Fascismo permanece “apesar” de sua ampla utilização em toda sorte de discursos e debates de caráter político como um termo de difícil definição, é natural que termos ideológicos genéricos – como socialismo e liberalismo também são – sejam assim, dada a diversidade de manifestações e experiências que rotulam – a exemplo de socialismo que serve igualmente (como termo genérico) para rotular a experiência soviética (em suas diversas fases) bem como as esquerdas democráticas ocidentais – contudo, os problemas de definição não decorrem somente de problemas inerentes à própria ideologia e os movimentos que abarcaria, vem, sobretudo, da degeneração do termo em uma espécie de xingamento utilizado tanto pela esquerda (tradicionalmente por esta) quanto pela direita, o que leva J. Goldberg na introdução de seu “Fascismo de Esquerda” a brincar que “(...) quanto mais alguém usa a palavra “fascista”1 em sua linguagem cotidiana, menor a possibilidade de que saiba do que está falando” e em passagem posterior referenciar a conclusão que George Orwell (autor de 1984) chegara em 1946, de que a palavra “fascismo” não mais tinha significado que não fosse designar algo indesejável.
Enquanto as ideologias rivais –
liberalismo e socialismo – atingiram suas maturidades entre os finais dos
séculos XVIII e XIX, o Fascismo sequer poderia ser concebido até a ocorrência
da Primeira Guerra Mundial, apesar de pontuais experiências ocorridas nas
décadas finais do século XIX apresentarem características em comum com que
viria a ser Fascismo como o “Boulangerismo” francês, este somente se tornou
possível com o próprio século XX, quando as características tornaram-se
disponíveis para reunião, conforme será visto em momento posterior. Além do
nascimento tardio, o Fascismo não teve em sua fundação uma grande fundamentação
teórica anterior, como seus rivais, não houve um “Marx”, “Burke” ou equivalente
fascista, Robert O. Paxton caracteriza-o, em contraste com seus rivais, como:
Os “ismos clássicos eram fundamentados em sistemas filosóficos coerentes, formulados no trabalho de pensadores sistemáticos. É natural que, ao tentar explicá-los, parta-se do exame de seus programas e das filosofias que os embasam. O Fascismo, ao contrário, era uma invenção nova, criada a partir do zero para a era da política de massas. Ele tentava apelar sobretudo às emoções pelo uso de rituais, de cerimônias cuidadosamente encenadas e de retórica intensamente carregada.2
Fascismo encontra suas origens
no italiano fascio – que em italiano significa maço ou feixe – que referencia o
fasces da Roma Antiga, um machado cercado por um feixe de varas que utilizado
em cerimônias oficiais – tanto jurídicas quanto militares – como representação
da unidade e da autoridade do Estado Romano e que, no século XIX foi revivido
após muito esquecido pelas Repúblicas Francesa e Americana como símbolo de
Justiça e Solidariedade. Somente nas décadas finais do século XIX o termo fasci
ganhou significado de grupo formado com intuito político até então à esquerda,
a exemplo dos Fasci Siciliani –
movimento de massas de inspirações socialistas que promovera insurreições
contra os grandes senhores de terras entre os anos de 1889 e 1894.
Apenas com os Fasci di Azione Rivoluzionaria – fundado
em Milão em dezembro de 1914 – grupo nacionalista de inspirações sindicalistas
ao qual Benito Mussolini juntou-se e que, ao lado de outros grupos, como os
futuristas de Marinetti defendera a entrada da Itália na Primeira Guerra
Mundial ao lado da tríplice Entente – que encontrara seu ápice após a
assinatura do Tratado de Londres, que comprometera a Itália com a causa da
Entente, quando, por quase um mês, até a aprovação da intervenção por parte do
Parlamento organizou, tal como outros grupos, demonstrações pró-guerra nas
principais cidades italianas e esgotou-se pouco após a declaração de guerra
italiana ao Império Austro-húngaro no que se chamou de “Maio Radiante” – é que
o termo veio a se aproximar do que viria a ser posteriormente, pois o Fasci di Azione Rivoluzionaria veio a
ser o primeiro ensaio do que viria a ser posteriormente o Fascismo – termo que
Benito Mussolini cunhara no pós guerra para descrever o grupo que se formara ao
seu redor.
