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segunda-feira, 13 de julho de 2015

Revolução de 32: A Causa brasileira


Quando alguém pretende tratar sobre o tema dos eventos relacionados a revolução de 32, friso o termo revolução, este deve deixar claro ao leitor sobre a infinidade de assuntos e de temas subjacentes ao evento. Somente assim é possível discutir o desenrolar da revolução e entender o espírito popular dos habitantes paulistanos. Mesmo sabendo da atmosfera fecunda e fértil, vou me ater apenas aos mais interessantes fatos históricos, alguns conhecidos em maior ou menor parte, outros um tanto esquecidos.


O texto tem a coautoria de Kelvin Azevedo Santos.

Porque escrever um texto sobre a guerra-civil brasileira? É em certa parte algo de viés pessoal, mas transcende os gostos paulistas e paulistanos... Certa vez estava conversando com um bom colega de faculdade e ele me perguntou o porquê de comemorar uma revolta perdida. Frisou o caráter do perdida, como bom mineiro que é. Este texto talvez ofereça uma resposta satisfatória a ele e a todos os outros que olham de maneira simplória para a atmosfera de fatos ocorridos.



Elaborei este texto com base em fontes escritas de pesquisa, em particular pela análise objetivamente descrita do historiador Stanley Hilton em seu livro “1932: A Guerra Civil Brasileira”. No entanto, não deixei também de demonstrar conhecimentos pessoais por mim, absorvidos durante alguns eventos e palestras ocorridas em minha faculdade, um dos berços da revolução. Sei que estes conhecimentos sem fonte não seram apreciados da mesma maneira que os trechos extraídos do texto do historiado acima utilizado, mas ainda assim servem para a compreensão real do que representou este movimento. Ano passado também escrevi de maneira mais rasa sobre o assunto, mas a cada ano aperfeiçoo os conhecimentos sobre o assunto e compartilho com você leitor interessado.


Agradeço a paciência e vos desejo uma boa leitura!


1. A Causa: Revolução de 1932 – Um desenrolar da revolução de 30


1.1.Pré Revolução de 30



A velha política das oligarquias plutocráticas do café com leite (Minas- maior curral eleitoral; São Paulo - Café), geralmente formadas na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e afins, deixou gasto o revezamento de indicações ordenadas entre os lideres políticos dos estados. A base proveniente da academia, teve sua formação politica nos grêmios estudantis das grandes universidades, tem destaque quase que uníssono neste papel de manutenção da politica, o Centro Acadêmico XI de Agosto. Esta agremiação que em seu presente momento encontra-se na decadência politico-moral e econômica inclusive. Toda a vida politica de ministros e presidentes desta republica velha passava mais do propriamente pela necessidade pelos grêmios acadêmicos e sua aprovação, como uma escola de formação política necessária e de renome.


 Naquela época, tal grêmio detinha  grande importância, de tal modo que aos acadêmicos eleitos no “XI de Agosto” era concedido um carro oficial, entre outras garantias de status político. Isto se deu em grande monta à presença de entidades estudantis no florescer da estrutura política, predominante nos ambientes acadêmicos. Já diriam bons professores, “nossa faculdade forma políticos, artistas, juristas em geral, mas as vezes, bons acadêmicos”.
1.1.2. “Bucha” (Burschenschaft)
Uma entidade de grande destaque foi a vulgarmente conhecida “Bucha” (Burschenschaft) que era nada mais do que uma agremiação secreta criada na Faculdade do Largo por Julius Frank, um professor de alemão. Frank veio a lecionar no ambiente e detinha muitíssima amizade com os estudantes mais proeminentes na academia. Tanto foi que em sua morte este foi enterrado dentro dos recintos da academia, mesmo sendo tal ato contrário à legislação pátria, que não previa o enterro de protestantes dentro de solo católico.


A “Bucha” era uma associação mista de discentes e docentes que compartilhavam dos espíritos adjacentes ao espirito liberal e certa aceitação ao pensamento maçônico.  Uma sociedade secreta, liberal e filantrópica que defendia ideias liberais e republicanas. Claro que por sua duração longínqua e proeminente, ela garantiu uma maior amplitude de ideias, aceitando até monarquistas, conservadores e afins. Sua relação direta com o Centro Acadêmico era notável, sempre decidindo ou preelegendo candidatos ganhadores, mas o que mais espanta é o seu papel além das arcadas franciscanas...
Dentro dos encontros secretos da Bucha, em que só podiam adentrar os iniciados quando guardavam sigilo sobre  as deliberações internas, eles decidiam não só o futuro do grêmio estudantil mas também a criação de lideres politico-administrativos da nação como um todo. Decidiram, por exemplo, como fazer um presidente do Centro acadêmico conseguir a posição de presidente da republica pós 1891, e como fazer outros alunos ganharem cargos como o ministro da fazenda. Isto se faz como fato comum e de senso comprovado quando vemos que muitos ex-membros da bucha ocuparam cargo de notável destaque na politica nacional e fomaram uma escola de presidentes, os quais perduraram até um momento. Este momento foi a derrocada de Washington Luiz/Júlio prestes.
Mesmo extraído do site Wikipédia, este excerto abaixo se faz verossímel com os fatos históricos.

