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domingo, 28 de junho de 2020

Agenda de Gênero: Redefinindo a Igualdade – Visão geral e ideológica


O presente artigo de autoria de Augusto Pola Júnior, faz parte os arquivos do Instituto Shibumi, e fora publicado site do grupo em meados de 2014.
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“Agenda de Gênero” é um paper escrito por Dale O’Leary que é de grande importância para entender o mecanismo de ação da nova estratégia que o feminismo tenta emplacar: a ideologia de gêneros. Trata-se de um avanço tão perigoso que se precisa destacar todo o esforço que o Pe. Paulo Ricardo vem fazendo para conscientizar as pessoas desse perigo. Segue abaixo:

Não se trata de mera teoria conspiratória. A ideologia do gênero é uma realidade que está tentando ser aplicada. Irei tratar aqui no blog de alguns apanhados importante desse paper e pretendo, à medida do possível, ir traduzindo alguns capítulos onde O’Leary faz uma análise mais teórica do feminismo. Neste artigo, contudo, tem o objetivo de expor o significado da tal “ideologia de gêneros”, alguns projetos e um pouco da base teórica da ideologia feminista que promove essa agenda.

Quando tratamos de feminismo, uma coisa precisa ficar claro. Ainda que a acusação que feministas fazem contra homem sejam verdadeiras e dignas de indignação (ex: estupro), isso não significa, porém, que o feminismo possui a melhor solução para os problemas e nem que sua base teórica seja decente. O vitimismo que o feminismo faz em sua luta de classe de mulher contra homem tem a função de obter para si o monopólio das virtudes no que tange assuntos referentes às mulheres. Esse monopólio que as feministas arrogam ter é falso:

A ideologia de gênero pode ser um termo estranho para alguns delegados. Não se refere ao “compromisso pelo direitos da mulher”, nem a oposição à discriminação sexual. Faz uma referência a ver tudo como uma luta de poder entre os homens e as mulheres. Cada problema é analisado em termos de como as diferenças entre os homens e as mulheres são a causa do problema.

Os problemas, certamente, são reais e sérios. Com frequência há homens culpados de cometer enormes injustiças às mulheres, mas a perspectiva de gêneros enxerga todos os homens como culpados e beneficiários da desigualdade de “poder”. As diferenças estatísticas entre homens e mulheres são vistas como prova de uma trama dos homens contra as mulheres. Todos os sofrimentos das mulheres são, de alguma forma, culpa dos homens.”

É neste contexto de pensamento coletivista de homens opressores e mulheres oprimidas em que o gênero passa a ser definido:
“O gênero se refere às relações entre as mulheres e os homens que se embasam nos papéis definidos socialmente que são designados a um sexo ou a outro”.

Declaração da feminista Bella Abzug:

“Nada vai nos obrigar a encarar o conceito de que ‘a biologia é o destino’ que busca definir, confinar e reduzir uma mulher a suas características sexuais.

“O conceito de gênero está inserido no discurso social, político e legal contemporâneo. Ele já foi integrado no discurso social, político e contemporâneo… O significado da palavra gênero tem se desenvolvido como diferente da palavra sexo a fim de expressar a realidade de que os papéis e status do homem e da mulher são construções sociais que podem ser modificados.”

Um folheto da INSTRAW sintetiza a picaretagem:

“O Gênero é um conceito que faz referência a um sistema de papéis e relações entre mulheres e homens que estavam determinados não pela biologia, mas pelo contexto social, político e econômico. O sexo biológico de uma pessoa é dado pela natureza. O gênero é construído… O gênero pode ser visto como o “… processo pelo qual as pessoas nascem em categorias biológicas de masculino e feminino se convertendo nas categorias sociais de mulheres e homens através da aquisição de atributos definidos localmente de masculinidade e feminilidade”.

Partindo então da premissa maluca e infundada de que não há diferença entre homem e mulher, sendo uma mera construção social, as feministas propõe então a igualdade entre gêneros. O homem deve ser emasculado, assumindo cada vez mais o papel que é corriqueiramente tido como de mulher e a mulher assumir papéis de homens.

A emasculação masculina aliada à ‘macheza’ feminina já são papéis conhecidos da guerra cultural feminista. O que a ideologia de gênero faz é tentar justificar tal avanço através de uma ideologia pseudocientífica.