Há noventa e seis anos reuniam-se na manhã de 23 de março de 1919 em torno de Benito Mussolini algo entre cento e vinte e duzentas pessoas – em sua maioria veteranos de guerra, juntamente com futuristas de Marinetti, nacionais-sindicalistas e outros que, tal como Mussolini, eram dissidentes da esquerda – na Piazza San Sepolcro em Milão para a fundação do Fasci di Combattimento, o programa do movimento, divulgado meses depois, em que encontravam lugar simultaneamente as reivindicações nacionalistas da expansão italiana sobre os Balcãs e Mediterrâneo que a Conferência de Paz em Paris frustrara, juntamente com sufrágio feminino, jornada de trabalho de oito horas, participação dos trabalhadores na gestão das fábricas, confisco dos lucros de guerra à abolição da Câmara alta e nacionalização, constituindo assim “(...) uma curiosa mistura de patriotismo dos veteranos e de experimento social radical, uma espécie de nacional-socialismo”3. Se as coisas nascem ao adquirir nome, foi nessa data que o Fascismo nascera oficialmente.
Alguns autores particularizam esta como data de nascimento do fascismo italiano e situam a origem do
fascismo não na Itália do pós-guerra, focando em certas características, em
momentos e movimentos anteriores, os três ocorridos em território francês,
colocando a França e não a Itália como “berço do fascismo”, os candidatos mais
recorrentes são a Action Française de
Charles Maurras – fundada na década de 1898 durante o “Caso Dreyfus” – ou o
movimento que formou-se em torno do General Boulanger entre os anos de 1886 e
1889, enquanto outros autores, como dois que serão aqui citados a situam na
França Revolucionária, do primeiro deles, Steven Pinker – autor de “Os anjos
bons de nossa natureza: por que a violência diminuiu” retira-se:
Um modo melhor de entender os dois séculos passados, argumentou Michael Howard, é vê-los como uma batalha por influência entre quatro forças – humanismo esclarecido, conservadorismo, nacionalismo e ideologias utópicas – que ocasionalmente se juntaram em coalizões temporárias. A França napoleônica, como emergiu da Revolução Francesa, tornou-se associada, na Europa, ao Iluminismo Francês. Na verdade, é melhor classificá-la como a primeira implementação do fascismo. Embora Napoleão realmente realizasse algumas reformas racionais, como o sistema métrico e os códigos de direito civil (...), na maioria dos aspectos ele voltou o relógio em relação aos avanços humanistas do Iluminismo. Assumiu o poder recorrendo a um golpe de Estado, (...), enalteceu a guerra (...). A França revolucionária e Napoleônica, mostrou Bell, foi consumida pela combinação do nacionalismo francês com uma ideologia utópica. Essa ideologia, como as versões do cristianismo que a precederam e o fascismo e o comunismo que a sucederam, era messiânica, apocalíptica, expansionista e certa de sua retidão. Via seus oponentes como irremediavelmente perversos, como ameaças existenciais que tinham de ser eliminadas em nome de uma causa santa4
Enquanto do segundo, o conservador Jonah Goldberg em seu já citado
“Fascismo de Esquerda”, extrai-se: Contando com o
benefício da visão retrospectiva, é difícil entender por que alguém duvida da
natureza fascista da Revolução Francesa. Poucos negam que ela tenha sido
totalitária, terrorista, nacionalista, conspiratória e populista. Produziu os
primeiros ditadores modernos, Robespierre e Napoleão, e baseava-se na premissa
de que a nação precisava ser governada por uma avant-garde iluminada que
serviria de voz autêntica, orgânica da “vontade geral”. (...) Mas o que realmente
fez da Revolução Francesa a primeira revolução fascista foi seu empenho em
transformar a política numa religião5
Natural que então se passasse a
posicioná-lo entre os campos “Esquerdo” e “Direito” do convencional espectro
político, eis que o processo de degeneração do termo soma-se novamente àquelas
dificuldades inerentes à própria ideologia. Diferentemente das ideologias
rivais – liberalismo e socialismo – que têm um consenso em torno de suas
localizações, à direita e à esquerda respectivamente, ocorre com o fascismo um
fenômeno semelhante a uma partida de tênis de mesa, em que é lançado entre
direita e esquerda, de um para o outro e então – através de grosseiras