“Diversos membros da Bucha tiveram enorme influência nos acontecimentos políticos ocorridos a partir do séc. XIX. Entre os 133 participantes da Convenção de Itu, em 1873, que resultou na criação do Partido Republicano Paulista, predominavam bucheiros como Campos Salles, Francisco Glicério, Américo de Campos e Rangel Pestana. Esses últimos foram, ao lado de Júlio de Mesquita, os fundadores do jornal O Estado de S. Paulo, que foi também uma espécie de órgão oficial da Bucha. Consta que Júlio de Mesquita Filho foi "chaveiro" da Bucha .A famosa Comissão dos Cinco, encarregada de elaborar o anteprojeto da Constituição republicana, tinha entre seus membros três "bucheiros", Saldanha Marinho, Américo Brasiliense e Santos Werneck. Essa informação segundo Afonso Arinos de Melo Franco (também bucheiro e filho de bucheiro), na biografia que escreveu sobre o presidente Rodrigues Alves. Os três ministros civis mais proeminentes do governo provisório encabeçado pelo marechal Deodoro da Fonseca eram da Bucha: Ruy Barbosa (Fazenda),Campos Salles (Justiça) e Quintino Bocaiúva (Negócios Estrangeiros). Além disso, também foram bucheiros na República do café com leite, os presidentes paulistas Prudente de Moraes, Campos Salles, Rodrigues Alves, Washington Luís e Júlio Prestes, eleito em 1930 e que não chegou a assumir, assim como os presidentes mineiros Afonso Pena,Wenceslau Braz e Arthur Bernardes.”
1.2. Revolução de 30
(Mesmo que a formação de Vargas seja anterior a própria revolução, como sua história se faz conexa com a da revolução tenentista de 30, sua história pretérita e o desenrolar estão dentro tópico da revolução de 30 e suas causas.)


1.2.1. Getúlio Vargas: criação, formação e proto-alianças da revolução.



Com o rompimento de laços entre paulistas e mineiros, outras oligarquias como a do charque, no sul do País, começaram a buscar poder político. Dentre os gaúchos, com a forte influência positivista Comteana-Castilhista na antiga escola de Porto Alegre de Direito, atual UFRGS, surgiu um líder politico de renome: Getúlio Dornelles Vargas.


No artigo de Wikipédia, muito bem elaborado sobre o presidente ( desculpa pelo Wikipédia, mas o artigo está bom mesmo), conta um pouco de sua história que nos interessa.

“Em 1900, matriculou-se na Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo onde não permaneceu por muito tempo, sendo transferido para Porto Alegra a fim de terminar o serviço militar, onde conheceu os cadetes da Escola Militar Eurico Gaspar Dutra e Pedro Aurélio de Góis Monteiro. Com a patente de sargento, Getúlio participou da Coluna Expedicionária do Sul, que se deslocou para Corumbá, em 1902, durante a disputa entre a Bolívia e o Brasil pela posse do Acre.Sua passagem pelo exército e a origem militar, (o seu pai lutou na guerra do Paraguai), seriam decisivos na formação de sua compreensão dos problemas das forças armadas, e no seu empenho em modernizá-las, reequipá-las, mantê-las disciplinadas e afastá-las da política, quando chegou à presidência da república Getúlio formando-se em direito, ano de 1907.Matriculou-se, em 1904, na Faculdade Livre de Porto Alegre, atual da UFRGS. Bacharelou-se em direito em 1907. Trabalhou inicialmente como PROMOTOR PUBLICO junto ao fórum de Porto Alegre, mas decidiu retornar à sua cidade natal para exercer a advocacia. A orientação filosófica, como muitos de seu estado e de sua época, era o positivismo e o castilhismo, a doutrina e o estilo político de Júlio Prates de Castilhos.”


