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sábado, 7 de novembro de 2020

Integralismo e nazismo: O Sigma em oposição à Suástica

            

Posse de vereadores integralistas em São Lourenço, MG. Década de 1930. .

            Há alguns dias tivemos o grande desprazer de assistir, no portal YouTube, a um vídeo do History Channel intitulado Como a ideologia do nazismo invadiu o Brasil e contendo a afirmação de que os brasileiros que se identificavam com a ideologia nazista criaram, na década de 1930, a Ação Integralista Brasileira.

         Ora, não poderia haver afirmação mais absurda do que essa. Com efeito, Plínio Salgado, criador e Chefe Perpétuo do Movimento Integralista, sempre atacou duramente o nazismo, assim como o racismo, elemento básico de tal ideologia, já condenando no Manifesto de Outubro, documento fundamental do Integralismo, o racismo dos pequenos e grandes burgueses citadinos de nosso País, que, em seus dizeres, se envergonhavam “do caboclo e do negro de nossa terra” e desconheciam “todas as dificuldades e todos os heroísmos, todos os sofrimentos e todas as aspirações, o sonho, a energia,  a coragem do povo brasileiro”, vivendo “a cobri-lo de baldões e de ironias, a amesquinhar as raças de que proviemos”.[1] A propósito, cumpre ressaltar que o aludido Manifesto, autêntica Magna Carta do Integralismo, não se inspira e fundamenta de modo algum no nazismo, mas sim nos ensinamentos perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e nas lições de grandes pensadores brasileiros, a exemplo de Alberto Torres, Jackson de Figueiredo, Farias Brito, Oliveira Vianna, Pandiá Calógeras e Eduardo Prado.[2]

         No dia 24 de abril de 1934, Plínio Salgado dirigiu aos integralistas uma carta em que explicou muitíssimo bem o sentido do seu e nosso nacionalismo, condenando vigorosamente o jacobinismo, a xenofobia e o racismo e proclamando que a animosidade racista contra os judeus é anticristã e, como tal, condenada pelo Catolicismo e que a guerra movida contra os judeus na Alemanha era, “nos seus exageros, inspirada pelo paganismo e pelo preconceito de raça”. Em suas sábias palavras, que ora fazemos nossas, “o problema do mundo é ético e não étnico”.[3]

Foi esta, de acordo com Gerardo Mello Mourão, a primeira denúncia de peso, no Brasil, contra o antissemitismo e a perseguição aos judeus na Alemanha hitlerista[4] e por ela Plínio Salgado se tornou, de acordo com Hélio Rocha, o primeiro escritor e intelectual de vulto brasileiro e latino-americano que rompeu fogo contra a ideologia nazista.[5]

Em dezembro de 1935, Plínio Salgado escreveu a sua célebre Carta de Natal e fim de ano, monumental e pioneiro libelo contra os erros do nacional-socialismo, publicada no jornal integralista A Offensiva, do Rio de Janeiro.

Na referida Carta, Plínio Salgado, tendo denunciado vigorosamente as tendências racistas, totalitárias e pagãs do nacional-socialismo e o verdadeiro endeusamento do Führer por seus adeptos, ressaltou que os integralistas distinguem o “campo religioso da área política”, concebendo a autoridade “não segundo o furor místico, exacerbado, doentio dos adeptos em torno do Chefe, porém como um princípio de manutenção das estruturas orgânicas da sociedade”.[6]

         Aos 14 de fevereiro de 1936, ao ser informado da prisão pelos nazistas de mais de cento e cinquenta sacerdotes católicos e de centenas de membros de associações católicas, Plínio Salgado voltou a abrir fogo contra o nazismo, desta vez no artigo Nacional-socialismo e Nacionalismo Cristão, publicado no jornal A Offensiva. Seguem alguns trechos de tal artigo, que revelam claramente a posição de Plínio Salgado e do Integralismo em face do nacional-socialismo:

No caso da Alemanha, não tenho dúvidas (pelo que tenho lido nos livros nazistas, notadamente no livro de Hitler, Minha Luta, e pelo que eu tenho deduzido das medidas e iniciativas governamentais), que o governo hitlerista está, sem dúvida nenhuma, infringindo as mais sagradas leis naturais e humanas e dando lugar a que os católicos, ciosos do livre arbítrio e da intangibilidade da personalidade do homem e de sua família, se rebelem contra o Estado. (...) O ascetismo, a mística, a super-humanização do tipo “Führer”, a sua divinização ao ponto de o considerarem, os mais exaltados, a encarnação de Odin, exprime um artificialismo político que foge de toda a base e equilíbrio da razão humana (...). Em torno do “Führer”, longe de se encontrar o meio religioso, encontra-se o ambiente de um nacionalismo pagão, o clima das ressurreições olímpicas de Juliano, o apóstata. Nós, os integralistas, que somos coisa absolutamente diferente do nazismo e do fascismo, não nos cansamos de dizer que o nosso fundamento é o fundamento cristão. Repetimos mil vezes que jamais caminharemos num rumo pagão, jamais deixaremos de ser um movimento, preliminarmente espiritual, em seguida, social-revolucionário, e, sustentando aqueles dois rumos, colocamos os imperativos da nacionalidade dentro da qual encontramos ainda as mais sólidas tradições de cristianismo...[7] 

Aos 27 de maio do mesmo ano de 1936, Plínio Salgado observou, no jornal A Offensiva, que o partido nazista atuava em Santa Catarina sem qualquer restrição, tendo plena liberdade para desfilar, realizar reuniões e pregar suas ideias, enquanto os integralistas já não dispunham de tal liberdade. Tendo ressaltado que o Integralismo se batia contra a existência de organizações hitleristas em nosso País, evocou o Chefe Nacional do Movimento Sigmático o fato de que o Integralismo estava conquistando com grande êxito os descendentes de alemães para a Pátria Brasileira, mostrando-lhes que eram antes de tudo brasileiros, enquanto os nazistas procuravam integrá-los na pátria de origem, desejando que se sentissem alemães e não brasileiros.[8]

Na obra A Doutrina do Sigma, de 1935, escreveu Plínio Salgado que “o Integralismo é completamente diferente do Fascismo e do Hitlerismo”[9] e que

Os ignorantes, que nunca leram as obras integralistas, quando falam em público sobre essa doutrina, não reparam que estão se expondo a um ridículo tremendo, ao afirmar que o Integralismo é uma cópia do fascismo.[10]

Ora, se já caem num tremendo ridículo aqueles que afirmam que o Integralismo é uma cópia do fascismo, em ridículo ainda mais tremendo caem aqueles que sustentam que é este Movimento essencialmente cristão e brasileiro uma cópia do nazismo ou mesmo minimamente inspirado neste.