simplificações ou tendenciosos isolamentos de características – aproximá-lo de
seus adversários e então rotulá-los como fascistas, então Liberais,
Conservadores, Esquerdistas, Socialistas e até mesmo instituições como a
Polícia ou a Igreja Católica são assim apontadas – o fenômeno pode ser
traduzido pela piada que Douglas Harper inserira no verbete “fascism” de seu
dicionário etimológico, de que “é o termo aplicado a todos desde o surgimento
da internet” e que inspirara a chamada “Lei de Godwin” que coloca que quanto
mais se prolonga uma discussão online, as chances de surgirem comparações envolvendo
Adolf Hitler ou Nazismo aproximam-se de 1.
Uma obra – “Fascismo de
Esquerda”, de Jonah Goldberg – que fora mencionada em momento anterior, merece
destaque por se tratar de uma curiosa manifestação do fenômeno, pois, ao mesmo
tempo em que tem por objetivo a demonstração do que chama de “história secreta
do esquerdismo americano” aproximando liberais – que, em seu uso político
americano equivale a esquerdista, confirmando o dito em momento anterior de que
termos genéricos tendem a serem de difícil definição dados seus múltiplos usos,
pois, ao mesmo tempo em que, como no caso, aplica-se a esquerdistas, aplica-se
a políticos como Ronald Reagan e Margaret Thatcher, defensores do livre-mercado
(o uso norte-americano do termo figura como exceção no mundo) – de fascistas,
chegando a chamá-los de “fascistas smiley” e de “sobrinhos bem intencionados do
fascismo europeu”6.
O valor da obra encontra-se na demonstração da corrupção no uso e na significação do termo por parte da esquerda – como o faz ao demonstrar o uso que a palavra fascista adquiriu nas mãos do regime Stalinista, utilizado na descrição de toda sorte de ideias não alinhadas com as oficiais, principalmente aquelas vinculadas a Leon Trotsky – e traçando a trajetória dessa deformação desde as origens. Contudo, a obra “Fascismo de Esquerda” acaba por ser uma versão à direita do fenômeno que tão bem aponta na esquerda, uma espécie de resposta/ provocação, que diz:
O valor da obra encontra-se na demonstração da corrupção no uso e na significação do termo por parte da esquerda – como o faz ao demonstrar o uso que a palavra fascista adquiriu nas mãos do regime Stalinista, utilizado na descrição de toda sorte de ideias não alinhadas com as oficiais, principalmente aquelas vinculadas a Leon Trotsky – e traçando a trajetória dessa deformação desde as origens. Contudo, a obra “Fascismo de Esquerda” acaba por ser uma versão à direita do fenômeno que tão bem aponta na esquerda, uma espécie de resposta/ provocação, que diz:
Novamente, meu argumento é que o Liberalismo americano é uma religião política totalitária, mas não necessariamente do tipo orwerlliano. É gentil, não brutal. Embala, mas não abala. Mas é, indiscutivelmente, totalitária – ou “holística”, se preferirem – no sentido de que o liberalismo não vê hoje nenhuma área da vida humana que não esteja investida de significância política, desde que você come até o que você fuma e o que você diz. (...) O fascismo liberal de esquerda difere do fascismo clássico em muitos aspectos. Não nego isso. Na verdade, esse é um ponto central de meu argumento. Os fascismos diferem uns dos outros porque crescem em solos diferentes. O que os une são seus impulsos emocionais ou instintivos, (...) Acima de tudo, partilham a crença – que chamo de tentação totalitária – de que, com a dose certa de experimentação, nós podemos realizar o sonho utópico de “criar um mundo melhor”7
Retornando a questão da localização do Fascismo entre os campos direito
e esquerdo do mapa político e deixando para trás a questão da utilização/
localização maliciosa deste, vê-se que esta alterna entre os extremos direito e
esquerdo dependendo não só do observador como também do que se observa no
Fascismo. Aqueles que o posicionam como sendo de “extrema-direita” – como os
Marxistas o fazem – tendem a apontar para tal o virulento anticomunismo de tais
movimentos, bem como a cooperação feita entre eles e certos setores do
empresariado quando no poder e o nacionalismo, que, como será demonstrado em
momento oportuno nasceu como uma característica de movimentos à direita, ainda
que não tenha sido monopolizada por estes, como também será demonstrado.
