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quinta-feira, 11 de abril de 2019

Por que anti-liberais devem entrar no debate econômico.

Por Bóris

Quase sempre vejo os meus amigos nacionalistas e tradicionalistas criticando o liberalismo econômico, muitas vezes - talvez a maioria delas - de forma muito acertada e, n;ao raramente, se dando bem em alguma discussão com algum liberal. Só há um problema nisso: Os nacionalistas conservadores e os tradicionalistas quase sempre vencem por meio de uma argumentação meta-econômica.

Eu, como qualquer pessoa cuja visão de mundo de ampara no respeito à tradição, à religião e ao nosso modo de ser como povo, não desconsidero a importância da metafísica e dos conceitos de justo, injusto, bem e mal, aplicados ao domínio econômico. Hoje em dia, até economistas progressistas como o pós-keynesiano Richard Chase e o novo keynesiano Dani Rodrik se preocupam com estes aspectos. Contudo, impugnar do ponto de vista moral, teológico e metafísico o liberalismo econômico não basta.

Você pode dizer a um gatuno que roubar é um pecado,  que é um atentado ao sétimo mandamento; mas se sua situação dele for de pobreza, e se sua sociedade acima de tudo preza pelo consumismo ostentador, e se ele for uma pessoa psicologicamente abalável, as condições que permitem que ele furte bens e dinheiro, continuarão a existir.

Você pode agir como o teólogo moral e dizer - muito acertadamente - que ele deve contentar-se com o pouco que tem, pois, "de que vale ao homem conquista o mundo e perder a sua alma?" (Mt 8, 36). Mas vai se esquecer que, por vezes, a opulência dos ricos é motivo de escândalo para os pobres, e por isso mesmo, que se suas posses são razão de pecado, que é melhor abster-se dela. Não é o próprio apóstolo São Mateus que nos diz: "Se um dos teus olhos te faz pecar, arranca-o, e lança-o fora de ti, pois melhor é entrares na vida com um olho só, do que, tendo os dois, seres lançado no fogo eterno" (Mt 18:9)? Ou esquecer-nos do jovem rico? "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus "(Lc 18, 24-25).

Esse é o poder transformador social do cristianismo, é a única religião que entende que embora o pecado seja individual, que um homem não peca sozinho. Afinal, foi Eva quem levou Adão a pecar. Logo, o cristão deve reformar a sociedade segundo os princípios do evangelho, pois mais facilmente almas se salvarão se assim o fizer.

A economia:

Assim, quando se argumenta apenas por critérios teológicos e morais, o cristão apenas invalida algo, mas nada propõe para por no lugar. Isso tem dois resultados:
1- No caso do liberal-conservador, que tem mais afeto a uma ideia de tradição do que à verdade moral transcendente, e que vê a religião como adorno de uma cultura e de um dasein duginiano; a consequência é que ele apelará ao pragmatismo, a praticidade e ao curto-prazismo para continuar a pregar seu erro.
2- No caso do católico liberal, que enfrenta um drama emocional e existencial de casar modernidade e tradição, estará dando a ele a oportunidade de, igual ao liberal-conservador, de sustentar o liberalismo como a solução prática "mais próximo do ideal" católico manifesto na DSI. É óbvio que isto se trata de um viés cognitivo, pois nas abordagens trabalhistas clássicas também existem respingos da verdade, tantos quanto os liberais. É bem verdade que o comunismo é um pecado maior que o liberalismo. Contudo, o socialismo mitigado é condenável na mesma proporção do liberalismo, tanto que ao passo em que nada a Igreja reconheça de justo no comunismo, a Igreja ao menos reconheceu alguns respingos de verdade no trabalhismo:
Por este caminho podem os princípios deste socialismo mitigado vir pouco a pouco a coincidir com os votos e reclamações dos que procuram reformar a sociedade segundo os princípios cristãos. Estes com razão pretendem que certos géneros de bens sejam reservados ao Estado, quando o poderio que trazem consigo é tal, que, sem perigo do mesmo Estado, não pode deixar-se em mãos dos particulares. Tão justos desejos e revindicações em nada se opõem à verdade cristã, e muito menos são exclusivos do socialismo. Por isso quem só por eles luta, não tem razão para declarar-se socialista. (Pio XI - Quadragésimo Anno)
Em outras palavras, o católico liberal em nada é melhor que o teólogo da libertação.
Por fim, é importante argumentar economicamente, pois assim dar-se-á respostas práticas para problemas práticos. E também, se ocupa para a verdade cristã mais um espaço - da praticidade e da realpolitik - impedindo assim que o erro se instale no seio dos movimentos em consonância com a tradição cristã, sejam eles mais focados na nacionalidade ou na tradição, sob o pretexto do realismo político.

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