Ainda na antiguidade, Marco Túlio Cícero enunciou: “Historia magistra vitae est”. Para o historiador romano, a história
tinha uma dimensão ética. Hoje, apesar da visão da histórica como mestra da
vida não estar mais presente no mainstream
da historiografia, ela ainda influencia muitos autores. Niall Ferguson, por
exemplo, trabalha em algumas de suas obras com contrafactualismo, especulando
sobre possibilidades outras que a história poderia nos ter reservado como
realidade, se determinados comportamentos não existissem em pessoas
importantes. Por exemplo, se Hitler não e voltasse contra Stalin e o traísse
como seria a história hoje? A história, portanto, possui também uma dimensão
moral e não é necessário que se seja um historiador para perceber isso. John
Locke (2005, p.81) em seu segundo tratado sobre o governo recorre ao
missionário jesuíta e historiador espanhol José de Acosta em seus relatos sobre
o continente americano para argumentar a favor do contratualismo liberal[1]. Ora, todos nós sabemos
perfeitamente que o pensamento dos contratualistas da modernidade eram baseados
em explicações sobre o passado e a natureza humana de modo a tentar explicar a
realidade e a determinar qual o melhor formato de Estado e governo. Assim
Hobbes chega ao homo homni lúpus (O
homem como lobo do homem), que por si só pressupõe um pessimismo antropológico
que nada mais é que um juízo de valor. Ou ainda Rousseau que vê a figura do bon sauvage (O bom selvagem), que revela
no idealista francês um otimismo antropológico, que assim como seu inverso, é
também um juízo de valor.
A historiografia está permeada de juízos de valor. Não há um historiador consagrado que não condene Stalin e Hitler, como porta-vozes da morte e do totalitarismo. A historiografia desempenha um papel moral fundamental sobre aquilo que consideramos como certo e errado. Com isso concluímos que Cícero nunca foi totalmente superado de facto na historiografia. Embora alguns não gostem disso, Historia magistra vitae est, ainda.
REFERÊNCIAS:
LOCKE,
John. O Segundo Tratado sobre o governo.
São Paulo: Martin Claret, 2005.
[1]
Assim, voltando o olhar para trás, até onde a história nos
fornece alguma indicação do povoamento do mundo e da vida das
nações, verificamos geralmente que o governo era exercido por um
só
indivíduo; todavia esta observação não destrói a nossa afirmação, isto é
–
que o começo de uma sociedade política baseia-se no consenso dos homens em
juntar-se para formarem uma sociedade; e estes, quando assim incorporados, têm
condições de instalar a forma de governo que julguem conveniente.
(LOCKE, 2005, p.81)
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