 Este que servira no exército, fez a princípio aliança com a classe dos tenentes, a classe esquecida das patentes, e outros setores descontentes com a política de conveniências exercida pelos membros das oligarquias cafeeiras. Com sua formação de jurista e exercício do cargo de promotor em seu Estado, angariou junto de sua oratória nata o apoio de grande parte do espirito popular de sua época, o que com a aliança mineira seria a maior certeza de vitória na eleição contra o candidato paulista indicado pelo carioca Washington Luiz, Júlio Prestes, o presente eleito e não empossado. Mesmo sem a vitória nas urnas, ainda assim detinha o apoio da grande maioria. Isto mostrou-se retumbante quando os setores liberais da faculdade de direito do Largo de São Francisco e representantes do chamado Partido Democrático (PD), liderados na academia pelo professor Francisco Morato, deram apoio certo ao movimento tenentista de 1930, movimento revolucionário que trazia o jovem Getúlio na vanguarda. No entanto, este movimento desaguaria numa ditadura de triunviratos forjados onde o controle se dava mais propriamente nas mãos do “diabo de São Borja”, como muitos chamam e chamaram Getúlio. 


Esta revolução começou a gerar cismas iniciais com alguns partidos de orientação liberal-republicana como o Partido Republicano Paulista (PRP). Tal partido era ligado à “Bucha” e já repercutia com certa força sobre o Jornal “Estado de São Paulo”, de Julio de Mesquita Filho, que apoiava o partido republicano.

1.2.2. Da revolução de 30 – do apoio à traição e revolução de 32(Agora me aproveitarei, com maior indiscrição, de uma obra suficiente para o estudo objetivo dos acontecimentos históricos da época – “1932: A Guerra Civil Brasileira” – de Stanley Hilton)
Na obra “1932: A Guerra Civil Brasileira” – de Stanley Hilton ele diz:
“ O cisma entre São Paulo e o regime Vargas sabidamente começou a se abrir durante a Revolução de 1930, que foi dirigida em grande parte contra o Partido Republicano Paulista (PRP) e o sistema político oligárquico que este representava. Por mais que membros dessa agremiação tradicional se ressentissem dos democratas paulistas – seus adversários de 1930 – e por mais que flertassem com a interventoria revolucionaria em 1931, sua animosidade para com o governo federal acabaria sendo até maior. O PD, por sua vez, ajudara a preparar a revolução em São Paulo e, naturalmente, esperava desempenhar um papel de destaque na administração do Estado em cooperação com outras correntes reformistas. Por um momento fugaz,[...]parecia que os sonhos democráticos não se transformariam em amargas ilusões”
Isso demonstra que havia uma esperança, e como já falei da parcela apoiadora do movimento no ambiente acadêmico, posso novamente trazer a figura de Francisco Morato, representando papel do professor que estimula alunos da academia em suas ideias, que no caso eram liberais, mas que deram aval para a revolução tenentista.
 No caminho da revolução tenentista, o apoio do PD por Morato se mostrou claro desde a movimentação da junta militar do triunvirato escolhido a mando de Getúlio.

Também na obra de Stanley, lemos um trecho sobre a conjuntura de época:
“A junta militar então pediu que o professor Francisco Morato, líder do liberal-burguês Partido Democrático assumisse o Governo do Estado, ao mesmo tempo em que se formou o famoso Secretariado dos 40 Dias, constituído por paulistas eminentes – entre os quais, José Carlos de Macedo Soares, Plinio Barreto, José Maria Whitaker e Vicente Rao, este ultimo tornando-se chefe de policia.

O problema na verdade não surge desta monta, mas sim quando mesmo com tais indicações e “garantias”, ainda assim havia tamanha relutância de empossar estes paulistas e representantes do PD em cargos substanciais. Isto por decorrência não só de Getúlio, que nem sempre possuía papel direto, mas também por decorrência de membros da alta cúpula dos revolucionários, tais como o capitão sulista João Alberto , que criticava o PD, alegando ter este agido com passividade durante a revolução. Assim esse pensamento repercurtia no quartel-general de modo a colocar em papel subsidiário as forças paulistas que apoiaram o movimento. Diziam que os paulistas apenas deram apoio de causa, mas que não deram apoio substancial em confrontos.