Cabendo destacar uma recorrente definição surgida ainda nos anos 1920 e que
perpetua-se ainda hoje entre inúmeros partidários do campo esquerdo político:
Do ponto de vista do seu conteúdo, o fascismo é a forma mais reaccionária, abertamente terrorista, da ditadura do capital financeiro. Esta ditadura é evidentemente instaurada pela burguesia imperialista para prolongar o seu domínio.O recurso ao fascismo prova que a alta burguesia já não confia muito no conservar o poder político através da utilização dos meios burgueses ordinários — isto é, através dos meios da democracia parlamentar.8
Enquanto aqueles que o situam no
“extremo-esquerdo” do mapa, o fazem dando foco ao caráter anticapitalista e
antiburguês dos movimentos, bem como de semelhanças – fictas ou reais – entre
movimentos e regimes fascistas e
movimentos, regimes e partidos socialistas ou esquerdistas como a questão de
intervenção no mercado. Tal posicionamento tende a ser proferido por
Conservadores e Liberais, uma das obras, “Fascismo de Esquerda” fora mencionada
em momento anterior, que se some ao que sobre ela foi dito e seu excerto com os
seguintes trechos oriundos respectivamente da Prefácio de “O Grande Culpado” de
Viktor Suvorov, o segundo deles do filósofo Olavo de Carvalho e o terceiro
deles – e talvez o que mais destoe dos demais – de um artigo publicado pelo
Instituto Ludwig Von Mises Brasil[1]:
I
Hitler tinha uma bandeira vermelha. Stálin tinha uma bandeira vermelha. Hitler governava em nome da classe operária, e seu partido se chamava Partido dos Trabalhadores. Stálin também governava em nome da classe operária; seu sistema tinha o nome oficial de Ditadura do Proletariado (...) Hitler considerava que seu caminho para o socialismo era o único correto, e enxergava os outros como distorções. Stálin também considerava sua trilha para o socialismo perfeitamente correta, e via as outras trilhas como diversificações da linha principal (...)[2] 9
II
Benito Mussolini resumiu a doutrina fascista numa regra concisa: "Tudo para o Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado." No Brasil, se você é contra essa idéia, se você é a favor da iniciativa particular e das liberdades individuais, logo aparece um chimpanzé acadêmico que tira daí a esplêndida conclusão de que você é Benito Mussolini em pessoa.10
III
Enquanto isso, praticamente todo o mundo havia esquecido que existem várias outras cores de socialismo, e que nem todas elas são explicitamente de esquerda. O fascismo é uma dessas cores. (...)Qual o principal elo entre o fascismo e o socialismo? Ambos são etapas de um continuum que visa ao controle econômico total, um continuum que começa com a intervenção no livre mercado, avança até a arregimentação dos sindicatos e dos empresários, cria leis e regulamentações cada vez mais rígidas, marcha rumo ao socialismo à medida que as intervenções econômicas vão se revelando desastrosas e, no final, termina em ditadura.11
Outro tipo de categorização é feita pelo ideólogo do Eurasianismo Alexander Dugin que, em seu empreendimento de construção de uma “Quarta Teoria Política” faz a análise do século XX – como “século da ideologia” – como sendo a disputa de três grandes ideologias: liberalismo, socialismo e fascismo, ou respectivamente, primeira, segunda e terceira teorias políticas[3]. Descrevendo-o como:
