | 1.42%
1896 | $14,288 | 1.95%
1897 | $15,147 | 6.01%
1898 | $15,749 | 3.97%
1899 | $16,592 | 5.35%
1900 | $17,186 | 3.58%
(Maddison 2006: 452).

Para comparação, aqui estão as cifras diretamente de Haig (2001) em milhões de libras nos preços de 1891:

Ano | PIB | Taxa de crescimento
1889 | 175.4
1890 | 176.3 | 0.51%
1891 | 177.8 | 0.85%
1892 | 174.6 | -1.79%
1893 | 174.9 | 0.17%
(Haig 2001: 29).

Aqui temos um acordo com as taxas de crescimentos calculadas por Angus Maddison.

Nas cifras revisadas de Bryan Haig, houve:

(1) Crescimento muito baixo em 1890–1891,
(2) Recessão suave em 1892, e
(3) Estagnação em 1893 (com uma taxa de crescimento de 0.17%).
Até essas cifras confirmam que alguma coisa estava errada na economia Australiana nesses anos, mesmo diferentes de Butlin (1962).

Contudo, há problemas com as estimativas de Haig. A avaliação de Angus Maddison sobre os valores revistos de Bryan Haig para 1860-1911 me mostram que eles não são necessariamente melhores que aqueles de Butlin. Ele pontua o seguinte:

(1)   De 1860-1911 Haig não tem medida quantitativa de 70% do PIB (Maddison 2006:453);

(2)   Haig descreve o processo de estimação que ele usou em apenas cinco páginas, enquanto Butlin o fez em 200 páginas.

(3)   Butlin forneceu dados de mais estados do que Haig fez: Haig usou dados de Victoria e de Nova Gales do Sul para preencher as lacunas para as estimativas totais Australianas (Maddison 2006:453).


(4)   Uma das objeções fundamentais de Haig para as estimativas de Butlin é que elas conflitavam com a interpretação tradicional da história econômica da Austrália: mas esta é uma objeção a priori não razoável. Como diz Maddison em sua resposta “é papel daqueles que discordam de Butlin provar que ele está errado” (Maddison 2006:451).


Considerando tudo, não vejo nenhuma razão para se preferir as estimativas de Haig.

BIBLIOGRAFIA:

Adalet, M. and B. Eichengreen. 2007. “Current Account Reversals: Always a Problem?,” in R. H. Clarida (ed.), G7 Current Account Imbalances: Sustainability and Adjustment, University of Chicago Press, Chicago. 205–246.

Bordo, Michael D. 1999. The Gold Standard and Related Regimes, Cambridge University Press, Cambridge.

Butlin, Noel G. 1962. Australian Domestic Product, Investment and Foreign Borrowing 1861–1938/39, Cambridge University Press, Cambridge.

Butlin, Noel G. 1964. Investment in Australian Economic Development, 1861-1900, Cambridge University Press, Cambridge.

Dowd, Kevin. 1992. “Free Banking in Australia,” in K. Dowd (ed.), The Experience of Free Banking, Routledge, London.

Haig, Bryan. 2001. “New Estimates of Australian GDP: 1861-1948/49,”Australian Economic History Review 41.1 (March): 1-34.

Hickson, C. R. and J. D. Turner. 2002. “Free Banking Gone Awry: The Australian Banking Crisis of 1893,” Financial History Review 9: 147–167.

Kent, C. J. 2011. “Two Depressions, One Banking Collapse: Lessons from Australia,” Journal of Financial Stability 7.3: 126–137.

Maddison, Angus. 2006. The World Economy: Volume 1: A Millennial Perspective and Volume 2: Historical Statistics, OECD Publishing, Paris.

Merrett, David T. 1989. “Australian Banking Practice and the Crisis of 1893,” Australian Economic History Review 29.1: 60–85.

Merrett, David T. 1993. “Preventing Bank Failure: Could the Commercial Bank of Australia have been saved by its Peers in 1893?,”Victorian Historical Journal 64.2: 122–142.

