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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

A pandemia é um complot para ajudar a China ou favorecer a Globalização através do Grande Reset? Respondendo aos conspirologistas ralés!

 
O vírus não é uma conspiração pois estas são feitas de ações humanas controláveis por uma rede oculta enquanto o vírus é uma moléstia sobre a qual o homem não tem controle, mas as medidas que envolvem seu combate podem, por vias indiretas, favorecer a idéia de um globalismo político ou, caso ele não decole, favorecer a China, mas isso está em aberto coisa que os teóricos da conspiração rastaquera não entendem. Vejamos: 

1. A Covid-19 ajuda a Globalização? 

Não. O corona trouxe muitos prejuízos a globalização, fronteiras fechadas, cadeias produtivas paradas, etc. Isso não ajuda em nada a globalização mas exige antes que os estados nacionais fechem fluxos e comércio para assegurar o bem estar sanitário interno. Então esse pessoal que fala de corona como complot global, vírus criado para favorecer globalização, etc, não sabe como funciona a globalização, porque uma crise dessa pode despoletar uma nova onda nacionalista anti-global. Não há como prever um resultado favorável ao globalismo simplesmente lançando um vírus no planeta por que os efeitos disso não são perfeitamente controláveis. 

2. Elites globais apostam no vírus para levar adiante seus planos? 

Não. Isto tanto é verdade que no começo da pandemia intelectuais pró globalização como Yuval Harari argumentavam que era preciso continuar acreditando na globalização e que os países deviam colaborar pela solução em vez de competir por uma vacina, em razão do medo duma onda nacional que pusesse em xeque duma vez a integração global. 

3. O vírus foi criado para impor o Great Reset do Fórum Econômico Mundial? 

Não. Quanto ao Reset, isso é uma tentativa de salvar a globalização econômica que está severamente comprometida pelo Covid-19 via uma globalização política pois como dissemos todo mundo fechando fronteira é perigoso para o projeto novordista. Por outro lado a não solução da Pandemia força a transição imediata para um novo modelo de economia mais digital que só tem condições de se impor via plataformas de Bigdata. Vejam como a história é contraditória e dialética; o que vai sair disso não sabemos; por isso que essa leitura conspirologista ralé da direita de que Covid-19 foi criada para favorecer China ( Bigdata está sediada no Vale do Silício e não em China ) é burrice: a coisa não é simples. Direitistas não entendem como funciona a globalização. Ela precisa de cadeias de produção e comércio internacional que ficam ameaçadas com a paralisia. Perante isso propor um reset funciona como instrumento para redesenhar a globalização com base em compartilhamento de plataformas digitais, ou seja, um capitalismo colaborativo. A reunião do Fórum Econômico é agora em Janeiro de 2021. O que eles querem é apresentar mecanismos de colaboração tecnológica entre países para facilitar a vitória sobre a pandemia e assim gerar um novo formato de competição onde a compartilhamento de dados, possa estimular a pesquisa e a criação de soluções para o "novo normal". Um exemplo disso é a questão energética que emergiu esse ano quando ficamos com de navios parados nos mares cheios de petróleo sem poder descarregar por que portos estavam fechados e por que tudo estava parado gerando reduzidíssima demanda por combustível. Então o Fórum quer aproveitar o quadro para caminhar na direção do tal capitalismo verde, ou seja, não tem nada a ver com Conjuração de Pequim que vai ter que se virar do avesso para entrar nesse capitalismo verde já que é hoje a grande emissora de carbono 

4. Globalistas criaram o vírus propositalmente? 

Não é possível afirmar isso sobretudo porque no começo ninguém queria fechar nada; Milão que é uma cidade globalizada da moda não fechou e o norte da Itália acabou vendo centenas de mortos dia e só quando a pressão sobre os hospitais e a falta de leitos foi sentida é que os prefeitos decidiram brecar a coisa. Quer dizer, essa gente não sabe sequer descrever como os fatos aconteceram mas se acha habilitada a falar de conspirações. Em suma, são ignorantes. 

5. O vírus não seria um complot de forças ocultas para promover medidas de controle? 

Ações ocultas até existem mas o vírus é real, as mortes são reais e as medidas só foram tomadas a contragosto, a OMS mesmo em fevereiro disse que não era para fechar nada, demorou a decretar pandemia mesmo com o vírus em mais de 50 países; os poderes econômicos não queriam fechar pois sabiam do prejuízo que ia trazer; nenhum globalista queria esse fechamento mas já que ele veio por força das circunstâncias viram nisso a oportunidade de transitar para um novo modelo de economia digital que pode facultar uma retomada de investimentos que tire o mundo da paralisia e salve a globalização pois pandemia impõe mitigações e isolamentos e, por tabela, falta de previsão o que breca investimentos pela impossibilidade de planejar mesmo a curto prazo. 

6. Bilionários estão se dando bem com a pandemia? 

Depende. Os bilionários do setor informacional se deram bem, os do setor petrolífero não, há bilionários e bilionários nem todos tem os mesmos interesses, o setor têxtil perdeu muito, o de carros idem. Muitos bancos tiveram prejuízos líquidos gigantescos como foi o caso do Santander que registrou 11,3 bilhões de euros de perdas; o sistema bancário enfrenta riscos de inadimplência então o cenário não é tão positivo assim mesmo para os grandes bancos como podemos ver aqui.

7. Por que a direita liberal conservadora não entende do que se passa no mundo quanto a Covid-19? 

A direita libcon está apavorada com o Great Reset mas só ele pode impedir que o Ocidente que ela quer salvar perca a guerra pela Hegemonia Global para a China. Explico. 

A China teve no primeiro trimestre uma retração de 7 por cento, a primeira em meio século. Agora as previsões são de crescimento de cerca de 1.9 por cento frente a retração do PIB global em 4.4 por cento. Neste ritmo a China supera os USA em 2028. Se o Grande Reset do Fórum Econômico Global conseguir impor o capitalismo verde então a China vai ter problemas pois vai precisar duma reestruturação completa de seu parque produtivo para competir no mercado global e é óbvio que as potências do Norte estão mais aptas a disputar a Hegemonia num Capitalismo Verde que a China pois ela ainda se estrutura na economia do carbono. 

Ou seja, a direita precisa torcer pelo Grande Reset se quer salvar o tal “ocidente” da ameaça chinesa. 

Eu não torço pelo Reset do Fórum Econômico nem pela China. Torço pelo fim da globalização. Acontece que a direita não tem outra alternativa senão apostar no Reset na medida em que quer "salvar o Ocidente" pois hoje o Ocidente é o capitalismo liberal e só um Reset com base em tecnologia e digitalização pode criar um novo dinamismo ao capital ocidental que impeça um domínio chinês em breve. O que, obviamente mostra a insanidade das posições da direita que rechaça o reset por ser globalista mas apoia o bloco ocidental que é globalista, o que mostra que não passa de oposição controlada. 

8. Se o Corona não constitui parte dum complot o que ele representa em termos de política internacional? 

A crise gerada por ele está sendo usada, de certa maneira, para realizar uma transição que salve o capitalismo global. Se vai dar certo não tem como saber mas para o bocó conspiracionista de plantão imagina que os próximos capítulos já estão escritos. Evitem esse tipo de idiotas. Ninguém tem esse poder de determinar previamente fatos, se globalistas tivessem tal capacidade seriam deuses e já não haveria nada a fazer para confrontá-los, este tipo de posição só favorece um pavor que estimula o derrotismo. Qualquer ação política nacional consistente contra medidas globais precisa estar estribada em conhecimento do real contexto internacional e não em fantasias que só tem potencial de juntar retardados ou de desmobilizar através da desesperança. E tal politica não pode ser calcada em rechaço automático a qualquer medida sanitária mesmo quando tenha um cariz nacional para evitar que o estado nacional fique paralisado em sua dinâmica econômica interna. 

#Rafael Queiroz

domingo, 20 de dezembro de 2020

O Discurso do "Tudo muda"


O presente artigo de autoria de Augusto Pola Júnior, faz parte os arquivos do Instituto Shibumi, e fora publicado site do grupo em meados de 2013.

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Se há uma retórica estranha presente nas discussões atuais é o discurso de que tudo muda. Em qualquer tema de cunho social ou político, a tentativa de argumentação em cima do “tudo muda” provavelmente estará presente, seja de forma direta ou indireta. Tudo muda, logo não há problema em assassinar vidas inocentes nos ventres maternos. Tudo muda, logo tem que ser aprovado o casamento gay. Tudo muda, logo tem que censurar as manifestações religiosas em vias públicas. Enfim, tudo muda, então [insira qualquer coisa aqui].

Este tipo de retórica é falaciosa. A premissa do argumento permite que qualquer absurdo possa ser justificado. Não é um argumento, mas um sofisma. É o que se pode chamar de falácia non sequitur (“não se segue”), sentenças onde não há conexão entre a premissa inicial e a conclusão. A malandragem está em confundir condições suficientes com condições necessárias. Se houve determinada mudança (ex: abolição da escravatura), isso não significa que é necessário aceitar a descriminalização do aborto.

O contexto dessas falácias frequentemente está presente nas polêmicas contra a Igreja. Dizem os críticos que “a Igreja tem que se adaptar aos tempos modernos”, então tem que apoiar o casamento gay, aprovar o aborto, sexo antes do casamento, enfim, qualquer item anticristão e agradável a agenda que se autodenomina “progressista” (que na verdade é regressista). Note que o discurso do “tudo muda” está presente neste tipo de crítica e disfarçado em meias-verdades. De fato, a Igreja tem que se adaptar aos tempos modernos – ninguém melhor do que uma instituição com mais de 2000 anos de história para saber isso – mas sem abrir mãos das verdades ensinadas por Jesus Cristo. A Igreja possui verdades imutáveis, reveladas por Deus.

O que está por trás deste tipo de discurso “progressista” (que de progresso só carrega o paganismo) é o perigo do que o Papa emérito Bento XVI nos alertava e que já foi relembrado pelo atual Papa Francisco: a ditadura do relativismo. Cada vez mais o relativismo tenta se moldar como o norte do pensamento da sociedade pós-moderna. Conforme explica Stanley J. Grenz em seu livro “Pósmodernismo: um guia para entender a filosofia do nosso tempo”, o pós-modernismo é marcado por uma organização paradoxal do qual as pessoas estão globalizadas, decorrente do que se pode chamar de ‘era da informação’, e divididas, segundo interesses ou gostos, em diferentes tribos. A característica marcante destas tribos é que cada uma tem as suas verdades, ou seja, o critério da verdade passa a ser o que é mais bem aceito a cada grupo. Pode-se trocar de verdade como se troca de roupa.

A leitura de Grenz convergente com uma estratégia política arquitetada por Antônico Gramsci. Temos no teórico comunista um plano de obtenção de poder a ser precedido pelo domínio da hegemonia. Esta seria obtida de forma lenta e gradual pela ação de intelectuais orgânicos que, atuando nas mais diferentes áreas da sociedade, principalmente na cultura, trabalhariam para a mudança “senso comum”, moldando um poder invisível. O gramscismo não está preocupado com noção de verdade ou mentira, com o certo ou errado. O critério de escolha é o que é bom ou ruim ao detentor do poder. Muitos gostam de chamar esta forma de atuação de hipocrisia do governo, mas, na realidade, é apenas um eufemismo que camufla um perverso projeto de poder.

O discurso “tudo muda”, portanto, não se trata apenas uma falha lógica, mas é sintoma de uma sociedade rumo à aceitação de qualquer idéia, mesmo que contraditórias entre si. A falta de sentido tenta esconder um projeto de poder cuja intenção é revogar a percepção da realidade.