Isto posto, faz-se mister sublinhar que não apenas Plínio Salgado, mas todos os principais pensadores integralistas condenaram o racismo nazista e o totalitarismo. Com efeito, tratando das profundas diferenças existentes entre o nazismo, o fascismo e o Integralismo, salientou Gustavo Barroso que cada um de tais movimentos possui a sua “doutrina própria” e “obedece a realidades humanas diferentes, que só os ignorantes ou os de má-fé negam ou escondem”,[11]   tendo, ainda, frisado que “o Estado nazista” é pagão e baseado “na pureza da raça ariana, no exclusivismo racial”, ao passo que “o Estado Integralista”, alicerçado “na tradição da unidade da pátria e do espírito de brasilidade”, é “profundamente cristão” e “combate os racismos, os exclusivismos raciais”.[12]

            Da mesma maneira, no artigo Nós e os fascistas da Europa, dado à estampa na edição de abril-maio de 1936 da revista Panorama, de São Paulo, Miguel Reale, Secretário Nacional de Doutrina da Ação Integralista Brasileira, havendo deixado claro que o Integralismo não aceita a tese nazista da superioridade racial ariana, assim escreveu:

Nós brasileiros devemos nos libertar do jugo do capitalismo financeiro e do agiotarismo internacional, sem que para isso abandonemos os princípios éticos para descambarmos até aos preconceitos racistas. A moral não permite que se distinga entre o agiota judeu e o agiota que diz ser cristão; entre o açambarcador que frequenta a Cúria e o que frequenta a Sinagoga. O combate ao banqueirismo internacional e aos processos indecorosos dos capitalistas sem pátria, justifica-se no plano moral. E quando a pureza da norma ética está conosco, não se compreende bem qual a necessidade de outras justificações, que podem ser de efeito, mas que certamente são discutíveis.[13]

         No artigo O Integralismo e os judeus, publicado no jornal A Offensiva aos 13 de dezembro de 1934, o mesmo Miguel Reale já afirmara que “o Integralismo mantém-se alheio a todo e qualquer preconceito de raça, preferindo julgar o homem, não pelos aspectos exteriores da cor, ou do formato dos crânios, mas pelos valores morais e cívicos”, e que “a tese racista não está, nem nunca esteve, dentro das nossas cogitações”.[14]

         Em outro trecho do supramencionado artigo, Miguel Reale assim asseverou:

No Brasil, onde se reúnem e se fundem todas as etnias para dar ao mundo o homem cósmico da civilização americana tropical, a teoria das raças superiores revela-se em toda sua fraqueza. Já tivemos e temos provas do poder do homem negro no campo da ciência, da arte e da política. e a participação na vida cultural do país de fileiras de imigrantes antigos ou recentes com o seu acendrado amor à terra nativa mostra de sobejo a relatividade de tão decantada voz do sangue.[15]

         O magno poeta e pensador católico e integralista Tasso da Silveira, na obra O Estado Corporativo, de 1937, ao condenar veementemente o Estado Totalitário, ressaltou que, no momento em que escrevia, apenas dois países se encaixavam rigorosamente nos quadros do totalitarismo estatal, a saber, a União Soviética de Stálin e a Alemanha de Hitler.[16] Um pouco adiante, o mesmo Tasso da Silveira condenou o racismo do Estado hitlerista e sua equivocada afirmação do primado da raça germânica sobre as demais raças do Mundo, sustentando que os nazistas tinham subordinado o espírito religioso à raça e ao Estado que a personificava.[17] Segundo o poeta do Puro Canto e ensaísta de Caminhos do Espírito (Tasso da Silveira), a Alemanha, sob a égide do nazismo, recriava os seus deuses pagãos, que a levariam à morte, caso não a salvasse o Cristianismo e “o totalitarismo estatal não poderia manifestar-se de maneira mais violenta do que com essa tentativa de sujeição de populações cristãs a um paganismo perempto” e “do que com essa tentativa de retorno às fontes bárbaras,” impossível de ser realizada “senão à custa de desagregações dolorosas e funestas”.[18]  

         Consoante enfatizou Tasso da Silveira, o Estado Totalitário, tanto comunista quanto nazista, de um modo ou de outro, “se apresenta como senhor dos destinos dos povos, impondo-lhes autocraticamente os moldes que confeccionou segundo ideologias que desconhecem, sempre, as faces mais reais da realidade”.[19] Ainda como destacou o vate do Cântico ao Cristo do Corcovado e ensaísta de Tendências do pensamento contemporâneo (Tasso da Silveira), os integralistas não pregam “nenhuma vaga ideologia”, tendo elaborado “uma doutrina profundíssima supremamente realista, no sentido de que está em perfeita adequação com a nossa realidade”,[20] e “o Estado Integral, objetivado pelo Movimento do Sigma, se contrapõe a um só tempo (...) ao Estado Totalitário do Comunismo e do Nazismo, e ao Estado neutro, de estrutura puramente jurídica, da liberal-democracia”.[21]

         Em outra passagem da obra Estado Corporativo, Tasso da Silveira frisou que a concepção integral ou totalitária do mundo, fundamento da Doutrina Integralista, constitui exatamente o polo oposto de todos os particularismos lamentáveis do nazismo e do fascismo. Em suas palavras, “quem diz ‘concepção totalitária do mundo’ diz, a um só tempo, combate à ideia do ‘Estado totalitário’", assim como “combate a qualquer pensamento de preeminência racial, no sentido em que a proclama o nazismo”.[22]

