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terça-feira, 5 de maio de 2015

Beck, o eurasianismo e a DSI

Como democrata cristão eu presto contas a Doutrina Social da Igreja Católica Apostólica Romana, mesmo não sendo eu mesmo um católico, not even a christian. Desde que a li pela primeira vez, eu vi ali a imagem da Justiça.  Desde então tenho cuidado para que minhas ideias não se distanciem dela. O meu companheiro de estudos, Donizete Beck, creio eu, também evita arredar o pé da DSI. Ao analisar o movimento neoeurasiano ou apenas eurasiano ele levantou questões fundamentais que merecem ser ressaltadas e comentadas.

O mundo baseado no princípio mais notório do liberalismo franco-americano, o estado laico é baseado num fenômeno que ele chama de "divinização do espaço", como mostra-nos o filósofo Olavo de Carvalho em "O Jardim das Aflições", não nos cabe aqui dar conta do complexo e intrincado processo filosófico em como isso resulta na divinização da natureza, da ciência e da secularização progressiva da sociedade a qual vemos hoje. Vemos isso no Império Americano. Estado Laico e ideal científico, a sociedade aberta de que fala Karl Popper. Isso é uma forma de evolução da proposta gnóstica onde o Estado é o deus no sentido de promover a moral civil, ou moral laica que o filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé chama em sua obra de "politicamente correto". Por outro lado, se o liberalismo como vemos advogado pelos libertários, a exemplo de Murray Rothbard, minarquistas, como Ayn Rand e Robert Nozick e liberais como José Guilherme Merquior e John Rawls tem ajudado a emperrar o mundo em desgraça, a outra opção geopolítica ao "atlantismo" também não ajuda muito.

A reação atual é por exemplo o movimento eurasiano, que se vale de uma pretensão moralizante. Hoje, nas sua práxis política, ele subjuga a Igreja Ortodoxa ao poder do Estado, transformando-a em um órgão de propaganda de um projeto nacional-bolchevista ou putinista. Não se deixe enganar pela aparência, não se trata da criação de uma Igreja Nacional nos moldes que vimos surgir na Inglaterra e na Suécia como consequência das reformas protestantes. O que vemos aqui é a religião servindo como porta voz de um projeto geopolítico e ideológico, confundindo crença religiosa com política e subserviência do povo ao Estado. O Estado é um deus também. É a visão histórica, a divinização do tempo, como muito bem assinala Olavo em seu já citado livro.

Isso é puro gnosticismo! Além do mais o novo Caesar Readvivus se vale de simbologias gnósticas como o próprio Beck alerta! É Beemote versus Leviatã. 

A Doutrina Social da Igreja na encíclica do bem aventurado papa Leão XIII, Immortale Dei deixa bem claro nos pontos 41 e 47 que é contra a sujeição da Igreja ao poder secular. Nem por isso ela também propaga uma teocracia de cunho islâmico ultra-radical onde o Estado obrigue você a pertencer a fé islâmica ou te impeça de mudar sua fé para outra de qualquer gênero.

Por isso, meu amigo Donizete Beck foi muito feliz em suas colocações sobre o movimento neoeurasiano, e como democrata cristão, me coloco ao lado dele.

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CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições - De Epicuro à ressurreição de César, sobre o materialismo e a religião civil. Campinas: Vide Editorial, 2015.

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