Escreveu o jovem mineiro Virgílio de Melo Franco, membro dos tenentistas:
“A conspiração democrática teve muita semelhança com a Inconfidência Mineira. Os poetas de Vila Rica conspiravam com o Tiradentes por conspirar; mas este conspirou com aqueles para agir”

Disse Stanley:
“Homens influentes em torno de Vargas se opunham ferozmente à entrega do poder estadual a Morato ou a qualquer outro politico paulista.[...]o 'general' Miguel Costa, na vanguarda das tropas revolucionarias, resistia ferozmente  à indicação de Morato, enquanto João Alberto, seu companheiro na época de Coluna Prestes, embora 'mais discreto', também se declarava contra”


Não citarei muitos mais trechos da riquíssima obra de Stanley, mas gostaria de enumerar os fatos sucessivos referentes a esta parte da história. O mesmo Virgilio, que era membro das fileiras do alto escalão e havia feito a comparação com a Inconfidência Mineira, havia alertado Morato a não pleitear o cargo de governador que tanto almejava e pensava ter sido garantido. Morato, no entanto, se mostrou confiante e assim de maneira fatídica fora em conjunto do secretariado, em reunião convocada pelo “general” João Alberto. Lá discutiram a permanência do secretariado inicial, mas deixando de lado o caso Morato, como disse João Neves, membro do secretariado.

Quando Morato soube do fato, ainda grande parcela aprovava a conspiração trintona, mas a recusa não se restringiu a Morato, e com muita desconfiança e frieza passaram a destituir todos os paulistas lideres do PD e colocar nos lugares indicados apenas lideres da confiança do triunvirato maquiado e o próprio Vargas começou com um golpe mais crasso do que Morato, ao desalocar de maneira grosseira o conservador Vicente Rao de seu cargo do Secretariado, sem qualquer justificativa senão a predileção por quem fosse mais próximo ao mesmo.

Esta aversão ao PD e representantes paulistas de renome já era algo claro, tendo em vista que a tendência do movimento tenentista, e não só de Vargas, em dominar pela ditadura, aliado ao centralismo do castilhismo Varguista, fez com que a partição de paulistas fosse considerada uma ameaça ao movimento que desprezava a independência dos Estados garantida pela Constituição de 1891 e sua maior autonomia dentro do jogo federativo. Fazia parte dos planos de Vargas e seus comparças centralizar a arrecadação de tributos de maneira mais centralizada, como ele faria com a reforma tributária em 1937. Temeriam depois os paulistas ao ver comemorações nas quais o nacionalismo exacerbado comemorava a queima de bandeiras estaduais em um ritual onde se hasteava com imponência a bandeira nacional.

Cita Stanley novamente:
“Conservadores e liberais paulistas ficaram atônitos com a nomeação de Miguel Costa para o cargo de interventor, e a situação piorou quando Joao Alberto lançou um “manifesto ao povo”, de caráter populista, e que deu certa abertura para transigir com comunistas que pareciam aderir a seu beneplácito”.
O cerco estava se fechando cada vez mais a partir de 1931, depois de todos estes atos de tirania oligárquica, o partido democrático ficou cada vez mais em vias de se juntar à causa dos antigos buchistas. Mesmo com o jogo de interesses políticos claramente presente, ficava manifesta a submissão de toda e qualquer vontade do eleitorado paulista em qualquer quadro nacional, imputando medidas cada vez mais arbitrárias e centralistas, o que pouco importava para quem tinha raízes populistas e antidemocráticas...

A ruptura feita não foi tão repentina e para que ela ocorresse, tais eventos lastimáveis foram necessários: a intransigência de Osvaldo Aranha, nomeado ministro da Justiça e, em 1931, ministro da Fazenda, perante os anseios de Morato e outros membros do PD; a censura de meios de comunicação como o “Estado de São Paulo” e do meio de comunicação oficial do PD – “Diário Nacional” – suspenso pelo interventor Miguel Costa, agora Secretario de Segurança Publica; por fim e mais lastimável foi a prisão de Vicente Rao por questões de divergência politica.

Isto culminou na gênese da revolução da guerra civil. A Revolução tem como início  a publicação do manifesto democrático de Abril, com o apoio não só dos democratas do PD como também dos republicanos-liberais do PRP e afins. Entretanto, para aqueles que a destarte só viram as bases elencadas pelas elites e oligarquias em confronto, aqui se encontra a surpresa, pois muitos dos antigos apoiadores de 30, das camadas populares, acabaram por aderir às ideias do manifesto de Abril e elencar uma bandeira com dois símbolos: democracia e autonomia. Isto só seria possível com a elaboração de uma constituinte que solvesse o estado de anormalidade da ditadura e reestabelecesse o quadro democrático. São Paulo queria um representante paulista, e não um terceiro interventor alheio aos interesses do paulista e anexo dos interessas da central da Guanabara.