Abaixo alguns exemplos retirados do livro:

  • Não interessa se as inscrições para participar de atividades esportivas são livres e voluntárias. As universidades devem ter 50-50% de participação de homens e mulheres nas atividades esportivas. Se as estatísticas mostram que os homens possuem maior interessante que as mulheres em participar de práticas esportivas na universidade, pior para a realidade, que se diminua o número de homens então…
  • Se por qualquer motivo que seja houve diferença orçamentária a respeito de gastos com equipes masculinas em relação às femininas, isso é prova de discriminação.
  • As atividades de educação física nos colégios devem ser realizadas de maneira mista: meninos jogando junto com meninas.
  • Afirmações de que na prática esportiva, as meninas podem competir em pé de igualdade com os meninos.
  • Como a maioria dos treinadores de futebol são homens. Então deve haver intervenção para mudar o estereótipo de carreiras…
  • No código americano, há maior número de leis que contém “marido e mulher” do que “esposos”; “pais e mãe” mais que a “pais”; “avô e avós” mais que “avós”; “irmãos e irmãs” mais que “irmãos”… Então tem que mudar os textos da lei.
  • Deve-se tirar da lei qualquer menção estereotipada pelas diferenças do sexo.
  • Não interessa se o homem costuma ter mais interesse do que a mulher para participar da política. Deve have cota 50-50 para o congresso.
  • Os professores devem dar tarefas de forma avançar sobre os estudos das mulheres. Ex: mandar duas alunas andarem pelos campus como se fossem lésbicas.
  • Nada de perguntar se o bebê é um menino ou se é uma menino. Ele ainda não escolheu seu “gênero”.
  • Criar banheiros “unisex” a fim de não constranger os transexuais.
  • Ao abordar um transsexual, a polícia deve atender pelo gênero que o transsexual preferir.
  • Para que intimidade? Que se promova nos colégios e universidades salas para banhos compartilhados.
  • Se nessa sala mista de banho a mulher fizer um strip-tease ou andar sensualmente com uma toalha e assim despertar olhares masculinos, pior para o homem que terá que responder por assédio na diretoria.
  • Se já querem modicar o texto de leis americanas… Textos religiosos é que não iriam ficar de fora. “Filho do Homem” passa a ser traduzido como “Humano”. Nada de Pai-Nosso, mas “Pai-Mãe-Nosso”; Nada de referência ao reino de Deus, pois reino é uma palavra que tem um “caráter ostensivelmente androcêntrico e patriarcal”; Nada de Jesus ter dito “casa de meu Pai”, ele disse “casa de meu Pai-Mãe”. Nada de de dizer mão direita de Deus para não ofender as pessoas canhotas; nada de usar obscuridade como imagem do mal, pois ofende os negros.
  • Fabricar bonecas para crianças com temática lésbica;
  • Nada de discriminar a bissexualidade, prostituição ou qualquer assunto sexual. A liberdade sexual deve ser encarada de forma sacrossanta.
Sim, trata-se de medidas absurdas que estão querendo implementar, mas a cereja do bolo está em retirar da mulher sua vocação para ser mãe:

“O objetivo é a igualdade estatística entre o homem e a mulher em todas as atividades e campos. O maior obstáculo para a igualdade estatísticas é a maternidade – a vocação da mulher como principal cuidadora dos filhos. Se a maioria das mulheres, ou mesmo uma porcentagem significativa de mulheres, escolhem a maternidade como sua vocação principal, então a igualdade estatística se torna impossível, já que o número disponível de mulheres para trabalhar fora de casa se reduz de forma substancial. Deste modo, o objetivo principal da “perspectiva de gênero” é a desconstrução da maternidade como única vocação da mulher”.

Em “Filosofia da Adultera”, Luiz Felipe Pondé sintetiza com humor a estratégia geral para que absurdos sejam mesclados à cultura e ações de governo:

Na mentalidade dita “progressista” (esquerdista), temos pessoas que acreditam que é um absurdo constatar a diferença entre o sexo masculino e feminino. A diferença sexual seria uma maneira de justificar uma opressão sobre a mulher (opressão que é refutado em qualquer debate ‘clássico’ contra o feminismo) e por isso deve ser modificado para gênero. Alheio a realidade, é exatamente este tipo histeria coletiva que está tentando ser implementado no “senso comum”.

Muito da raiva dos “progressistas” aos conservadores consiste no fato que estes não aceitam se curvar à loucura e preferem fazer usar a consciência para analisar a realidade.

O que se pretende com a ideologia do gênero? Oras, com o fim da distinção entre homem e mulher, homossexual e heterossexual, simplesmente se colocaria fim ao direito de família.

Este tipo de agenda, além de potencializar a promiscuidade, implora por um poder político arbitrário que imponha leis e implemente programas doutrinárias para fins de subversão cultural. Percebe-se que entre os objetivos está presente a concentração do poder político em função da promoção da confusão social.

