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domingo, 18 de novembro de 2018

Bolsonaro e o nacionalismo sadio ou patriotismo.


Gustavo Corção em 1957 escreveu a obra "Patriotismo e nacionalismo", condenando o último e elogiando o primeiro. A um olhar descuidado pode parecer que Corção fechou para sempre, para um católico as portas do nacionalismo. Penso ao contrário, acho que Corção entende mal alguns nacionalismos de seu tempo, justamente por ser um democrata cristão àquela altura, que na verdade tinham mais a ver com o tipo de patriotismo que ele defendia do que com os nacionalismos pagãos de Itália e Alemanha na segunda guerra.

Para Corção, a palavra nacionalismo poderia ser empregada em dois contextos, um ilegítimo e essencialmente mau e pervertido, e outro legítimo com alguns limites. Para ele, o nacionalismo era essencialmente um orgulho desvairado da nação, egoísta e ressentido, que afirma o país e o seu Estado em detrimento dos demais povos e orgulhos nacionais. No segundo sentido, o nacionalismo era o processo pelo qual o Estado assegurava a posse de bens e serviços através de um monopólio estatal, o que vez ou outra poderia ser justificado.

Para o autor, a verdadeira virtude não se encontrava no nacionalismo, mas sim no patriotismo, que consistiria num meio termo entre a perversão do sentimento de amor ao país, tornando-se mesquinho e totalitário, e o completo entreguismo apátrida, o internacionalismo ou o que conhecemos hoje como globalismo.

Contudo, embora concorde com Corção quanto a maior propriedade do termo patriotismo, passamos já para uma época em que seu significado se perdeu por completo, e de tão banalizado, passou a significar algo que não muito se distingue do entreguismo apátrida supracitado. Corção reconhecia essa possibilidade (1957, p.43):

"Em suma, se houve uma evolução semântica temos de aceitar o resultado do processo, e não vale a pena quebrar lanças para restaurar o valor antigo de uma palavra".

Assim, vê-se que para ele, caso o patriotismo perdesse seu significado, o termo nacionalismo seria justo. Todavia, em seu tempo, Corção (1957, p.43) via essa evolução semântica ainda como inconclusa, e que portanto, ainda era possível lutar pelo justo termo: "Não me parece, entretanto, que o processo evolutivo tenha chegado a um termo que nos obrigue a aceitar o novo sentido". Hoje, entretanto, 61 anos depois, a situação parece-me distinta. A palavra patriotismo virou, quando não mera retórica para enganar as massas ocultando os velhos adversários da fé católica, o liberalismo e o americanismo como vistos a céus claros na campanha de Bolsonaro, apenas a descrição de um estado subjetivo da psique, uma emoção e sentimento de orgulho perante símbolos e hinos nacionais. Ou seja, patriotismo virou o Maracanã cantando o hino a capella na Copa do Mundo. Só.

Quando se fala em nacionalismo, as pessoas, ao contrário, associam à defesa aguerrida da honra nacional, de sua história, tradição e valores. De seus heróis e mitos nacionais. De seus símbolos e hinos também, mas sobretudo, ao respeito e a busca pelo engrandecimento da mesma no plano das relações exteriores, da geopolítica (o palco das nações), mas a nível micro, da busca pela prosperidade moral e material das famílias e comunidades que compõem a nação. Em outras palavras, quer como cidadão privado ou homem público de Estado, nacionalismo passou a significar a luta e a busca pelo bem comum e pelo justo fim do povo que constitui a pátria, perante a história e a eternidade.

Vemos a distinção quando Bolsonaro usa durante a campanha jargões patrióticos, símbolos nacionais, orquestra as massas com camisas verde e amarelas da seleção e gritos de guerra, e na sequência presta continência a bandeira americana sem qualquer obrigação diplomática a isso, e promove a usura nomeando banqueiros para funções altamente relevantes de Estado, promove o discurso da liquidação do patrimônio do Estado nacional, privatizando e vendendo tudo aos americanos na bacia das almas, e permitindo que os neopentecostais e gnósticos coloquem o país numa posição bem desfavorável no teatro das nações, assumindo lado em conflitos que não são nossos como no mundo árabe (mudança da embaixada de Tel-Aviv para Jersualém) ou embarcando na guerra comercial com a China, nosso maior pareceiro comercial. 

