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terça-feira, 16 de agosto de 2016

Um complemento e um cumprimento ao texto de Hugo Rossi - um post scriptum ao quiproquó ayaniano


Todo o quiproquó que se tornou meu texto acerca da hipótese da confessionalidade do Estado, gerou diversas reações no limitado espaço que ocupo nas redes sociais. Para os que não entenderam, tudo não passou de um conflito deste escritor contra três oponentes, a saber: Luciano Ayan, Roger Roberto e Marcos Aurélio Lannes Jr. Se colocarmos ainda as críticas de Octávio Henrique, poderiam-se dizer quatro, contudo, como não o respondi por meio de texto, não o contarei.

Tirando a incultura, aspecto essencial para se fazer parte da "nova direita", a conversa com Ayan até que foi produtiva, sério! Não é sacanagem caro leitor. Primeiro de tudo, o que ficou nítido é que Ayan esperava que eu fosse tentar contradizê-lo ou refutá-lo sobre a necessidade da guerra política ou até mesmo da sua existência, ele se ferrou nessa.

Primeiro de tudo por uma simples razão: Ele tem um conhecimento muito limitado da minha base neotomista e, como consequência disso, é incapaz de compreender o meu olhar sobre o plano de diálogo (recuso-me a chamar aquilo de discussão ou debate, pelo menos num primeiro princípio). Explicarei mais adiante porque Ayan se ferrou legal, mas vamos falar primeiro do texto inicial, que foi uma resposta personalista minha acerca das razões que me fazem rejeitar a luta política, o que ficará melhor entendido e sistematizado ao fim deste texto para quem não manjou (como Ayan a princípio) o meu ponto. E na sequência, abordarei a muito feliz análise do amigo Hugo Rossi, com quem compartilho toda uma sorte de opiniões, mas também, como é natural, devemos ter nossas contradições.

No meu primeiro texto só fui desdenhoso para com Ayan porque ele mesmo assim também foi para comigo. Quem quer que me conheça sabe que eu procuro manter uma postura o mais independente possível, sem qualquer "patotinha" política. Essa posição de relativa independência me dá a possibilidade de criticar e elogiar o que eu entendo como sendo errado ou certo nos mais variados lados da guerra política que Ayan e Roger jogam, e nesse grupos se encontram tanto os liberais e libertários que compõem a "nova direita", e também os adeptos mais fervorosos de Olavo de Carvalho, sem com isso, me comprometer ideologicamente ou programaticamente com a "patota". É claro que isso impõem um ônus a quem quer que integre essa posição na guerra política, uma das razões pelas quais decidi não participar dela, mas falarei mais disso adiante.

Portanto, quando Ayan me chama de "olavette" ou de "direita true", ele falta com a verdade e até mesmo me ofende, pois estes rótulos são aplicados de forma pejorativa. Basta digitar a expressão "direita true" no site deles e ler as definições mais correntes. Por isso, decidi aplicar o revide, utilizando as expressões "liber-mavismo" e "MAV-Liber". Ao contrário dos mesmos, eu pelo menos fui honesto com os adjetivos, pois descrevem um tipo de comportamento nas redes sociais que se caracterizam por militância aberta por meio de sites e rede sociais em favor de um grupo político em específico, como é o caso do MBL. Parafraseando Bill Clinton, "It's the political war, stupid!".

Ora, o que Ayan e Roger Roberto fazem ao conseguir estabelecer parcerias com o MBL em sua página para que este divulgue seus textos em tom acusativo ou noticioso-sensacionalista contra este ou aquele adversário político, não é nada diferente do que o PT fazia contra os seus em blogs como Tijolaço, sites como Pragmatismo Político e Brasil 247. A diferença é claro é que o dinheiro de um é privado e o de outro é público. Nisso, muito pior pro PT. Além das "ayanetes" e "robertetes" como Octavio Henrique e outros que se dedicam a compartilhar e espalhar esses posts em todo lugar. Isso soa familiar? Sim, MAV!

Ou seja, enquanto mesmo que em retribuição com tom de ofensa, a minha acusação foi muito mais uma definição de uma forma de comportamento do que um simples uso pejorativo de um rótulo como fizeram Ayan e Roger. A prova cabal disso é a não respondida demonstração de que o rótulo era extremamente elástico e impreciso, abarcando uma infinidade de grupos políticos e indivíduos que não têm qualquer relação um com o outro, e até mesmo chegam a ser hostis um para com o outro! A pergunta é: Quando eles fazem isto contra os seus adversários eles estão errando? Não necessariamente, mas quando exigem que todos os interessados em política assim o façam, estão.

O ônus que minha postura independentista cria a quem quer que a adote na guerra política, é o de reduzir o espaço de manobra para quem quer que deseje estabelecer alianças, ainda que pontuais com grupos diversos, contra oponentes em comum. Como eu acho a retidão das minhas palavras e ideias e minha liberdade de atacar e aplaudir o que eu quiser muito mais importante do que alcançar este ou aquele fim político, decidi não participar da guerra. Mas, o que é a guerra política, afinal?

Segundo a minha percepção (lembre-se, sempre amparada no aristotelismo-tomista), a guerra política a que Ayan se refere, ocorre principalmente na modernidade em escala nunca antes vista na história, por conta dos malefícios da revolução liberal. Combinando, assim, a parlamentarização perpétua da política de Estado, a centralização e burocratização do Estado moderno, com os avanços econômicos e principalmente técnicos que o desenvolvimento científico permitiu e com a liberdade de ser canalha impunemente da moderna gnose imanentizada da deusa "Liberdade", parafraseando Ferrara, criou o mecanismo que em meu texto final chamei de big politics.

A big politics é fruto do crescimento da face burocrática do poder, criando assim uma casta de pessoas que concentram em suas mãos o monopólio de legislar e definir em última instância as definições morais de justo e injusto. Como resultado, o Estado tornou-se um corpo político desligado do resto da sociedade, flutuando sobre ela inacessível, a existência de um parlamento permanentemente aberto com representantes legislando em tempo integral eliminou a autonomia dos corpos sociais previamente existentes, criando a dicotomia moderna Estado-indivíduo. Os escassos pontos de ligação entre este corpo burocrático e a sociedade são os pontos em que ocorrem a famigerada guerra política.

Na civitas romana e nas poleis gregas, a guerra política era a batalha entre indivíduos e ministros de Estado que se circunflexava ao derredor do rex ou do imperator, sendo, portanto, uma luta entre poucos indivíduos. Como a organizaão social era bem mais simples, haja vista que o modelo era mais ou menos corporativo também, o cursus honorum era um meio pelo qual havia uma enorme proximidade entre os setores vários do populus/demos e o corpo governamental organizado. Assim, se desenvolveu na Grécia e em Roma (ao menos na Roma monárquica e republicana, com a diferença em que a guerra política era travada no senado, e menos na imperial) a peculiar situação em que para se ser politicamente ativo na sociedade, o cidadão não precisava integrar a chamada guerra política. A inexistência da big politics era devido a enorme proximidade entre governantes e governados e o escasso numero dos governantes. Para exemplificar, imagine uma gota de álcool diluída numa piscina olímpica.

No Estado moderno, a racionalização e a burocratização criaram uma casta de administradores profissionais que estão separados de nós, míseros plebeus, ralé composta por pobres mortais desposssuídos de qualquer meio de pressão no governo, que não seja apertar botões numa pouco confiável urna eletrônica de 2 em 2 anos, elegendo autoridades locais e nacionais neste período. Para piorar, a individualização progressiva da sociedade produzida pela revolução liberal juntamente com as enormes dimensões dos países, nascidos do moderno conceito de Estado-nação, fizeram com que ao "reino da democracia e da liberdade" tivesse um poder espoliador infinitamente maior do que qualquer monarca absoluto ou senhor feudal jamais teve ou sonhou ter em suas ambições mais megalomaníacas.

Assim sendo, só é possível aos meros civis intervirem na esfera da big politics  através de um grande poder de mobilização popular, juntando indivíduos e formando grupos de pressão ou lobbies que pressionem os governos. (MBL?) Neste ínterim, é necessário a adequação das mais variadas concepções ideológicas de política nascidas da modernidade a planos e objetivos pragmáticos e tangíveis num curto e médio-prazo visando objetivos em comum ainda que todas as partes envolvidas não compartilhem plenamente dos mesmos ideais. Exempli gratia: Quando na altura do impeachment de Fernando Collor de Melo, PTistas e PFListas se uniram contra o ex-presidente.

Mas o exemplo mais paupável é justamente o actual, aquele esquema que Ayan e Roger integram, o esquema MBL/PSDB. Em outras palavras, a descrição mesma da guerra política tem tudo a ver com o presente estágio da sociedade actual em que a sociedade civil precisa organizar-se em grupos políticos com ambições e metas tangíveis, abrindo portanto, mão de idealismos e da própria ideologia em muitos aspectos.