Além disso, o desmantelamento da família monogâmica favorece o sonho marxista do Estado como educador. Estratégia oriunda do marxismo clássico (Origem da Família, Propriedade Privada e Estado):

“A primeira condição para a libertação da esposa é trazer de volta todo o sexo feminino para a industria pública e que isso, por sua vez, permita a abolição da família monogâmica como a unidade econômica da sociedade (Engels, p.66)”

Com a transferência dos meios de produção na propriedade comum, a família deixa de ser a unidade econômica da sociedade. As tarefas domésticas privadas se transformam em uma indústria social. O cuidado e a educação dos filhos se convertem em assunto público. A sociedade cuida de todos os filhos igualmente, sejam legítimos ou não. Isso suprime toda a ansiedade sobre as consequências que hoje é o fator social mais essencial – além de moral econômica – que evita a uma menina entregar-se completamente ao homem que ama. Não será suficiente provocar o crescimento gradual de encontros sexuais incontroláveis e com ele uma opinião pública mais tolerante com respeito a honra de uma donzela e a vergonha de uma mulher? (Engels, p. 67)”

Essa idéia é ainda um sonho esquerdista, como deixa claro esta citação:

“Um futuro justo seria aquele em que não houvesse gênero. Em suas estruturas e práticas sociais, o sexo de um não teria mais relevância que a cor dos olhos ou o tamanho dos dedos do pé. Não haveria assunção sobre os papeis “masculino” e “feminino”. O ter filhos estaria conceitualmente separado de criá-los e de outras responsabilidades familiares que seria causa de surpresa e não de pouca preocupação se o homem e a mulher não se responsabilizem por igual da atividade doméstica ou se os filhos fossem passar muito mais tempo com um pai que com o outro. Seria um futuro em que o homem e a mulher participariam em números mais ou menos iguais em todas as esferas da vida, desde o cuidado com os filhos até diferentes tipos de trabalhos remunerados e a altos nível político. (Susan Okin, Justice, Gender, and the Family (New York: Basic Book, 1989), p.170).

A ideologia do gênero já estava como estratégia para desmantelar a tradição ocidental em 1978 no livro “Dialética do Sexo” de Shulamith Firestone.

“Da mesma forma que para assegurar a eliminação das classes econômicas é necessário a rebelião da classe marginal (o proletariado) e, na ditadura temporária, seja tomado os meios de produção, para assegurar a eliminação das classes sexuais é necessário a rebelião da classe marginal (as mulheres) e a tomada dos meios de reprodução: a restituição à mulher da propriedade sobre seus próprios corpos, além do controle feminino da fertilidade humana, que inclui tanto a nova tecnologia como todas as instituições sociais de maternidade e criação de filhos. E como o objetivo final da revolução socialista não era a eliminação do privilégio da classe econômica, mas a distinção da classe econômica em si, por isso que o objeto final da revolução feminista deve ser, a diferença do primeiro movimento feminista, não apenas a eliminação do privilégio masculino, mas sim a mesma distinção de sexos. A distinção de sexos entre seres humanos já não importa culturalmente.”

Segundo Firestone, a liberação sexual seria o motor para impulsionar a liberação política e econômica
(marxismo):

“Se a precoce repressão sexual é o mecanismo básico pelo qual se produzem as estruturas de caráter que respaldam a servidão política, ideológica e econômica, o fim do tabu do incesto, por meio da abolição da família, poderia ter profundos efeitos. A sexualidade se libertaria de sua camisa de força para erotizar toda nossa cultura, mudando sua definição.”

Se a agenda do gênero já não omite mais sua existência, pelo contrário, tornou-se elemento de pressão e proselitismo pseudo-científico, é porque o movimento revolucionário conseguiu grandes progressos no âmbito cultural. Sexo livre, “ter” acima do “ser”, banalização do casamento… Em suma, um giro de 180 em torno da moralidade cristã.

Olavo de Carvalho destaca que um dos grandes problemas em combater o movimento revolucionário é que conforme ele avança em sua agenda, impregnando no “senso comum”, vai se esquecendo o que ocasionou tal mudança. Uma transformação que foi condicionado por engenharia social passa a ser interpretada como se fosse uma “evolução espontânea”. Se alguém tentar alertar da armadilha, um rótulo pejorativo será impregnado (obscurantista, retrógrado, etc). A idiotice (pessoa fechada em suas idéias) é hermética.

Para quem quer sair da idiotice, é urgente que leia o trabalho de Dale O’Leary.

A posição pró-família não é uma rígida defesa do passado, mas um intento racional de suprimir essas coisas que restringem de forma artificial uma mulher, ao mesmo tempo que protege o direito da mulher ser diferente. Os defensores da família teriam vontade de entrar no debate sobre o que era artificial e o que era natural, mas as feministas não estão abertas para debater o tema. Para as feministas de gênero, o diferente é desigual e o desigual é injusto.

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