Pope, D. 1989. “Free Banking in Australia Before World War I,” Australian National University, Working Papers in Economic History, Working Paper N
o. 129.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Um breve resumo da Teoria Geral do emprego, do juro e da moeda de John Maynard Keynes


A teoria de Keynes é uma das mais polêmicas contribuições econômicas do século XX, porque ela se vale de elementos da economia clássica para contradita-la. Muitos dos críticos de Keynes atribuem a ele ideias que ele jamais teve ou defendeu, mais por causa das ações de políticos que se diziam keynesianos apropriando-se erradamente (conscientes desse erro ou não) de suas ideias, ou fazendo coisas completamente distintas das que ele pregava usando-o como escudo. Não se trata de uma versão keynesiana do “deturparam Marx”, mas sim de uma constatação histórica de que a teoria keynesiana serviu de desculpa para políticos desenvolvimentistas e populistas que queriam a todo custo manter seu poder, respeitando ou não o que Keynes delimitou em sua teoria. É diferente da suposta “deturpação de Marx”, que seria fruto de um mau entendimento em uma leitura sincera do mesmo. Políticos que jamais leram Keynes, aproveitaram-se de sua fama e prestígio para justificarem políticas eternamente expansionistas e gastadoras. Por essa razão, decidi expor em resumo abaixo a teoria keynesiana que compreendi a partir de muito estudo do mesmo, não pelo que seus oponentes o acusam de ser, e sim pelas suas próprias palavras e pela de alguns dos seus seguidores.


Quando a renda de uma determinada sociedade aumenta, sobe simultaneamente o consumo, contudo, ele não cresce na mesma proporção da renda, gerando necessariamente uma poupança. Esse quociente é uma característica psicológica humana mais ou menos estável e presente em todos os lugares, que é medido por um termo chamado propensão marginal a consumir (doravante PMC). A PMC é sempre inversamente proporcional a PMP.
Entretanto, ao contrário do que pensavam os clássicos, a poupança não se converte em investimento de imediato, é necessário que a taxa de juros caia na mesma proporção do crescimento do consumo. Essa proporção não é medida diretamente em relação ao crescimento percentual da renda agregada, mas sim medida em relação à variação da eficiência marginal do capital (doravante EMC).

Traduzindo, a economia sempre terá e partirá de um ponto de equilíbrio que se dará após um boom e um bust, então, a medida que a renda cresce, o consumo seguirá proporcional ao crescimento da renda apenas durante um período de tempo, pois durante uma crise ocorre desemprego, e as pessoas desempregadas consumirão suas poupanças para prolongar seu padrão de consumo por mais um tempo, até que ela se esgote e, por fim sua PMC cresça, e a medida que a renda voltar a crescer após o ponto de equilíbrio de baixa atividade econômica, as pessoas também vendo o crescimento de sua renda, como consequência disso, voltarão a consumir em maior volume, só que como vimos na PMC, as pessoas não consomirão toda sua renda o tempo todo, a medida que a sua renda continuar a crescer, elas passarão poupar uma parte, e essa parte poupada converte-se em poupança, poupança esta que deveria ser consumida para manter a produção, portanto, para Keynes, o aumento da PMC não é constante, e a queda da PMC aumenta a PMP (propensão marginal a poupar). 

A medida que pool de poupança nacional cresce, há um tendência que deveria levar a queda da taxa de juros, mas a medida em que as pessoas consomem suas poupanças após o declínio dos preços (e das expectativas de lucro, tornando a EMC desfavorável ao investimento). A taxa de juros resistirá a cair. Essa questão também pode ser vista da perspectiva do juros, pois com o aumento da produção, a taxa de juros resistente a cair, voltará a atrair poupança oriunda da renda crescente, só que enquanto o juro está alto, a EMC fica prejudicada, e haverá uma tendência generalizada a se aplicar dinheiro na poupança para viver de juro do que investir (do lado da oferta), o que causará lentamente a queda da empregabilidade e do consumo. Isso causará o desempego, o que forçará a população a retirar suas poupanças para manter  nível de consumo por mais tempo, nesse ponto a PMP cai lentamente até se extinguir, e a PMC crescerá até englobar toda a renda que, devido ao desemprego ou deixará de existir, ou será menor.

Para que o juro caia, é necessário a poupança suba e, mas, com a saída de dinheiro no lado da demanda e a entrada de dinheiro no lado da oferta (PMP alta na oferta em relação ao consumo), haverá uma tendência em se manter alta a taxa de juros. (Ver depois a moeda e suas propriedades)

A EMC é a diferença entre o custo do capital (quer para comprar uma unidade extra, quer pra substituir ou reformar uma antiga), a taxa de juros e a expectativa de lucro futuro deste mesmo capital. A longo prazo, a tendência da EMC é cair, não só pelo crescimento dos juros, mas ainda pelo avanço tecnológico, também pelo aumento da oferta e consequentemente, da posse deste capital.