Dei a chance de Ayan perceber isso no meu primeiro texto em que citei Maritain e sua concepção de sociedade política e ainda especifiquei no segundo texto no exemplo do "cidadãozinho na barbearia". As pessoas que integram os escassos pontos de contato entre o governo e os governados, são aqueles que chamamos de "ativistas" que como o nome já demonstra, são os indivíduos da socioedade civil que não se contentam em estar apenas conscientes dos poderes que nos governam, mas desejam neles intervir e procuram os meios qu enecessário forem para esse fim. A simples sugestão extremamente imbecil de que a política clássica tal qual a que se manifestava nas sociedades tradicionais é igual a big politics, é de uma grosseria ímpar, pois, caso fosse, estaríamos presenciando uma politização descomunal da existência humana, transformando a sociedade toda num grande parlamento em perpétuo funcionamento. Quando Pondé diz que "a política tomou o lugar da graça", ele não pdoeria estar mais certo, e Ayan e Roger são provas cabais disso.

Ayan e Roger são incapazes de compreender as motivações de alguém que queira ser apenas um "passivista" consciente, cujo interesse é o de ser um simples comentarista de política num veículo de baixo alcance, e que não tem qualquer interesse profissional, quer em um maior veículo de mídia, quer como membro integrante da big politics, ou ainda, como membro de grupos privados de lobby. Para eles isso é loucura! Porém, não se trata de uma decisão apenas preferencial baseada na jurisprudência do capitão Bruno, "porquê eu quis!", mas é também uma rejeição ideológica. Eu sou um antiliberal convicto, razão pela qual a realpolitik é um escândalo para mim. Aderir a ela é já aceitar o moderno conceito de Estado e política frutos da revolução liberal, que ao contrário do que se pensa, não nasce em 1789 e sim 1776. Como derrubar o atual estado de coisas não é possível, eu simplesmente escolhi me retirar da cena da guerra política.



Quanto ao texto de Hugo Rossi, cujo link aqui pode ser encontrado, só me resta elogiar a precisão argumentativa com que notou que indivíduos como Roger Roberto e Ayan são de uma inocuidade mental terrível. Roger não me surpreende, a burrice dele é uma característica ontológica de sua personalidade perturbada, sendo um predicado do mesmo completamente inamovível; contudo, Ayan, metido a high profile, não é um cara burro, só é vigarista, um sofista da modernidade. A deificação do estado manifesto na noção hegeliana dele é brilhantemente exposta por Hugo e é irrefutável. A ligação Maquiavel-Hegel-Kant é evidente em cada linha de arrogância e picaretagem, o que só resta a Ayan o chororô. Não é de se estranhar que a reação final dele foi a de me bloquear na página dele como um nababo manco, que com medo de maior fracasso, se precaveu não indo a combate... Logo ele, o "senhor da guerra política", um vexame sem igual.

A maior surpresa dele, é claro, foi o fato de achar que eu o rebateria, quando na verdade apenas me limitei a concordar com o mesmo e, despreparado para ouvir a resposta que dei, não soube o que dizer a não ser um mar de ofensas tão idiotas quanto os apelidos que algumas olavettes aplicam a seus inimigos, sem ofensas, Hugo. Ele veio preparado para bater em alguém que, com planos e ambições traçadas, adotou a "não-estratégia" de negar a guerra política, o que é contraditório com o status de quem quer influenciar o rumo das coisas. Mas, ao descobrir que eu JAMAIS desejei alterar o rumo das coisas (quem sou eu na fila do pão para tamanha ambição?), ficou limitado a acertar um espantalho condenado a morte por um show de impropérios; que vergonheira!

Ainda, agora sobre sr Roger Roberto, ele disse, como consequência da conversa com Ayan, em mais um de seus textos dadaístas que a "direita true" (referindo-se a mim, é claro) luta a guerra política contra a "direita". Bem, para isso primeiramente vocês todos deveriam ser de direita, o que não são. Ayan é no máximo um centrista metido a esperto, Roger um esquerdista iludido de que libertarianismo é direita... Segundo, o próprio curso dos fatos em discussão demonstram por si só de que eu optei por não ser um player da política grande. Negar esse último e derradeiro fato é contraditar todo o discurso de Ayan em seu último texto, é uma postura autorrefutável, mas que dado cérebro de beterraba que o último visívelmente possui, não seria algo com que eu me surpreenderia. Em suma, tudo o que eu fiz foi advogar o meu inalienável direito natural individual de não dar a mínima, quando eles de alguma forma defendem a postura de que idealmente todos deveriam se submeter a essa causa coletiva, o que não deixa de ser cômico vindo de individualistas radicais.



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