Em julho de 1936, no artigo O Integralismo e o hitlerismo na colônia, publicado na revista Panorama, o integralista Mário F. Medeiros salientou que no seio da colônia teuto-brasileira do Sul do País existiam duas mentalidades em conflito: a dos colonos que se consideravam alemães e a dos colonos que se sentiam brasileiros. Segundo ele, penetrando o ambiente da aludida colônia, o Integralismo foi rapidamente conquistando “o coração e a Inteligência de todos aqueles que se julgavam brasileiros, enquanto a propaganda racista do hitlerismo apaixonava os velhos colonos que se diziam alemães”. Era por tal razão que, de acordo com Mário Medeiros, homens como o líder integralista gaúcho Wolfram Metzler viam no hitlerismo um dos maiores inimigos do Movimento Integralista, dentro da chamada zona colonial. Assim, tudo acontecia bem ao contrário do que espalhavam as agências telegráficas e os jornais que combatiam o Integralismo, pois este não encontrava “nenhum apoio no hitlerismo”, sendo, ao contrário, duramente “combatido por ele”.[23]

 

         No capítulo da obra Introdução ao Integralismo, de 1936, em que distinguiram o Integralismo do nazismo e do fascismo, Arthur Machado Paupério e J. Rocha Moreira, tendo condenado o Estado Totalitário nazista, observaram que ao totalitarismo hitlerista acrescia, ainda, “na Nova Alemanha, a política racista, de fundo profundamente materialista e anticristão”. Fundado “numa pretensa superioridade do ariano, proclamada pelas teorias, hoje caducas, de Chamberlain e Gobineau”, o nazismo desencadeara, em suas palavras, “a luta racial, movendo contra todos os não arianos a mais acentuada e ignóbil campanha”. Já nós, os integralistas, ainda em seus dizeres,

graças a Deus, não temos preconceitos de raça. À luz da comunhão cristã, não distinguimos pigmentos nem caracteres cranianos.

Somos mesmo o produto do caldeamento de três raças (branca, negra e indígena) que se fundiram e que permanecem ainda em continuada evolução. Não temos ainda um tipo brasileiro. Além disso, povo novo, não podemos ainda dispensar o concurso imigratório. Mister é povoarmo-nos, se queremos a nossa vida e a nossa grandeza.

Por tudo isto, e principalmente pelo ideal cristão que nos anima, jamais fizemos campanha racista. À diferença étnica opomos a igualdade espiritual de todos os homens.

Brancos e negros, caboclos e mamelucos, jagunços e caudilhos, todos são brasileiros, capazes de cooperar com a sua parcela de esforço, de coragem e de dedicação na obra de reconstrução da Pátria.

Se o índice étnico os separa, o espírito os irmana.

Dentro do nosso caráter cristão não há lugar para antagonismos e preconceitos raciais. Esse caráter que se revela a cada passo na concepção do Integralismo é o grande motivo de sua superioridade e de sua vitória.[24]

Dito isto, cumpre ressaltar que o Integralismo não apenas condenou veementemente o nazismo e o racismo, como também teve, em suas fileiras, dezenas de milhares de negros.

         Com efeito, dentre os inúmeros brasileiros descendentes de africanos que pertenceram ao Movimento Integralista, reunindo-se à sombra da bandeira azul e branca do Sigma, podemos mencionar o “Almirante Negro” João Cândido, líder da chamada Revolta da Chibata; o ativista negro, teatrólogo, escritor e artista plástico Abdias do Nascimento; o sociólogo Alberto Guerreiro Ramos; o escritor e militante negro Sebastião Rodrigues Alves; o professor de Direito, escritor, poeta e membro da Academia Sul-rio-grandense de Letras Dario de Bittencourt, que chegou a ser Chefe Provincial da AIB no Rio Grande do Sul, e o jornalista, escritor, advogado, militante negro e professor Ironides Rodrigues, que durante anos assinou uma coluna sobre cinema no jornal integralista A Marcha, dirigido por Gumercindo Rocha Dorea.

         Muitos também foram os judeus e descendentes de judeus que militaram no Movimento Integralista, a exemplo de Aben-Attar Neto, de Adam Steinberg, de Paulo Zingg, de Willy Ribeiro e mesmo do poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, que tinha alguns ancestrais de origem judaica. Com efeito, judeus e descendentes de hebreus honestos, patriotas e cumpridores de seus deveres para com a Sociedade são e sempre foram e serão tão bem-vindos no Movimento do Sigma quanto quaisquer outros brasileiros nas mesmas condições. Neste sentido, aliás, assim escreveu Miguel Reale, no há pouco aludido artigo, O Integralismo e os judeus, de 1934:

Os judeus que se estabeleçam em nossa terra sem os pensamentos de formar uma nação dentro de uma nação; os judeus que vêm aqui para trabalhar com os brasileiros na construção de uma grande Pátria; os judeus que não procuram destruir os valores espirituais da civilização cristã; os judeus que não são instrumento do banqueirismo internacional ou agentes secretos do imperialismo vermelho de Moscou; os judeus que não segregam os seus descendentes da comunhão nacional; os judeus que não vivem de usura e do infortúnio dos produtores, esses nada têm a temer do Integralismo. Nossas fileiras estão abertas para os brasileiros de raça semita, assim como os judeus estrangeiros podem formar em nossa Legião dos amigos do Brasil desde que eles possuam consciência dos nossos deveres morais e cívicos.[25]