E como faz com as outras ideologias, atribui a ele um sujeito histórico – que seria a quem seus projetos, ideias e visões são direcionadas – que no caso da primeira e segunda teorias políticas seriam respectivamente o indivíduo e a classe, enquanto a terceira, pela particularidade de algumas vertentes teria dois sujeitos: o estado, no caso do Fascismo Italiano (e afins) e a raça, no Nacional-Socialismo alemão. Enquanto as outras duas ideologias – liberalismo e socialismo – possuem notório caráter internacional, o que valida os termos como genéricos válidos, resta controvérsia quanto o fascismo, dado que os movimentos que recebem este epíteto guardam tantas diferenças entre si – características particularizantes – que a observação particularizada deles é, em primeiro momento, preferível à observação do quadro como um todo. Até a ocasião do Decennale, Mussolini repetira por diversas vezes que o Fascismo não se tratava de “artigo de exportação”, sendo um movimento próprio da Itália – Mussolini incentivara a criação de Fasci entre as populações emigradas com intuito de combater a influência esquerdista sobre estas, bem como propagandear pelo mundo a nova Itália, moderna e disciplinada – no entanto, movimentos abertamente inspirados no de Mussolini ganharam espaço e destaque (principalmente o Nacional-Socialismo de Hitler na Alemanha) com os efeitos da Crise, fazendo com que o Duce não pudesse se manter indiferente, passando então a observar o caráter internacional do Fascismo.O fascismo é a terceira teoria política. Como uma concorrente, por seu próprio entendimento, do espírito da modernidade, muitos pesquisadores, Hannah Arendt em particular, razoavelmente consideram o totalitarismo como uma das formas políticas da modernidade. O fascismo, porém, se voltou para ideias e símbolos da sociedade tradicional.13
Em 1932, na ocasião do Decennale, isto é, os dez anos da Marcha sobre Roma, Mussolini publica em coautoria com Giovanni Gentile o artigo “A Doutrina do Fascismo” na Enciclopedia Italiana em que não só descreve a ideologia e sua postura como branda que o século XX – em contraste com o século XIX que ali é descrito como o século do liberalismo, do socialismo e da democracia – seria um século de autoridade, o “século do fascismo” e em discurso proferido na em Milão para a comemoração do Decennale proclamara que “Em dez anos, pode-se dizer sem bancar o profeta, o mapa da Europa estará modificado. (...) Em dez anos, a Europa será fascista ou fascistizada”14.
Apesar da mudança de Posicionamento de Mussolini apenas ter-se dado no momento citado anteriormente, a ideia de um fascismo universal tendo Roma como seu centro já existia entre certos setores do Partido, a exemplo da Revista Antieuropa criada em 1928 – cujo título faz questão de tornar clara a hostilidade entre o pensamento desta e aquele da “Velha Europa” liberal – cujo diretor, Asveror Gravelli fora esquadrista de primeira hora, bem como integrante do primeiro fascio milanês, bem como da expedição de Fiume, que posteriormente tornou-se um dos dirigentes da organização da juventude (Opera Nazionale Balila), ou seja, estava em constante contato com os jovens fascistas, que criticavam o que tinham como aburguesamento do regime, pretendendo que a revolução não se restringisse à Itália e nem permitir que o regime se tornasse “morno”[4]. No final de 1930 publicou-se na revista o artigo “L’Internazionale fascista” que expunha a visão tida por esse grupo: Antieuropa é a vanguarda do fascismo europeu. Seu objetivo é unir os melhores elementos da Europa, encarnar as experiências do fascismo, alimentar o espírito revolucionário fascista (...). A conquista do poder na Itália foi só o início de uma ação europeia.15