Assim como a nação é um conjunto de comunidades, que por sua vez são constituídas por famílias; as nações coletivamente também têm parentescos. Uma dessas maiores demonstrações é a ideia de iberismo, lusitanidade ou hispanidade. Uma política patriota ou sadiamente nacionalista (no seu sentido contemporâneo), envolve um respeito e uma atenção caridosa aos países que compartilham conosco a mesma semente cultural, linguística, religiosa e histórica, tais como os países lusófonos espalhados pelo mundo, como Timor Leste, Angola, Moçambique, Cabo Verde, e a nossa amada pátria-mãe, Portugal. Ou ainda, aos nossos irmãos espanhóis, como os argentinos, venezuelanos, colombianos, uruguaios, mexicanos, e etc. A atenção a órgãos como CPLP e Mercosul são fundamentais para uma política francamente patriótica e, portanto, sadiamente nacionalista, para a resolução de nosso problemas políticos, econômicos e morais. 

Mas o que vimos foi o contrário, Paulo Guedes menosprezar o Mercosul. Vimos Bolsonaro nomear um gnóstico para o Itamaraty, a mando de Olavo de Carvalho, que sabidamente é uma pessoa que odeia o Brasil e os brasileiros mais do que tudo, e que vê na nossa americanização voluntária ou compulsória, a força que pode salvar os brasileiros de si mesmos, tornando-se menos brasileiros no processo. Isso para não voltar a tratar da "banqueirada" já mencionada anteriormente, espalhando a usura do Oiapóque ao Chuí.

O general Oswaldo Ferreira, um legítimo patriota e que me parece um nacionalista na tradição de Médici e Geisel, acabou excluído do governo por razões pessoais, mas sabe-se também que ele representa a ala do exército (como já mencionado acima) que se opõe ao liberalismo econômico e ao americanismo triunfante. Ao contrário, na sua monografia sobre os problemas energéticos e da exploração do petróleo na América Latina, feita com o intuito de adentrar ao Estado-maior, o mesmo recomenda que o Brasil estreite e aprofunde seus laços com os países latino-americanos. O que faz-se agora entretanto? Busca-se ajoelhar-se perante Israel e os Estados Unidos chorando por migalhas!

Créditos à Reação Nacional e a Eduardo Cruz
Curioso como ninguém percebe que o nacionalismo judaico e o nacionalismo americano têm um carácter materialista e desenraizado, o que faz com que a sua afirmação acabe por coincidir e depender necessariamente da destruição das nacionalidades alheias. Não são nacionalismos sadios, que como diria Corção, na pior das hipóteses, terminaria num "isolacionismo emburrado com laivos de indianismo". Ao contrário, o nacionalismo judaico e o americano são voltados para o imperialismo. Por isso defino-me em relação aos dois como um cético. Um americano-cético e um sio-cético.

Portanto, urge a necessidade de recuperar o termo nacionalismo para nós, pois o termo patriotismo tornou-se "tão outra coisa" e tão depreciado, que por fim das contas, quando não se refere apenas a "tremiliques" emotivos, refere-se mais a uma abordagem entreguista ou de enganação das massas. O verdadeiro e sadio nacionalismo, são, cristão, católico, luso-hipânico é precisamente o velho e esquecido patriotismo de Gustavo Corção. Mas distinto do nacionalismo violento, totalitário e pagão, ele se preocupa com pessoas, famílias, cidades, bairros e comunidades reais, concretas, e acima de tudo, respeita a dignidade da pessoa humana. Ele quer contribuir com a grandeza da nação contribuindo ao mesmo tempo com a grandeza da humanidade. Dando um sentido a história e as tradições do povo diante de Deus e da história.

Aprendamos com os erros do neoconservadorismo americanista e liberal, e construamos uma verdadeira reação nacional.

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REFERÊNCIAS:

CORÇÃO, Gustavo. Patriotismo e nacionalismo. Rio de Janeiro: Editora Nacional de Direito LTDA, 1957.

FERREIRA, Oswaldo. Energia elétrica e petróleo na América Latina. Rio de Janeiro: ESG, 1991.

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