            Consoante expôs Miguel Reale no mesmo artigo, o elemento semita, que colaborou na formação do Brasil desde o chamado período colonial, “pode e deve trazer o seu coeficiente poderoso de energias para a implantação do Estado Integral”. E se, como sublinhou Reale, é avultado o número de semitas nas fileiras do comunismo desde Karl Marx a Léon Trotsky e Maxim Litvinov, “não é difícil lembrar nomes de semitas adversários poderosos das doutrinas materialistas de dissolução”, o que, em seu sentir, demonstra que, diversamente do que julgam muitos antissemitas, o judeu é plenamente capaz “de aceitar ideias orgânicas e disciplinares”. Como exemplos de judeus adversários das doutrinas materialistas dissolventes, mencionou o autor de O Estado Moderno (Miguel Reale), dentre outros, o jurista, pensador político e estadista alemão Friedrich Julius Stahl, o estadista inglês Benjamin Disraeli, “o construtor do Império Britânico”, o jurisconsulto austríaco Georg Jellinek, o economista italiano Gino Arias, “um dos mais profundos representantes” do corporativismo, e o filósofo francês Henri Bergson, a quem reputava o “ponto de partida do espiritualismo contemporâneo”.[26]

         No artigo Questão de culturas, dado à estampa no jornal O Estado de São Paulo a 3 de abril de 1940 e transcrito na obra Uma cultura ameaçada: A luso-brasileira, vinda à luz no mesmo ano, o sociólogo Gilberto Freyre tratou de um artigo publicado pelo geógrafo nacional-socialista alemão Reinhard Maack na revista de professores e estudantes da Universidade de Harvard, The Quartely Journal of Inter-American Relations. Em seu artigo, em que discorreu a respeito dos colonos alemães ou de origem alemã do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná, o geográfo Maack sustentou ideias abertamente racistas e atacou as ideias universalistas do nacionalismo brasileiro, com razão atribuindo tais ideias, em seu entender absurdas, ao Integralismo. Nas palavras de Gilberto Freyre,

                              O geógrafo Maack atribui essas ideias “universalistas”, para ele absurdas, ao próprio movimento integralista, recordando, com indignação, que um dos chefes teuto-brasileiros do extinto partido teria exclamado, em discurso em Blumenau: 'Na época de completa fraternização de toda a família brasileira num Estado integral, não haverá mais diferenças de raça e de cor”.

Para nós, um dos pontos simpáticos e essencialmente brasileiros do programa daquele movimento. Para o geógrafo Maack: heresia das heresias. Os homens de raça e de cultura germânica, sob a orientação nazista, não se submeteriam nunca a semelhante confraternização de raças e de costumes, dentro das tradições portuguesas que se tornaram estruturais para o desenvolvimento brasileiro.[27]

Como observou Gilberto Freyre no artigo ora em apreço, é absoluta a divergência existente entre a filosofia brasileira de formação nacional e a filosofia imperialista de colonização de parte do Brasil pelo nazismo[28] e o Integralismo claramente sustenta a primeira filosofia, ao mesmo tempo em que se opõe vigorosamente à segunda.

Posto isto, faz-se mister sublinhar que não apenas os integralistas sempre condenaram o nazismo, como também os nazistas sempre condenaram o Integralismo, o que é, aliás, natural, tendo em vista que os dois movimentos tinham ideários absolutamente contrários em aspectos fundamentais e também o fato de que o Integralismo tirou da área de influência do nazismo milhares de alemães e teuto-brasileiros, que trocaram a camisa-cáqui e a suástica pela camisa-verde e o Sigma.

Em 1935, o cônsul alemão em Florianópolis, Alnobert Dittmar, enviou um relatório a Berlim em que se queixou do fato, em seu entender lastimável, de ser grande o número de alemães engrossando as fileiras do Movimento Integralista em Santa Catarina. Segundo Dittmar, um alemão vestido de camisa-verde é, a longo prazo, “o coveiro de seu próprio germanismo”.[29]

No prefácio ao primeiro volume da obra Plínio Salgado: “In memoriam”, Antônio Arruda Camargo escreveu que Rui de Arruda mostrara-lhe um dia um jornal alemão em que havia um artigo escrito por um líder nazista, que nele afirmava queo nacionalismo do Sr, Plínio Salgado impedia a propagação do nazismo, entre os alemães de Santa Catarina".[30]

Em sua tese intitulada Der Brasilianische Integralismus, defendida perante a Universidade Friedrich Wilhelm, em Berlim, a 29 de junho de 1938, e publicada na forma de livro no mesmo ano, o teuto brasileiro Carlos Henrique Hunsche, então adepto do nacional-socialismo, reproduziu as posições racistas dominantes neste movimento, não deixando de censurar o Integralismo por este, em seu entender, não representar, ao contrário do nazismo, “uma ideia racial”,[31] ou, em outras palavras, por não colocar o elemento raça acima de tudo. Daí ter afirmado Hunsche que devia ser sublinhada duas ou três vezes a frase do pastor luterano teuto-brasileiro Hermann Dohms segundo a qual jamais de deve, em hipótese alguma, confundir-se o Integralismo Brasileiro com o nacional-socialismo alemão.[32]

Publicada em janeiro de 1938, a obra de Hunsche sobre o Integralismo ficou exposta nas vitrines das livrarias alemãs por apenas quinze dias, pois, por conta da decretação do Estado Novo, em novembro de 1937, e do fechamento da Ação Integralista Brasileira (AIB), em dezembro do mesmo ano, o governo de Hitler, que mantinha boas relações com  a ditadura varguista, julgou que não fosse prudente e oportuno que circulasse um livro sobre o Integralismo na Alemanha naquele momento. Segundo o próprio Hunsche narrou a Plínio Salgado numa carta escrita muitos anos depois, foi o Dr. Joseph Goebbels o autor do documento que proibiu a circulação de seu livro em terras alemãs.[33]

Se a obra de Carlos Henrique Hunsche não agradou as autoridades nazistas mesmo consagrando as posições do nacional-socialismo em face da questão étnica, menos ainda as agradou a tese de doutorado do sacerdote e monge beneditino D. Nicolau de Flue Gut sobre Plínio Salgado, o criador do Integralismo Brasileiro na Literatura Brasileira, defendida em 1938 na Universidade Ludwig Maximilian de Munique e publicada em 1940, em português, na Alemanha. Com efeito, a tese de D. Nicolau de Flue Gut tratou sobretudo da obra literária de Plínio Salgado mas também discorreu sobre seu pensamento político, que, como já aqui salientamos, é essencialmente contrário aos princípios do nacional-socialismo alemão, e isso lhe valeu a sua expulsão da Alemanha nazista.[34]