Ex: Se um empresário qualquer compra uma máquina inovadora que é capaz de produzir mais que seus concorrentes pelo mesmo custo de uma máquina anterior menos eficiente, a EMC desse capital aumenta, já que o custo deste capital (pressupondo uma taxa de juros favorável ao investimento) é pequeno em face da expectativa de lucro futuro. Como este empresário produzirá mais pelo mesmo custo, o aumento da oferta fará os preços de seus produtos baixarem ganhando assim mercado em face de seus concorrentes. Contudo, à medida que seus concorrentes também forem equipando suas empresas com esse maquinário mais moderno e eficiente, os empresários concorrentes passarão também a baixar os seus custos recuperando parte do mercado que perderam outrora, fazendo cair assim à expectativa de lucro do primeiro empresário e reduzindo a sua EMC. 

Assim sendo, somos já capazes de unificar a primeira parte da explicação com a segunda, se a eficiência marginal é crescente, a renda é crescente, contudo esse crescimento é limitado. A forma que isso se manifesta é o decréscimo posterior da EMC e a taxa de juros deve cair nessa mesma proporção para que continue havendo estímulo ao investimento, caso contrário, o preço do capital pra reposição ou adição, se tornará alto em demasia limitando a expectativa de lucro futuro.

Muito se espalhou por aí que Keynes seria contra a poupança, o que não é verdade, Keynes não é contra a poupança, ao contrário, ele assume a lógica clássica de que poupança é igual ao investimento, com uma diferença, porém. Poupança é apenas potencialmente igual ao investimento. Se a taxa de juros não cai na mesma proporção do decréscimo da EMC, passa haver poupança inutilizada que acabará aumentando seu tamanho pelo rentismo ao invés do investimento. A isso se dá o nome de entesouramento. Se Keynes fosse contra a poupança, seu sistema não funcionaria, pois ele parte da premissa de que é necessário haver poupança para haver investimento, contudo, se a poupança excede o investimento, não se chega à condição de pleno emprego, ponto em que a lógica clássica funciona adequadamente.

Sim, para Keynes a teoria clássica não é perfeita, pois ela parte do princípio de que tudo que é produzido é consumido (Lei de Say) e que, com isso, não pode haver superprodução. Outra consequência da lógica clássica é que o desemprego é sempre voluntário e que não há desemprego involuntário. Dessa forma os clássicos acreditavam que a livre concorrência completamente desregulada levaria sempre ao pleno emprego, pois quem não procura emprego não pode ser considerado desempregado (lógica similar à do governo Dilma). Desta forma, qualquer situação em que houvesse desemprego em massa ou superprodução, não se deveria às relações de troca do laissez faire e sim de alguma intervenção do Estado que limitou essas relações ou prejudicou a previsibilidade da economia.

Contudo isso não é verdadeiro, os empresários produzem com base na expectativa de lucro, ou seja, na renda potencial que corresponde a uma demanda potencial, porém, a demanda potencial depende da quantidade geral de demandantes que é diferente da demanda potencial; se como pontua Say, a oferta ao remunerar um trabalhador cria sua própria demanda, então, o consumo e a demanda deste mesmo empresário dependem do volume de pessoas empregadas. Daí, em contraposição ao ponto de demanda potencial, Keynes percebe um conceito que, talvez desconhecido por ele, já havia sido adiantado pelo economista, filósofo e escritor inglês G.K. Chesterton em “Um esboço da sanidade”, o princípio da demanda efetiva. 
Quando a maioria dos homens é assalariada, torna-se mais difícil que a maioria deles se tornem clientes. Pois o capitalista está sempre tentando cortar o que seu funcionário lhe exige e, ao fazê-lo, está a cortar o que seu cliente pode gastar. Assim que vê seu negocio em dificuldades, como é o caso atual do ramo de carvão, ele tenta reduzir seus gastos nos salários, e ao fazê-lo acaba por reduzir o que os outros tem pra gastar com carvão. [...] É um círculo vicioso no qual a sociedade assalariada há de finalmente afundar ao começar a abaixar lucros e abaixar salários;[...] (CHESTERTON, 2016, p.30)
A demanda efetiva só é diferente da demanda potencial por dois aspectos: pela dificuldade que a taxa de juros às vezes encontra em cair na mesma proporção da EMC, e pelas variações da PMC no tempo.

Mas porque a taxa de juros nem sempre acompanha a queda da EMC? São duas razões principais: A incerteza e a própria natureza da comoditty moeda. Vamos primeiro explicar a teoria keynesiana do juro antes de colocar estes dois elementos na equação.

