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quarta-feira, 18 de março de 2015

A Filosofia política dentro da filosofia popular de Luiz Felipe Pondé


Luiz Felipe Pondé
Após ler três livros de filosofia do cotidiano de Luiz Felipe Pondé, pude fazer uma sistematização, ainda que um tanto atécnica do pensador brasileiro. Inicialmente, fica evidente que Pondé é uma excelente alternativa de conservadorismo para pessoas seculares e até mesmo ateias que acharem que há algo errado com o mundo.

Niilista, secular e conservador. Pondé é a perfeita fusão de Nietzsche e Hume. "Em Guia politicamente incorreto da filosofia", Pondé critica um método de controle coletivo. Em "Contra o mundo melhor", Pondé ataca a finalidade desse método e, somente em "A era do ressentimento" o filósofo vai de encontro ao sujeito agente dos primeiros livros.

Para Pondé, nós somos muitas coisas ruins, mentirosos, ressentidos, invejosos, fracos, etc. E por isso mesmo o mundo melhor é uma ilusão, por outro lado, uma nova filosofia de cátedra nos diz que somos bonzinhos, amigáveis, virtuosos e muito legais. E obviamente tudo que há de ruim no mundo é culpa de alguma agente externo. Na filosofia de Pondé essa mania de terceirizar os vícios e ficar só com as virtudes não passa da confirmação de sua própria teoria. É um analgésico moral para viver fingido ser moralmente superior. Isto fica muito evidente em "Contra o mundo melhor" e no "Guia politicamente incorreto da filosofia", o ressentido (que ele irá trabalhar no terceiro livro) é alguém que em nome de alguma novíssima causa "mui nobre" acredita-se moralmente superior àqueles que questionam a nobreza da mesma.

Para o autor isso é em si mesmo um vício moral, pois além de isto derivar do ressentimento que temos diante do mundo (totalmente desprovido de significado ou sentido), é uma forma de covardia, pois é um artifício utilizado pelas pessoas "inteligentinhas" para se proteger da realidade. Isto é, no desespero de se livrar de um mundo sem sentido, elas escolhem criar o sentido de suas vidas, seja por meio da esquerda pós-moderna (new left), onde se luta por todas as singularidade, individualidades e peculiaridades da sociedade em que vivemos, partindo do princípio de que há uma injustiça ou uma relação desigual de poder na mesma. Ou por meio da velha esquerda que acredita num materialismo histórico dialético que cria, por meio dos embates de classe, o caminho que a história prosseguirá até o comunismo.

Para Pondé, somos - parodiando Nietszche - insetos que do nada surgimos em um planetinha que circunda uma estrelinha, que por acaso desenvolve sua maior riqueza, uma coisa chamada conhecimento e que, por fim, essa estrela se apaga e tudo morre. Para Pondé, diante de todo esse vazio, nos ressentimos, pois nos achamos superiores a esse lack of meaning. Como escreveu Klaus Meine da banda Scorpions:

Humanity, Auf wiedersehn it's time to say goodbye.
The party's over as the last laughter dies an angel cries.
Humanity, It's au revoir to your insanity 
You sold your soul to feed your vanities, our fantasies and lies
You are a drop in the rain, Just a number not a name 
If you don't see it You don't believe it  
At the end of the day You are a needle in the hay  
You signed and sealed it And now you gotta deal with it 
Humanity, humanity Good bye
Quando percebemos que nem o universo e nem a sociedade nos dão o valor que acreditamos ter, nos ressentimos, e com isso, procuramos os analgésicos morais. Este é, talvez o tema central de "A era do ressentimento".

O analgésico moral

O analgésico moral se chama "Politicamente correto". O politicamente correto nada mais é que uma moral secular e provisória, pois varia de acordo com a história e as condições políticas - por isso Pondé diz que a política tomou o lugar da Graça - e que serve de arma política do ressentido. Isto é, diante da completa falta de sentido da existência, da constatação da não-existência de Deus, o homem, em face do ressentimento, decide criar o próprio sentido de sua existência, quase sempre tornar o mundo melhor (seja lá o que isso possa significar, desde Hitler a Foucault passando por Stalin), e para alcançar isso, decide minar a moral tradicional, fundada em pressupostos metafísicos "não-verdadeiros" (para eles) impondo desde cima a nova moral laica. 

Para Pondé, a moral tradicional é superior justamente pelos seus fundamentos. Ao passo que a moral laica (a praga PC) é existencial e historicista, a moral tradicional é essencial e perene e justamente por se amparar na existência de um Deus justo, bondoso e perfeito, ela o leva a reconhecer suas próprias fraquezas e aceitá-las; por isso, reconhecendo-se frágil e pecador, o homem antigo era moralmente superior ao homem ressentido da pós-modernidade. O homem ressentido, não. O homem ressentido se acredita mais especial e virtuoso do que de fato é, por acreditar ser portador de uma suposta verdade santa que deve ser imposta sobre todos para mudar o mundo. Se antes a única coisa que poderia redimir o mundo era a Graça, para o homem pós-moderno é o deus-Estado que é o responsável pela materialização e realização da fé metastática de que fala Voegelin.

Assim sendo, o politicamente correto nada mais é que essa moral secular que serve de arma do homem ressentido para fazer o mundo melhor dos seus sonhos. E é contra isso que Luiz Felipe Pondé se insurge, batendo e atacando tanto os fins, quanto os meios e o próprio autor da ação. Um filósofo essencial para os dias de hoje e pra a compreensão dos fatos políticos que nos cercam.

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