No dia 7 de setembro de 1941, Plínio Salgado, então exilado em Lisboa pela ditadura estadonovista de Vargas, ali lançou o chamado Manifesto de Setembro. Neste histórico documento, consciente de que o Brasil logo seria forçado pela Alemanha a entrar do lado dos chamados Aliados no conflito global que então se travava, o Chefe Nacional do Integralismo preconizou a união de todos os brasileiros, “esquecidos de mútuos agravos ou divergências e animados pela deliberação firme de defender nossa Pátria em qualquer circunstância”, e conclamou todos os integralistas a dar seu integral apoio ao governo do nosso País em tudo o que este houvesse “de se empenhar para defender a intangibilidade da nossa soberania e independência”, assim como para “salvaguardar a família brasileira de todos os fatores dissolventes da nacionalidade” e “para construir e engrandecer o Presente e o Futuro da nossa Pátria”.[35]

Nos primeiros dias do ano de 1942, Plínio Salgado gravou, em Lisboa, num disco fonográfico imediatamente enviado ao Brasil, uma Mensagem aos integralistas, de que destacamos as seguintes linhas:

Sabeis o que vos cumpre como bons brasileiros ao serviço de Deus e da Pátria, porquanto, em dezembro do ano findo, vos foi por mim traçada a linha de conduta que vos deve nortear. Ela consiste no culto sagrado do amor ao Brasil, na sustentação da sua soberania e independência, na vigilância contra os fatores da dissolução social, na cooperação com o governo do nosso País em tudo o que disser respeito à defesa da Nacionalidade contra todos os terríveis agentes da corrupção interna, e contra quaisquer ameaças externas, venham de onde vierem.

(...) Nesta hora, acima de tudo é preciso amar e amar cada vez mais, o Brasil. Cultivar esse amor com entusiasmo. Sede baluartes da ordem e da união nacional, com dignidade. Sede, principalmente, fiéis aos princípios de Cristo, que são a luz do nosso nacionalismo.

Não temos outro partido, outra predileção, outro interesse, outro desejo, outro sonho senão os que comportam estas três palavras: Deus, Pátria e Família. Com elas vos envio as saudações para o Ano-Novo. Nelas ponho meu coração, meu pensamento, meu Espírito, pelo Bem do Brasil.[36]

No dia 22 de agosto de 1942, quando o Brasil declarou guerra às potências do Eixo, um grupo de personalidades integralistas expediu ao Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, o seguinte telegrama:

A gravidade deste momento nacional, tão eloquentemente expressa no manifesto de V. Ex.a ao Exército, impôs-nos esta atitude de plena solidariedade às classes armadas da Nação, exorando-lhes, na pessoa de V. Ex.a, a que não nos  recusem o direito de ser os primeiros a nos sacrificarmos, sem distinção de classe ou idade, pela soberania nacional. Respeitosas saudações. (aa) Raimundo Delmiriano Padilha, Gustavo Barroso, Miguel Reale, Machado Florence, Marcos Sousa Dantas, Marcel da Silva Telles, Maurício da Silva Telles, Milton Ferreira de Carvalho, Alcebíades Delamare, Amaro Lanari, Henrique Brito Pereira, Rodolfo Josetti, Sílvio Rego, Jorge Brisola, Paulo Lomba Ferraz, Queiroz Ribeiro, Filemon Cordeiro, Severino Rezende, Aristóbulo Soriano de Melo, Carlos de Freitas Henriques, Ordival Gomes, Custódio de Viveiros, Nunes da Silva, Alfredo Luís Greve, Henry Leonardos, Maurílio de Melo, Vicente Meggiolaro.[37]

No dia seguinte, as mesmas personalidades integralistas e mais Lúcio José dos Santos, Carlos de Faria Albuquerque, Othon de Barros e João Carlos Fairbanks enviaram ao Presidente da República, Getúlio Dorneles Vargas, um telegrama com os seguintes dizeres:

Ao traduzirmos, em manifesto de 7 de setembro de 1941, nosso integral apoio a V. Ex.a e ao regime,[38] fundamentamos nossa atitude salientando que “as ameaças tornaram-se agora mais pesadas, os perigos mais iminentes, os inimigos mais próximos, os ardis mais dissimulados e mais imprevisíveis as catástrofes em que soçobram as nacionalidades” e, consequentemente, nos colocávamos ao lado do governo para auxiliá-lo “em tudo o em que ele houver de se empenhar para defender a intangibilidade da nossa soberania e independência e contra todos os fatores dissolventes da nacionalidade”. No momento em que nossa Pátria se vê na grave contingência de aceitar impavidamente a luta que lhe foi imposta, a nossa posição, Senhor Presidente, já estava irrevogavelmente preestabelecida pelo bem do Brasil. Respeitosas saudações.[39]

Aos 15 de novembro de 1943, Plínio Salgado, que fora informado de que circulava a falsa acusação de que ele e outros integralistas estavam colaborando com a espionagem alemã, lançou o chamado Manifesto de 1943, dirigido ao povo brasileiro e enviado a seu pedido pelo Embaixador do Brasil em Portugal, João Neves da Fontoura, ao Presidente Vargas e ao Ministro das Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, a fim de lhe permitirem a publicidade.[40]

No início do referido Manifesto, Plínio Salgado sublinhou que a Doutrina que sustentara, fundando e propagando o Movimento Integralista, era a mesma que continuava a sustentar e cujos princípios são contrários: 1) a todas as formas de materialismo; 2) ao Estado totalitário, seja comunista, seja nazista ou outro qualquer; 3) a qualquer teoria de predomínio de uma raça ou de uma nação sobre as outras; 4) à prevalência da força sobre o Direito, tanto nas relações entre povos quanto nas relações entre indivíduos; 5) ao enfraquecimento da nossa Brasilidade, das tradições pátrias e da segurança do território que herdamos dos nossos ancestrais lusitanos e posteriormente ampliamos; 6) a qualquer restrição à justa e regrada liberdade de pensamento e à dignidade da pessoa humana. Tais ideias, inspiradas na Tradição do Brasil e por ele absorvidas desde o berço, patenteiam, como frisou Plínio Salgado, que sua “filosofia política nunca dependeu de ideologias estrangeiras nem se subordinou a qualquer partido do mundo”. O que há de universalista em tal Doutrina é, na expressão do autor de Primeiro, Cristo! (Plínio Salgado), “aquilo que deriva do ensino da Igreja, transmitido da cadeira de São Pedro”, pois era como homem, e não somente como brasileiro, que via, “no Redentor Divino, a Luz, o Caminho e a Vida”.[41]

Um pouco adiante, frisou Plínio Salgado que, na guerra então travada contra os países do Eixo, “só traidores poderiam deixar de trabalhar pela vitória de nossa Pátria e das nações suas aliadas”. Em seus dizeres, tal vitória livraria o nosso Brasil “do mais imediato dos perigos” que então o ameaçavam, que era justamente o “racismo expansionista”, e daria à Nação “a possibilidade de subsistir dentro do princípio da intangibilidade das pátrias”.[42]

Em seguida, já quase ao final de seu Manifesto, tratando especificamente da suspeita, de que fora vítima, de pretender entendimento ou concurso nazista para fins partidários no Brasil, o autor da Vida de Jesus (Plínio Salgado) protestou veementemente contra tão vil calúnia. O escritor, pensador e líder político patrício enfatizou, com efeito, que jamais mancharia sua honra, servindo-se de estrangeiros para galgar postos de governo em nosso País, posto que, em seus dizeres, “o Brasil pertence aos brasileiros e só aos brasileiros cabe a escolha dos seus destinos políticos e dos seus governantes”.[43]

Tanto o Embaixador do Brasil em Portugal, o há pouco mencionado João Neves da Fontoura, quanto o Ministro Osvaldo Aranha e o Itamaraty jamais duvidaram da inocência de Plínio Salgado em face das calúnias de que foi vítima e, como declarou, anos mais tarde, ao Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, D. Carmela Patti Salgado, viúva de Plínio, possuía esta diversos documentos que provavam que o criador e máximo líder e doutrinador do Integralismo Brasileiro se encontrava com graves problemas pulmonares e internado num sanatório nas datas em que o acusavam de se encontrar com um agente do serviço secreto alemão.[44]

Inúmeros foram os integralistas que combateram os nazistas durante a II Guerra Mundial, tanto nas águas do Atlântico quanto nos campos, colinas e montanhas da Itália, havendo dezenas deles, aliás, dado a vida pela Pátria. No célebre e magnífico Discurso do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, proferido em 27 de outubro de 1946, Plínio Salgado evocou os nomes de diversos integralistas que lutaram contra as forças do Eixo na batalha do Atlântico e nos campos de combate da Itália e de alguns que tombaram por Cristo e pelo Brasil nessas duas zonas de confronto.[45]

Como ressaltou Plínio Salgado, oitenta por cento dos oficiais e marinheiros da nossa Marinha de Guerra tinham feito sua inscrição nas fileiras da Ação Integralista Brasileira (AIB) e que eram também numerosíssimos os marujos da Marinha Mercante pátria que militaram em tais fileiras.[46]

 Dentre os inúmeros oficiais integralistas da Marinha de Guerra Brasileira que se destacaram no combate contra os submarinos alemães e italianos nas águas do Atlântico, o mais importante foi, sem sombra de dúvida, o então Capitão-de-fragata e futuro Almirante Gerson de Macedo Soares, que durante a Guerra chefiou o Estado-Maior do Almirante Alfredo Soares Dutra, comandante da Força Naval do Nordeste, tendo sido condecorado pelo governo dos Estados Unidos da América. Como observou Plínio Salgado, o nobre e bravo oficial de nossa Marinha que foi e é Gerson de Macedo Soares, a quem, aliás, Franklin Delano Roosevelt apertou a mão, era, ao tempo da Ação Integralista Brasileira, o coordenador dos membros da Marinha no Movimento do Sigma, e continuou a professar depois os ideais do Integralismo,[47] ideais a que, a propósito, permaneceu fiel até a morte.

Quando, em 1955, Plínio Salgado concorreu à Presidência da República, certos inimigos seus e do Integralismo reproduziram na imprensa alguns telegramas em que determinados membros da Associação dos Ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) arvorados em representantes de todos os chamados “pracinhas” repetiam velhas, absurdas e desacreditadas calúnias segundo as quais o Chefe Nacional do Integralismo teria sido o chefe da denominada quinta-coluna nazista na II Guerra Mundial e praticado atos de espionagem em favor das potências do Eixo. Em resposta a essas lamentáveis calúnias, o já então Almirante Gerson de Macedo Soares escreveu um corajoso depoimento em defesa do tão grande quanto injustiçado líder e pensador político tradicionalista e nacionalista que foi e é Plínio Salgado.  Em tal depoimento, publicado originalmente no Jornal Pequeno, de Recife, a 21 de setembro de 1955 e transcrito em panfleto e amplamente distribuído naquele ano, o Almirante Gerson de Macedo Soares salientou que o que se dizia contra Plínio Salgado não era verdade, jamais tendo sido ele o traidor que se queria apontar à execração do eleitorado brasileiro e, do mesmo modo, “os seus adeptos, os verdadeiros, os que sempre seguiram os seus sadios ensinamentos jamais se enxovalharam em espionagens, delações e correspondências com o inimigo”. Segundo ele, “os verdadeiros e heroicos ‘pracinhas’” sabiam perfeitamente bem disso e ele mesmo podia dar seu testemunho pessoal no sentido de que,

em tempo algum, desde meados de 1942 até 1945, houve qualquer notícia de uma traição de brasileiros, dando informações ao inimigo, exercendo a execranda espionagem, e muito menos de adeptos de Plínio Salgado, CUJO AMOR À PÁTRIA SEMPRE ESTEVE ACIMA de quaisquer MAQUINAÇÕES ALEIVOSAS.[48]

Ainda conforme escreveu o Almirante Macedo Soares, no Estado-Maior da Força Naval do Nordeste, no comando de unidades navais, entre a oficialidade e entre as nobres e patrióticas guarnições, contavam-se muitos seguidores dos ensinamentos de Plínio Salgado, todos eles trabalhando “AFINDACAMENTE, ao lado dos americanos, para a derrota integral do inimigo”.[49]

Ao tratar, no há pouco aludido Discurso do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, dos integralistas caídos em combate nos campos italianos na guerra contra Hitler, mencionou Plínio Salgado não apenas camisas-verdes ali tombados, mas também sobreviventes que para cá tornaram ao término do conflito, feridos ou não. E, dentre os integralistas tombados nos campos da Península Itálica, destacou ele particularmente a legendária figura de Frei Orlando, o heroico capelão militar, patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército desde 1946 e que, nas palavras de Plínio Salgado, “era dos nossos, pensava como nós”, e, antes de partir trabalhar junto aos soldados que defendiam a honra do nosso Brasil, despediu-se de Raimundo Padilha, reafirmando a sua fidelidade ao Integralismo.[50]

Em discurso em memória do General Olympio Mourão Filho proferido na Câmara dos Deputados, em Brasília, no dia 10 de junho de 1972, Plínio Salgado observou que esse nobre militar brasileiro seguira, no posto de tenente-coronel, para os campos de batalha na Europa, onde lutou “como verdadeiro brasileiro, levando aquele pensamento do Integralismo”, que, muito diversamente do que afirmou a “propaganda comunista que se fez no Brasil, era contrário ao fascismo e ao nazismo”.[51]

Em 3 de dezembro de 1974, em seu último discurso na Câmara dos Deputados, Plínio Salgado ressaltou que os três grandes inimigos da Ação Integralista Brasileira (AIB) tinham sido o capitalismo internacional, o comunismo soviético e o nazismo de Hitler. Em suas palavras, este último acusava os integralistas de pretender

caboclizar os arianos, porquanto nos Estados do Sul consegui substituir a camisa cáqui e a cruz gamada por uma camisa verde, cor de nossas matas, atraindo dessa forma os teutos, descendentes de alemães que nem sabiam falar nossa língua. Fundei numerosíssimas escolas para ensinar o português aos filhos de alemães. Então, os jornais de Berlim e de Munique atacavam-se violentamente. Ao mesmo tempo me agrediam os comunistas, dos quais eu não podia deixar de ser inimigo, e me atacava o capitalismo internacional, este finalmente conseguindo que viesse aqui o Presidente Roosevelt conferenciar com o Presidente da República brasileira para combinar um golpe de Estado a fim de nos liquidar.[52]

         Fechemos este artigo. Como dissemos inúmeras vezes e repetiremos sempre que se fizer necessário, o Integralismo difere profundamente do nacional-socialismo alemão e seus líderes jamais se identificaram com a ideologia nazista ou nela se inspiraram. Ao contrário, o Integralismo, Movimento essencialmente cristão e brasileiro, sempre combateu o racismo nazista e condenou todas as formas de totalitarismo, proclamando que o problema do Mundo é ético e não étnico.

 Com Cristo e pela Nação!

Victor Emanuel Vilela Barbuy,

Secretário Nacional de Doutrina e Estudos da Frente Integralista Brasilera,

São Paulo, 29 de setembro de 2020-LXXXVII.

 

[1] Manifesto de Outubro.  de Outubro. Disponível em: https://www.integralismo.org.br/manifesto-de-7-de-outubro-de-1932/. Acesso em 29 de setembro de 2020.

[2] Sobre os fundamentos doutrinários do Manifesto de Outubro e do Integralismo: Plínio SALGADO, O Integralismo na vida brasileira, in Enciclopédia do Integralismo, Volume I, Rio de Janeiro, Edições GRD/Livraria Clássica Brasileira, s/d, pp. 21-32. O mesmo trecho (Capítulo II) também se encontra disponível em https://www.integralismo.org.br/sintese-doutrinaria/o-integralismo-na-vida-brasileira/os-fundamentos-doutrinarios/. Acesso em 29 de setembro de 2020. A respeito do mesmo assunto, recomendamos, ainda, a primeira aula do nosso curso sobre as fontes do Integralismo: https://www.youtube.com/watch?v=yqrO9yDpVhI&t=1568s. Acesso em 29 de setembro de 2020.

[3] Trechos de uma carta, In Panorama: Coletânea do pensamento novo, Ano I, Nº 4 e 5, São Paulo, abril e maio de 1936, p. 5.

[4] Quem tem medo de Plínio Salgado?, In Gumercindo Rocha DOREA (Organizador) Anais do Centenário e da 2ª Semana Plínio Salgado, São Paulo/São Bento do Sapucaí, Edições GRD/Espaço Cultural Plínio Salgado, 1996, p. 27. Artigo originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo, da Capital Paulista, em 3 de maio de 1995, e disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/5/03/opiniao/9.html.  Acesso em 29 de setembro de 2020.

[5] O Integralismo não é totalitarismo, 2ª edição, In Enciclopédia do Integralismo, Volume VIII, Rio de Janeiro, Livraria Clássica Brasileira/Edições GRD, 1958, pp. 63-133.

[6] Carta de Natal e fim de ano, In Palavra nova dos tempos novos, 4ª edição, In Obras Completas, 2ª edição, Volume 7, São Paulo, Editora das Américas, 1957, p. 294.

[7]  Nacional-socialismo e Nacionalismo Cristão. Disponível em: https://www.integralismo.org.br/sem-categoria/nacional-socialismo-e-nacionalismo-cristao-plinio-salgado/. Acesso em 29 de setembro de 2020.

[8] A Poeira da Estrada, in A Offensiva, Rio de Janeiro, 27 de maio de 1936.

[9] A Doutrina do Sigma, 2ª edição, Rio de Janeiro, Schmidt, Editor, 1937, p. 182.

[10] Idem, p. 154.

[11] A Sinagoga Paulista, 3ª edição, Rio de Janeiro, Empresa Editora ABC Limitada, 1937, p. 176.

[12] O Integralismo e o Mundo, 1ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1936, p. 17.

[13] Nós e os fascistas da Europa, in Obras políticas (1ª fase – 1931-1937).Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1983, p. 231-232.

[14] Texto disponível em: https://www.integralismo.org.br/sem-categoria/o-integralismo-e-os-judeus-miguel-reale/. Acesso em 29 de setembro de 2020.

[15] Idem.

[16] Estado Corporativo, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1937, p. 273.

[17] Idem, pp. 276-277.

[18] Idem, p. 277.

[19] Idem, loc. cit.

[20] Estado Corporativo, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1937, p. 14.

[21] Idem, pp. 271-272.

[22] Idem, p. 251.

[23] O Integralismo e o hitlerismo na colônia, in Panorama: Coletânea do pensamento novo, Ano I, Nº 7, São Paulo, julho de 1936, pp. 57-58.

[24] Capítulo transcrito por Arthur Machado Paupério em O caráter antitotalitário do Integralismo,  in VV.AA., Plínio Salgado: “In memoriam”, volume I, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985, pp. 143-148.

[25] Texto disponível em: https://www.integralismo.org.br/sem-categoria/o-integralismo-e-os-judeus-miguel-reale/. Acesso em 29 de setembro de 2020.

[26] Idem. Em tal artigo Reale igualmente citou como de origem semita o filósofo francês Jacques Maritain, então considerado, em seus dizeres, “a maior figura da neoescolástica”. Em verdade, porém, Maritain não tinha tal origem, ao contrário de sua esposa Raïssa, convertida, juntamente com ele, ao Catolicismo em 1906.

[27] Uma cultura ameaçada e outros ensaios, São Paulo, É Realizações, 2010, p.  51.

[28] Idem, loc. cit.

[29] DDA, Pol. Abt. III, in Akten “Nationalsozialismus, Faschismus...” doc. n.1545/35 de 20 de novembro de1935, pp.12-13, apud Ricardo SEITENFUS, O Brasil vai à guerra, 3ª edição, Barueri, SP, Manole, 2003, p. 36. Cumpre assinalar que o livro de Seitenfus reproduz inúmeras falsas acusações contra o Integralismo, todas elas há muito respondidas.

[30] Plínio Salgado - Vida e obra, in VV.AA., Plínio Salgado: “In memoriam”, volume I, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985, p. 14.

[31] O Integralismo brasileiro, Tradução de Leandro Silva Telles, Porto Alegre, Centro de Documentação AIB/PRP, 1996, p. 74.

[32] Idem, loc. cit. A frase de Dohms pode ser lida em: O Movimento Integralista, in Martin N. Dreher (Organizador), Hermann Gottlieb Dohms: Textos escolhidos, Porto Alegre, EDIPUCRS, 2001, p. 273. O ensaio de Hermann Dohms sobre o Integralismo foi originalmente publicado em alemão na revista Deutsche Evangelische Blätter für Brasilien em 1934.

[33] Carta a Plínio Salgado, de 12 de maio de 1972, in VV.AA., Plínio Salgado: “In memoriam”, volume I, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985, p. 221.

[34] No magnífico ensaio Sobre um jovem professor de Salamanca, em que falou de Francisco Elías de Tejada e de sua obra e que consta de seu livro O ritmo da História, Plínio Salgado observou que o primeiro que lhe falou de Tejada foi D. Nicolau de Flue Gut, que, em suas palavras, “havia sido recentemente expulso da Alemanha, por haver publicado uma tese de doutorado sobre a minha obra, cujas ideias, transcritas no texto, não agradaram ao regime nazista” [O ritmo da História, 3ª edição (em verdade 4ª), São Paulo, Voz do Oeste; Brasília, INL (Instituto Nacional do Livro), 1978, p. 193].

[35] Manifesto de Setembro, in O Integralismo perante a Nação, 4º edição, in Obras Completas, vol. 9, 2ª edição, São Paulo: Editora das Américas, 1957, p, 307.

[36] Mensagem, in O Integralismo perante a Nação, cit., pp. 321-322. Grifos em itálico no original.

[37] O Integralismo perante a Nação, cit., p. 323-324.

[38] Cumpre ressaltar que tal apoio foi dado a Vargas e ao regime apenas na luta em defesa da Nação contra as ameaças internas e externas à sua independência e soberania, o que, aliás, fica bem claro tanto no Manifesto de Setembro quanto nesse mesmo telegrama ao Presidente da República.

[39] O Integralismo perante a Nação, cit., p. 324.

[40] Cf. Plínio SALGADO, O Integralismo perante a Nação, cit., p. 328.

[41] Manifesto de 1943, in O Integralismo perante a Nação, cit., pp. 329-330.

[42] Idem, p. 331.

[43] Idem, loc. cit.

[44] Cf. JORNAL DO BRASIL, Viúva de Plínio Salgado processa historiador que o acusou de espionagem, in Jornal do Brasil, Ano LXXXVII, nº 289, Rio de Janeiro, 24/01/1978, p. 2.

[45] Discursos, 1ª edição, São Paulo, Companhia Editora Panorama, s/d, pp. 20-24.

[46] Idem, p. 20.

[47] Idem, loc. cit.

[48] Texto disponível em: https://www.facebook.com/photo?fbid=3039187709525342&set=a.411355048975301. Acesso em 29 de setembro de 2020.

[49] Idem.

[50] Discursos, cit, p. 24.

[51] Olympio Mourão Filho, in Discursos parlamentares (Volume 18 – Plínio Salgado), Seleção e introdução de Gumercindo Rocha Dorea, Brasília, Câmara dos Deputados, 1982, pp. 784-785,

[52] Despedida da vida parlamentar, in Discursos parlamentares, cit., p. 305.

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