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sábado, 27 de junho de 2020

As diferenças entre as finanças de uma família e as do governo federal são muitas...

As diferenças entre as finanças de uma família e as do governo federal são muitas. Primeiro, os gastos públicos geradores de emprego e renda afetam toda a dinâmica do sistema econômico, contribuindo para aumentar a arrecadação de impostos. Os resultados das políticas de austeridade em diversos países da periferia europeia podem servir de exemplo: ao agravar a recessão e a frustração de receitas do governo, os cortes no Orçamento acabaram ampliando o deficit fiscal inicial.

As condições em que famílias e governo federal financiam uma eventual diferença entre gastos e arrecadação tampouco são as mesmas. A maior parte das famílias brasileiras tem pouco acesso a crédito. Já o governo federal, apesar dos juros altos para padrões internacionais – mesmo se levados em conta o patamar de nossa dívida e nossa taxa de inflação –, não encontrou nenhuma dificuldade em vender seus títulos públicos no mercado desde o início da crise.

Além disso, ao contrário das famílias, os governos têm a capacidade de elevar seus impostos e aumentar sua própria base de arrecadação. Se taxasse sobretudo aqueles que consomem uma parcela relativamente pequena de sua renda (os mais ricos) e ampliasse a renda dos que consomem relativamente mais (os mais pobres), o governo poderia dar um estímulo à economia sem desequilibrar o Orçamento. 

Soma-se a isso o fato de que, no Brasil, os que estão no topo da distribuição de renda pagam impostos baixíssimos para padrões internacionais e os que estão na base consomem essencialmente tudo aquilo que ganham. 

Por fim, assim como as dívidas assumidas por uma família para comprar uma casa ou para educar os filhos, os investimentos públicos também podem trazer retorno no longo prazo. Como vimos, os gastos com a melhoria da infraestrutura do país, por exemplo, não apenas geram empregos no curto prazo, mas também elevam a produtividade e a competitividade das empresas no futuro.

- CARVALHO, Laura; Valsa brasileira: do boom ao caos econômico, p. 97-98.

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