Na teoria clássica, sempre que alguém poupa dinheiro é abrindo mão do consumo presente pelo consumo futuro. Na teoria keynesiana não é assim, as pessoas poupam não só para consumo futuro, mas devido a incerteza. Os juros na perspectiva de John Maynard Keynes são o preço do dinheiro, o preço da iliquidez. As pessoas podem escolher ter dinheiro ao seu alcance (preferência pela liquidez) ou abrir mão dele (iliquidez) por uma série de fatores, que Keynes elenca como sendo os seguintes motivos:

·         Motivo transação: As pessoas podem escolher ter uma determinada soma de dinheiro nas mãos para consumir, pagar contas, ou alguns tipos de investimento. Este ocorre com mais frequência nas fases de crescimento, o motivo transação começa a perder importância nos períodos em que o aumento da renda, seguido pelo aumento do juros, faz ser atrativo poupar.

·         Motivo precaução: Quando as pessoas desejam manter uma determinada quantia em dinheiro ao seu alcance para possíveis infortúnios futuros, como por exemplo, uma enfermidade ou o medo de uma crise. Esse é um motivo frequente em todos os períodos, contudo, ele é menor na bonança do que nos períodos de pico, prestes a queda.

·      Motivo especulação: Este é o que Keynes pontua como decisivo para a taxa de juros, que é em si mesmo a preferência pela iliquidez, que é quando os especuladores e investidores apostam no futuro da taxa de juros com base nas informações que têm a sua disposição. A incerteza sobre o futuro, a imperfectibilidade das informações, despertam os animal spirits que Keynes sempre menciona nos investidores. Os investidores agem mais por instinto do que por alguma logica racional em boa parte dos casos. Como o sul coreano Ha-Joon Chang pontuou em seu livro “23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo”, os acionistas de uma empresa são a parte menos confiável e segura de um empreendimento, pois para que pulem do barco basta um click no computador. É aqui que entra a incerteza. Na queda, do lado da oferta agregada, esse motivo é o mais corrente, pois o juro alto e o temor da crise faz com que os empresários apliquem o dinheiro na poupança e em títulos públicos do governo, apostando no juro alto.

O outro ponto é a natureza mesma da moeda. O dinheiro é um produto cuja demanda sofre de uma inelasticidade que lhe é inerente. Como em geral, nas economias modernas, o dinheiro não é produzido pelos empresários (não havendo contratação de trabalhadores para produzi-lo, nem competição de moedas), o resultado é que as pessoas são obrigadas a usar esta moeda independente de seu preço (juros). É claro que a demanda por moeda varia de acordo com seu preço, mas varia muito menos do que os preços dos bens convencionais por estes terem maior elasticidade. Com isso, a taxa de juros cai pouco, pois em dado momento a demanda por dinheiro não se altera em função da taxa de juros, ponto em que surge a liquidity trap

Mas não se anime libertário, mesmo que houvesse competição de moedas, a inelasticidade do dinheiro ainda seria maior que a de qualquer outro bem, pois como é uma comoditty universal de trocas, é o bem mais demandado e em maior velocidade, e as moedas mais eficientes desapareceriam rapidamente do mercado levando no final a uma apenas e aos mesmos problemas (Lei de Gresham). Outro aspecto é que o aumento no numero de moedas aumenta a complexidade do sistema como um todo, o que é favorável à especulação, que gera incerteza e produz com isso bolhas de ativos e crises. O exemplo mais notório de algo próximo de um free banking que se tem notícias foi à Austrália do fim do século XIX, cuja experiência pode ser encontrada aqui. A constante entrada de novos players e saída dos mesmos acabaria favorecendo o sistema de irresponsabilidade perante os riscos que o economista Hyman Misnky demonstrou na sua Hipótese de Instabilidade Financeira.