Apesar da mudança de Posicionamento de Mussolini apenas ter-se dado no momento citado anteriormente, a ideia de um fascismo universal tendo Roma como seu centro já existia entre certos setores do Partido, a exemplo da Revista Antieuropa criada em 1928 – cujo título faz questão de tornar clara a hostilidade entre o pensamento desta e aquele da “Velha Europa” liberal – cujo diretor, Asveror Gravelli fora esquadrista de primeira hora, bem como integrante do primeiro fascio milanês, bem como da expedição de Fiume, que posteriormente tornou-se um dos dirigentes da organização da juventude (Opera Nazionale Balila), ou seja, estava em constante contato com os jovens fascistas, que criticavam o que tinham como aburguesamento do regime, pretendendo que a revolução não se restringisse à Itália e nem permitir que o regime se tornasse “morno”[4]. No final de 1930 publicou-se na revista o artigo “L’Internazionale fascista” que expunha a visão tida por esse grupo: Antieuropa é a vanguarda do fascismo europeu. Seu objetivo é unir os melhores elementos da Europa, encarnar as experiências do fascismo, alimentar o espírito revolucionário fascista (...). A conquista do poder na Itália foi só o início de uma ação europeia.15
“O liberalismo negou o Estado[6] em nome do indivíduo, o Fascismo o reassegura” assim Mussolini introduz a questão do anti-individualismo fascista que aceita o indivíduo apenas quando os interesses desse coadunarem com o macro, com os interesses do Estado que, na concepção fascista é totalitário, não somente um ente administrativo, englobando todos os valores válidos – nenhum valor que dele escape pode existir ou muito menos ter qualquer valor real – na medida em que o Estado Fascista é a síntese, a unidade de um povo o qual este potencializa e desenvolve.
Destacada é então a sua oposição ao Socialismo, o qual põe a classe acima da unidade e do Estado e sua visão histórica unicamente pautada no conceito da luta de classes. O Fascismo não traz a luta entre as classes, mas as harmoniza dentro do Estado Fascista, um modelo corporativo que harmoniza e coordena os interesses divergentes dentro de si. Rejeita a Democracia por considerar que esta rebaixa a nação a meros números, mera maioria, considerando o “indivíduo” como tudo ciente, ignorando a composição social que existe quanto às classes e organizações com seus diversos e distintos interesses, considerando a quantidade em detrimento da qualidade. Nega que números, como tais, possam ser um fator determinante na sociedade humana; nega que números por si só possam governar a sociedade, mesmo que esses números sejam obtidos por consultas periódicas através de mecanismos como o sufrágio universal.
[1] Poderiam ser citados inúmeros outros como o jornalista Leandro Narloch ou o economista liberal Rodrigo Constantino, porém, apenas por mínimos pontos diferem do discurso de Jonah Goldberg, isso quando não o referenciam abertamente, o que seria maçante de citar.
[2] E assim Suvorov prossegue por mais quatro páginas, chegando ao ponto de comparar a vida pessoal dos dois ditadores como prova de que somente eram versões diferentes do mesmo fenômeno “Socialismo”.
[3] Plínio Salgado, líder do Integralismo Brasileiro, fizera análise semelhante em seu artigo “A túnica jogada aos dados” em que disporia as ideologias como Primeira, Segunda e Terceira Posições que respectivamente seriam Socialismo, Liberalismo e Nacionalismo – pesando os acertos e erros de cada uma e propondo, ao fim, uma Quarta Posição que seria a ideal para ele, o artigo encontra-se disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=-5023
[4] Muitos dos primeiros partidários do Fascismo consideravam que o regime, principalmente após seus dez anos, perdera sua força revolucionária, tornando-se parceiro do establishment.
[5] Negando assim a equação “bem-estar = felicidade”, que para o Fascismo seria a consideração homem como gado de engorda.
