Tradução de Hugo Rossi de um artigo
do Social Democracy on 21st century (obs).
Duas
postagens aqui tentaram conectar a hipótese da instabilidade financeira de
Minsky e a Teoria austríaca dos ciclos econômicos nos termos de suas visões de
crédito e ciclos econômicos:
Daniel Kuehn, “A Thought on Minsky and Rothbard that Would Probably Make
neither Happy,” Facts and Other Stubborn Things, May 29, 2013.
Jonathan Finegold Catalán, “Minsky v. Mises–Hayek,” Economic Thought, 30 May, 2013.
Jonathan Finegold Catalán, “Minsky v. Mises–Hayek,” Economic Thought, 30 May, 2013.
Enquanto
ambos se preocuparam em desestabilizar o papel do crédito monetário endógeno,
eu permaneço cético com as tentativas de os conectarem.
A
teoria Austríaca dos ciclos econômicos é uma teoria do equilíbrio cuja preocupação
reside nas (supostas) distorções reais no setor de bens de capital da economia
causada pelo desvio da taxa bancária de interesse a partir de uma imaginária
taxa de juros natural wickselliana. A teoria também requer premissas irreais
sobre a natureza do capital. Primeiramente, é questionável se a maioria dos
bens de capital podem ser categorizados de forma útil em “ordens” maiores ou
menores, e, segundamente, capital heterogêneo também pode ter um grau
significante de durabilidade e substituibilidade. A estrutura do capital em uma
economia capitalista, onde achamos alguns importantes graus de adaptabilidade,
versatilidade e durabilidade na natureza dos bens de capital, dá a entender que
a fase de “estouro” da Teoria Austríaca dos ciclos econômicos é uma explicação
grosseira e pouco convincente para qualquer contração no mundo real.
Além
disso, a Teoria Austríaca dos ciclos econômicos é dependente de uma tendência
de equilíbrio pela qual a taxa de desconto bancário vai retornar para a
imaginaria taxa de juros natural, e assim limpar o real mercado de bens de
capital. Todas essas coisas são apenas desnecessárias teorizações sobre o
equilíbrio, irrelevantes para o mundo real.
Mas
o que é ainda pior é que a Teoria Austríaca dos ciclos econômicos tem pouca
preocupação com as crises financeiras ou bolhas de ativos, o fenômeno econômico
do mundo real associado com sistemas financeiros pouco regulados.
Diferentemente
disto, a teoria de Minsky presta atenção tanto às crises financeiras quantos às
bolhas de ativos e é uma teoria superior, sem sombras de dúvida. Apesar de
alguma influência das teorias do equilíbrio de Schumpeter, a hipótese da
instabilidade financeira de Minsky não exige realmente suposições ou efeitos de
equilíbrio geral.
Karen
I. Vaughn identificou a maior falha da moderna teoria Austríaca a este
respeito: “Mises nunca discute a possibilidade de erros especulativos
sistêmicos, exceto no contexto de sua teoria dos ciclos econômicos, na qual
especuladores e investidores são enganados por sinais monetários impróprios
emanando de uma reserva fracionaria bancária. No entanto, se o futuro não pode
ser previsto, ou como Schakle diria, se “o
futuro é criado a partir das ações do passado”, por que isto não é ao menos
possível de se conceber para atividades especulativas que estão incorretas em
"rede" ao menos por algum tempo? Certamente, nós temos a evidência empírica
de bolhas especulativas que são endógenas para os mercados como na hipótese da
instabilidade financeira. Alguém poderia pensar que o alcance e potencial dos
fatores limitantes que afetam tais instabilidades endógenas seriam de grande
importância para o completo entendimento das ordens de mercado, mesmo assim é um
problema surpreendentemente omisso na literatura Austríaca. Por isso, embora
possamos apreciar a força do argumento de Mises até certo ponto, parece que uma
parte crucial da defesa de um funcionamento efetivo da economia de mercado está
faltando.” (Vaughn. 1994: 87-88).
Finalmente,
acredito que a declaração de Finegold Catalán é de valor inestimável:
“Pelo
que entendo, a posição de Misnky é que o ciclo do crédito garante seu próprio
sustento, a medida que a expansão continua do crédito é necessária para maximizar
o lucro. Maior expansão do crédito implica em queda dos padrões de crédito, por
sua vez, aumentando o risco da carteira de crédito dos bancos. Em uma
perspectiva macroeconômica, quanto maior a expansão do crédito, maior o risco
de um choque financeiro. O sistema bancário não pode se auto regular, pois não
há incentivo para o ser, e, portanto, o governo precisa regular a industria de
forma que ela atinja uma quantidade de risco ótima.
Não considero
essa teoria, ao menos exposta desta maneira, muito convincente. Primeiramente,
não é claro porque risco crescente (e.g. uma crescente probabilidade de perder)
não age como um incentivo para restringir uma carteira de empréstimos. Segundo,
empiricamente, há pouca evidência que bancos ignoram os riscos.”.
O que? Realmente há “pouca
evidência que bancos ignoram os riscos” na mais recente bolha imobiliária? Só posso concluir que o
empréstimo mentiroso e empréstimos NINJA (do inglês, sem renda, emprego ou
ativos) escorregaram da sua mente.
Quanto ao “crescimento do
risco (e.g. um crescimento da probabilidade de perda)” agindo como “um
incentivo para restringir a carteira de empréstimo”, alguém pode se perguntar
porque em numerosas crises financeiras na história os bancos carregaram ativos
podres ou jogaram fora
empréstimos para especuladores sem muito interesse em restringir suas carteiras
de empréstimo. A bolha imobiliária da Austrália em 1880 imediatamente vem à
cabeça.
BIBLIOGRAFIA
Vaughn, K. I. 1994. Austrian Economics in America: The Migration of a Tradition. Cambridge University Press, Cambridge and New York.
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