O aumento de investimento provocado por uma redução cuidadosa e meticulosa da taxa de juros gerará maior demanda, e também maior número de contratações aumentando assim os postos de trabalho. O aumento do consumo leva enfim ao aumento do emprego e da renda. Resta saber que na teoria keynesiana, quando se fala em consumo, não se fala exclusivamente do consumo das famílias, mas também das empresas, pois o investimento nada mais é do que o consumo dos empresários.
Outro erro que se costuma cometer em relação a Keynes é que ele pregava impostos altíssimos para os empresários como forma de espolia-los, dando a impressão de que Keynes era um socialista e quisesse expropriar os meios de produção. Quando Keynes advogava impostos mais altos para os mais ricos não era pra que o Estado enriquecesse às custas deles (o que seria um contrassenso na lógica keynesiana), e sim para que com isso se desestimulasse a poupança, aumentando assim a PMC. Esse erro deriva de uma má compreensão ou de uma compreensão errada proposital do economista argentino e cepalista Raúl Prebisch[1], que tomou as palavras de Keynes como hostilidade total a poupança das classes ricas. Durante o pós-guerra muitos países de inspiração keynesiana como a Suécia extrapolaram nesse sentido, o que levou à má fama de Keynes. A Inglaterra chegou a tributar em 85% a renda dos mais ricos e a Suécia em 102%. Keynes mesmo, com pontua Dudley Dillard, um economista keynesiano na sua obra resumo da de Keynes, era contrário a impostos demasiadamente altos:
Outra limitação à redistribuição da renda mediante o imposto progressivo é o perigo de que a taxação elevada possa desestimular a inversão privada, da qual depende primacialmente a economia capitalista para cobrir a disparidade entre a renda e o consumo nos altos níveis de emprego. (DILLARD, 1986, p.77)
Keynes também não era o gastador que usualmente se pinta, ao contrário, Keynes queria que os Estados fossem fiscalmente bastante responsáveis na bonança, mantendo seus orçamentos dentro das estritas normas de austeridade para que em períodos recessivos que Keynes cria serem inerentes ao capitalismo, mesmo na sua forma keynesiana que Keynes de maneira alguma julgava perfeita, o Estado pudesse entrar como investidor minimizando os impactos da crise. Por isso se dá o nome de medida anticíclica a esse tipo de política. Neste ponto, o multiplicador de investimentos mostra como uma dada ação do Estado em um determinado ponto da economia é capaz de gerar novos investimentos.

Keynes também não era um grande entusiasta de empresas estatais, ao contrário do que se costuma propagar por aí na boca de economistas irresponsáveis. Ao contrário, até as via como úteis em algumas situações muito raras, mas Keynes preferia que o Estado atuasse como e com o apoio das empresas privadas.

Hoje a grande maioria das escolas econômicas ortodoxas e mesmo algumas heterodoxas aceitam a existência de politicas anticíclicas em proporções diferentes e com formas distintas. Umas apostam mais nas políticas fiscais, outras nas políticas monetárias e algumas ainda na política cambial. Em resumo, esta é a teoria de Keynes dentro das limitações que um texto de seis páginas permite, tentei ser bastante sincero dentro da maneira que achei melhor expor, espero que seja de boa orientação a quem quer que deseje entender o pensamento deste economista, e assim como o pensamento neoclássico serviu de base para a construção da economia social de mercado justamente à DSI, o pensamento de Keynes também contribuiu para isso na sua aprte macroeconômica, como pontua o professor Marcelo Resico da Universidade Católica Argentina em seu livro “Introdução a Economia Social de Mercado”.

Referência:
DILLARD, Dudley. A teoria econômica de John Maynard Keynes. São Paulo: Pioneira, 1986.
PREBISCH, Raúl. Keynes: uma introdução. Brasília: editora brasiliense, 1991.
KEYNES, John Maynard. A Teoria Geral do emprego, do juro e da moeda. Brasília: UnB, 2011.
CHESTERTON, Gilbert Keith. Um esboço da sanidade: pequeno manual do distributismo. Campinas: Ecclesiae, 2016.


[1] Cf. PREBISCH, 1991, p.20

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Minsky contra a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos

Tradução de Hugo Rossi de um artigo do Social Democracy on 21st century (obs).

Duas postagens aqui tentaram conectar a hipótese da instabilidade financeira de Minsky e a Teoria austríaca dos ciclos econômicos nos termos de suas visões de crédito e ciclos econômicos:
Enquanto ambos se preocuparam em desestabilizar o papel do crédito monetário endógeno, eu permaneço cético com as tentativas de os conectarem.
A teoria Austríaca dos ciclos econômicos é uma teoria do equilíbrio cuja preocupação reside nas (supostas) distorções reais no setor de bens de capital da economia causada pelo desvio da taxa bancária de interesse a partir de uma imaginária taxa de juros natural wickselliana. A teoria também requer premissas irreais sobre a natureza do capital. Primeiramente, é questionável se a maioria dos bens de capital podem ser categorizados de forma útil em “ordens” maiores ou menores, e, segundamente, capital heterogêneo também pode ter um grau significante de durabilidade e substituibilidade. A estrutura do capital em uma economia capitalista, onde achamos alguns importantes graus de adaptabilidade, versatilidade e durabilidade na natureza dos bens de capital, dá a entender que a fase de “estouro” da Teoria Austríaca dos ciclos econômicos é uma explicação grosseira e pouco convincente para qualquer contração no mundo real.
Além disso, a Teoria Austríaca dos ciclos econômicos é dependente de uma tendência de equilíbrio pela qual a taxa de desconto bancário vai retornar para a imaginaria taxa de juros natural, e assim limpar o real mercado de bens de capital. Todas essas coisas são apenas desnecessárias teorizações sobre o equilíbrio, irrelevantes para o mundo real.
Mas o que é ainda pior é que a Teoria Austríaca dos ciclos econômicos tem pouca preocupação com as crises financeiras ou bolhas de ativos, o fenômeno econômico do mundo real associado com sistemas financeiros pouco regulados.
Diferentemente disto, a teoria de Minsky presta atenção tanto às crises financeiras quantos às bolhas de ativos e é uma teoria superior, sem sombras de dúvida. Apesar de alguma influência das teorias do equilíbrio de Schumpeter, a hipótese da instabilidade financeira de Minsky não exige realmente suposições ou efeitos de equilíbrio geral.
Karen I. Vaughn identificou a maior falha da moderna teoria Austríaca a este respeito: “Mises nunca discute a possibilidade de erros especulativos sistêmicos, exceto no contexto de sua teoria dos ciclos econômicos, na qual especuladores e investidores são enganados por sinais monetários impróprios emanando de uma reserva fracionaria bancária. No entanto, se o futuro não pode ser previsto, ou como Schakle diria, se “o futuro é criado a partir das ações do passado”, por que isto não é ao menos possível de se conceber para atividades especulativas que estão incorretas em "rede" ao menos por algum tempo? Certamente, nós temos a evidência empírica de bolhas especulativas que são endógenas para os mercados como na hipótese da instabilidade financeira. Alguém poderia pensar que o alcance e potencial dos fatores limitantes que afetam tais instabilidades endógenas seriam de grande importância para o completo entendimento das ordens de mercado, mesmo assim é um problema surpreendentemente omisso na literatura Austríaca. Por isso, embora possamos apreciar a força do argumento de Mises até certo ponto, parece que uma parte crucial da defesa de um funcionamento efetivo da economia de mercado está faltando.” (Vaughn. 1994: 87-88).
Finalmente, acredito que a declaração de Finegold Catalán é de valor inestimável:
“Pelo que entendo, a posição de Misnky é que o ciclo do crédito garante seu próprio sustento, a medida que a expansão continua do crédito é necessária para maximizar o lucro. Maior expansão do crédito implica em queda dos padrões de crédito, por sua vez, aumentando o risco da carteira de crédito dos bancos. Em uma perspectiva macroeconômica, quanto maior a expansão do crédito, maior o risco de um choque financeiro. O sistema bancário não pode se auto regular, pois não há incentivo para o ser, e, portanto, o governo precisa regular a industria de forma que ela atinja uma quantidade de risco ótima.
Não considero essa teoria, ao menos exposta desta maneira, muito convincente. Primeiramente, não é claro porque risco crescente (e.g. uma crescente probabilidade de perder) não age como um incentivo para restringir uma carteira de empréstimos. Segundo, empiricamente, há pouca evidência que bancos ignoram os riscos.”.
O que? Realmente há “pouca evidência que bancos ignoram os riscos” na mais recente bolha imobiliária? Só posso concluir que o empréstimo mentiroso e empréstimos NINJA (do inglês, sem renda, emprego ou ativos) escorregaram da sua mente.
Quanto ao “crescimento do risco (e.g. um crescimento da probabilidade de perda)” agindo como “um incentivo para restringir a carteira de empréstimo”, alguém pode se perguntar porque em numerosas crises financeiras na história os bancos carregaram ativos podres ou jogaram fora empréstimos para especuladores sem muito interesse em restringir suas carteiras de empréstimo. A bolha imobiliária da Austrália em 1880 imediatamente vem à cabeça.

BIBLIOGRAFIA
Vaughn, K. I. 1994.
 Austrian Economics in America: The Migration of a Tradition. Cambridge University Press, Cambridge and New York.
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OBS:
Este não é um blog de esquerda ou social-democrata, mas acreditamos que ambos os lados do espectro possuem ideias que estão correctas ao menos em parte, por isso, por questão de honestidade intelectual, este blogue compartilha alguns textos mesmo que partam de lados distintos do espectro político.