[6] Ainda diz Mussolini: “Suas funções não podem ser delimitadas às de aplicação da lei e manutenção da paz, como acontece na doutrina liberal. Não é um mero aparato mecânico para a definição da esfera de exercício de supostos direitos por parte do indivíduo. (...) Em resumo, o Fascismo não é apenas um provedor de leis e fundador de instituições, mas um educador e promotor da vida espiritual. Visa remodelar não apenas as formas da vida, mas seu conteúdo, o homem com seu caráter e sua fé. Para isso utiliza-se da disciplina e da autoridade (...) portanto, escolhera como símbolo os fasces de Lictor, símbolo de unidade, força e justiça”
[2] E assim Suvorov prossegue por mais quatro páginas, chegando ao ponto de comparar a vida pessoal dos dois ditadores como prova de que somente eram versões diferentes do mesmo fenômeno “Socialismo”.
[3] Plínio Salgado, líder do Integralismo Brasileiro, fizera análise semelhante em seu artigo “A túnica jogada aos dados” em que disporia as ideologias como Primeira, Segunda e Terceira Posições que respectivamente seriam Socialismo, Liberalismo e Nacionalismo – pesando os acertos e erros de cada uma e propondo, ao fim, uma Quarta Posição que seria a ideal para ele, o artigo encontra-se disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=-5023
[4] Muitos dos primeiros partidários do Fascismo consideravam que o regime, principalmente após seus dez anos, perdera sua força revolucionária, tornando-se parceiro do establishment.
[5] Negando assim a equação “bem-estar = felicidade”, que para o Fascismo seria a consideração homem como gado de engorda.
[6] Ainda diz Mussolini: “Suas funções não podem ser delimitadas às de aplicação da lei e manutenção da paz, como acontece na doutrina liberal. Não é um mero aparato mecânico para a definição da esfera de exercício de supostos direitos por parte do indivíduo. (...) Em resumo, o Fascismo não é apenas um provedor de leis e fundador de instituições, mas um educador e promotor da vida espiritual. Visa remodelar não apenas as formas da vida, mas seu conteúdo, o homem com seu caráter e sua fé. Para isso utiliza-se da disciplina e da autoridade (...) portanto, escolhera como símbolo os fasces de Lictor, símbolo de unidade, força e justiça”
--
[1] GOLDBERG, Jonah. Fascismo de Esquerda: a história secreta
do esquerdismo americano. Editora Record. Rio de Janeiro, 2007, p.10
|
[2] Ibidem. p. 12.
|
[3] PAXTON, Robert O. A Anatomia do Fascismo. Editora Paz e
Terra. São Paulo, 2007, p.38
|
[4] PINKER, Steven. Os anjos bons de nossa natureza: por que
a violência diminuiu, Editora Companhia das Letras, 2011, p.334-335
|
[5] GOLDBERG, Jonah. Fascismo de Esquerda: a história secreta
do esquerdismo americano. Editora Record. Rio de Janeiro, 2007, p.21
|
[6] HARPER, Douglas. Online Etymology
Dictionary.
http://www.etymonline.com/index.php?term=fascism&allowed_in_frame=0
|
[7] Ibidem, p. 09-10
|
[8] Ibidem, p. 23
|
[9] SOARES, Fernando Luso. Introdução
à Política I. Editorial Escol, Lisboa, 1978, Cap. XI: https://www.marxists.org/portugues/luso/livros/politica/cap11.htm
|
[10] SUVOROV, Viktor. O Grande Culpado: o plano de Stálin para iniciar
a 2ª Guerra Mundial. Editora Amarilys. Barueri-SP, 2010, p.IX
|
[11] CARVALHO, Olavo de. Que é o fascismo?. O Globo, 8/7/2000,
http://www.olavodecarvalho.org/semana/fascismo.htm
|
[12] ROCKWELL, Lew. O que realmente é fascismo. Instituto
Ludwig Von Mises Brasil, 2014, trad. Leandro Roque, http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1343
|
[13] DUGIN, Alexander. A Quarta Teoria Política. Editora
Austral, Curitiba-PR, 2013, p.12
|
[14] MILZA, Pierre. Mussolini. Editora Nova Fronteira,
Rio de Janeiro, 2011, p. 165
|
[15] Ibidem, p.166
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário