Desde
que fui convidado a escrever para o Grupo de Estudos Ludwig Erhard, venho
tentando encontrar um tema pertinente para discorrer. Após pensar (e dispensar)
diferentes temas, decidi escrever sobre algo que já vinha estudando a algum
tempo e que diz respeito muito mais a prática política cotidiana: a organização
das forças políticas de direita, ou como formar uma “frente”.
Pessoalmente
não alimento nenhuma falsa ilusão, porém não é segredo para ninguém que a Direita
no Brasil é extremamente fragmentada, sendo mais ou menos representada por um
partido de acordo com cada região. No sul do Brasil, onde resido, a força
partidária significativa mais inclinada para a direita é o Partido
Progressista, que por acaso sou filiado. Mas isso não se repete, por exemplo,
no nordeste, onde é o Democratas (e o Partido Progressista é aliado do PT). Onde
eu quero chegar com isso?
Se
as correntes alternativas ao consenso político esquerdista atual querem
fazer-se fortemente presentes na política nacional em um médio prazo, serão
necessárias algumas ações pragmáticas para ganhar momentum. Existem necessidades organizacionais que vão desde a de
um veículo partidário nacionalmente coeso, até programas de governo realistas
para executar quando um democrata-cristão chegar ao poder em um município, por
exemplo.
Não
é coerente negar a superioridade dos movimentos de esquerda na questão
organizacional na América Latina. Qualquer PCO da vida tem núcleos de estudos
bem divididos para várias questões pertinentes a eles, além de um veículo
noticioso (geralmente na internet) que dá sua versão para os fatos cotidianos e
políticos sob o prisma de sua corrente política. Aprendamos com eles. Além
disso, as esquerdas atuam em entidades como sindicatos, grêmios acadêmicos,
cooperativas agrícolas e até em igrejas. Fazem política 365 dias por ano,
enquanto as correntes de direita ou anticomunistas “saem das tumbas” de quatro
em quatro anos - para apoiar candidatos
que não gostam ou confiam completamente.
Grupos extrapartidário podem ajudar a superar
fragmentação
Uma
das maneiras que podem ser usadas para a superação deste problema da
pulverização ideológica da direita é a criação de um ou mais grupos
extrapartidários. Este think tank já
é um grupo extrapartidário, visto que congrega pessoas de diferentes filiações
partidárias e até com certa divergência ideológica. Mas a fundação do grupo
extrapartidário com outras atribuições, como propaganda ideológica, ação
social, atuação em partidos estabelecidos e criação de núcleos da Democracia
Cristã dentro dos mesmos, criação de site de notícias e opiniões, entre outras
iniciativas, podem levar a democracia cristã a influenciar os partidos, de fora
para dentro, a adotar a democracia cristã como norte de atuação.
Como
já foi exposto por Arthur Rizzi em outros artigos, acredito que a Democracia
Cristã e o Ordoliberalismo são as orientações políticas ideais para a direita
no Brasil, país majoritariamente Católico apesar de forte presença Protestante, e também pelas características do Estado Brasileiro.
Porém duvido que a formação de uma nova legenda partidária somaria em algo
atualmente, devido ao excessivo número de partidos e os interesses particulares
que dominam cada uma delas regionalmente.
Mas
apenas o grupo da Democracia Cristã seria insuficiente. São necessários diferentes
grupos extrapartidários em diferentes temas (economia, política externa, estudo
de conflitos militares recentes, problemas sociais) para a formação de uma “organização
guarda-chuva” da direita, que desta forma pode servir como embrião de um
partido de centro-direita. Não é realista para o momento histórico-político que
as forças anti-socialistas atuem de forma descoordenada pelo simples fato de
ainda serem insipientes.
Basta
lembrarmos que partidos europeus, como o Partido Popular espanhol, o CDU/CSU
Alemão, CDS-PP português, entre outros, nasceram desta maneira com
diversas correntes (liberais, conservadores, nacionalistas moderados,
democratas cristãos) representadas, dentro de um contexto histórico de forte
ofensiva esquerdista contra estas correntes. Assim,
através de grupos extrapartidários, que influenciem os partidos desde fora (a
atuação político partidárias dos membros torna-se essencial, mas apresentando
as propostas do grupo extrapartidário dentro de sua legenda de preferência)
pode ser uma das formas de dar algum tipo de coordenação ou base comum aos
conservadores, liberais e democratas cristãos espalhados por tantas legendas
nos quatro cantos do país.
Eis algumas atividades que poderiam ser
realizadas pelo grupo extrapartidário:
1 - Grupo de estudos para adequação das
propostas da Democracia Cristã à realidade nacional
São
necessários estudos de viabilização e adequação das propostas Democracia Cristã
ao ordenamento jurídico que rege a administração pública no Brasil. A
centralização do Estado Brasileiro, o pacto federativo atual e até a
intromissão dos Ministérios Públicos nas gestões municipais e estaduais limitam
e muito a margem de discricionariedade dos ocupantes de cargos executivos. Afinal
de contas, o espaço de manobra para um prefeito ou governador implantar algo
diferente do que é feito atualmente é muito pequeno.
Observação:
As vinculações das peças orçamentárias dos entes federativos à saúde e a
educação, por exemplo, além da folha de pagamento (que gira em torno de 50% de
uma prefeitura economicamente “saudável”) é um entrave para qualquer aporte de
maior monta a investimentos ou programas inovadores e/ou ideologicamente
orientados em direção diversa. O resultado é a necessidade dos prefeitos e
governadores buscarem financiamentos e aportes de receita proveniente do
Governo Federal e do legislativo, o que em muitos casos gera a “castração ideológica”
da maioria deles.
2 – Atuação Social
Um
grupo extrapartidário Cristã poderia e deveria atuar em ações sociais. A
internet facilitaria a difusão de conteúdo, documentos em .pdf ou audio/vídeo, educação
à distância, entre outras ações. Além é claro atuação em outras entidades da
sociedade civil que o membro pode estar inserido (igreja, universidade,
sindicato).
3 – grupos de pressão
A
Democracia Cristã pode atuar com outros grupos em diversas demandas. Diminuição
do estado junto dos liberais, ações pró-vida com grupos conservadores e
religiosos, entre outras demandas com outros aliados. O livre trânsito de ideias é necessário para
uma opção política marginalizada possa encontrar aliados potenciais em suas
diversas visões.
4 – Propaganda e contrapropaganda (autoexplicativo).
Este
não é nenhum modelo fechado e as formas de atuação podem variar de acordo com a disponibilidade de tempo ( até de dinheiro)
dos membros do grupo. Mas acredito neste modelo de atuação como forma de
aprofundar a ação política dos democratas-cristãos, assim como outras correntes
“marginalizadas” no Brasil, já que estas técnicas podem ser empregadas por
qualquer ideologia. É um pequeno passo. Quem sabe, estes grupos podem ser o
embrião de um grande partido de centro-direita para o Brasil. Qualquer sugestão
ou crítica a estas linhas é muito bem vinda.
Em
tempo, aproveito o espaço para desejar um feliz ano de 2016 para todos os leitores
do Grupo de Estudos Ludwig Erhard e aos simpatizantes da Democracia Cristã no
Brasil. Agradeço também ao Arthur Rizzi pelo convite para escrever neste espaço
e paciência para com a demora de postá-lo.