A queda de Joao Alberto e a indicação de Miguel Costa apenas mostrava indiferença as vontades democráticas dos paulistas, uma afronta ao anseio popular, não só dos liberais, republicanos, conservadores, mas sim do povo comum que queria a garantia de não ser desrespeitado e de não ver seu Estado ser desrespeitado de tal maneira humilhante. Uma afronta ao jargão do brasão da cidade “Non ducor, duco” – Não serei conduzido, conduzo.

Entretanto, a atmosfera era propícia pra o descaso dos centralistas quando o caso paulista não se demonstrou como o único caso de insatisfação contra o regime ditatorial. De 1931-1932 começaram a aparecer conturbações tanto em locais alinhados a São Paulo como Mato Grosso e até problemas na terra natal de Vargas por desagradar a junta por ele lá estabelecida.
Além de tudo, o caos a eles agradaria porque geraria a falta de União suficiente para o enfrentamento direto à Junta e ao regime da conspiração de 30. Ressalta bem Stanley, neste trecho abaixo:
“Floresceram comunistas, socialistas, fascistas, federalistas, integralistas, autonomistas regionalistas, nacionalistas, classistas, corporativistas, tenentistas, constitucionalistas e todos os “istas” que se possa imaginar. Dessa babel política Getulio Vargas, homem eminentemente pragmático e oportunista, beneficiou-se pessoalmente”


1.2.2.1. O Fervilhar do apoio popular
Como já dito, o espirito constitucionalista já havia sido popularizado e começam a surgir manifestações estudantis e de membros da expressiva classe media paulista contra os membros de trinta.
Disse Stanley:
Um exemplo foi a data de comemoração do aniversario da Constituição republicana de 1891 em que estudantes gritavam em passeatas contra o quartel dos interventores em São Paulo “Getulio sai, sai, São Paulo não é Xangai” – em alusão a ocupação nipônica forçada na antiga capital chinesa, decorrência do fatiamento do antigo império chinês.

A luta girava em torno da reconstitucionalização e participação no secretariado, mas os ânimos populares se aprofundaram de maneira tamanha que o protesto em relação a legião revolucionaria, órgão criado pelos centralistas, fez a morte de quatro jovens, os mártires do MMDC, o clímax da revolução. Um exemplo de experiência em palestra comemorativa sobre os 90 anos da revolução, em um de seus berços, a Faculdade de Direito, teve a declaração de Ligia Fagundes Telles, renomada escritora, contista e franciscana que contou sobre o episódio dos lenços pretos. Os estudantes, inclusive ela, utilizaram o largo de são Francisco como forma de manifestação silenciosa contra o regime ditatorial-centralista. Colocaram vendas pretas sobre os olhos e ficaram cercando o largo, impedindo a entrada de membros do exercito que agiram com truculência perante todos os presentes. Isso foi feito como semblante do luto perante a morte da democracia e daqueles vitimados da causa, tais como Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo (MMDC), todos estudantes.

2. Conclusão

Faço das minhas palavras as palavras de Stanley Hilton:
“Se Getúlio Vargas, em novembro de 1930, tivesse entregue a direção do Estado a um proeminente civil paulista ligado à causa revolucionária, como a um procérdo do partido democrático (PD), o país não estaria a beira de uma Guerra fratricida em julho de 1932”

Esta revolução não serve para apenas exercermos um pouco do nosso paulistismo, vai muito além disto. Esta é uma revolução pela luta da democracia, da constitucionalização, da contenção de ditadores e tiranos,  é anseio do povo, e mostrou que irmãos precisaram se matar e causar danos entre si, mesmo a civis, para que certos valores pudessem ter sido mantidos. A nossa “dixie” brasileira contra as imposições forçadas de um centralismo ditatorial que desrespeitava toda e qualquer autonomia dos Estados. Isso ficou muito bem claro com a presença funesta do Estado Novo e suas medidas populistas que muito prejudicaram o povo brasileiro, principalmente o paulista.

Infelizmente o nosso destino se deu tão fatidicamente permanecer sobre as garras dos conspiracionistas militares de 30, como a pobreza dos estados norte-americanos pós-guerra de secessão. São sequelas não meramente morais, mas físicas de cidades arrasadas, saqueadas, com exércitos de força discrepantes e com os paulista sujeitos a uma eterna roda da fortuna.  

Bibliografia:

1932: A Guerra civil brasileira – Stanley Hilton – editora nova fronteira

Schmidt, Afonso Frederico, À sombra de Júlio Frank, Editora Brasiliense, s/d.

Bandecchi, Brasil, A Bucha, a Maçonaria e o Espírito Liberal, Editora Parma, 1982

Martins, Ana Luiza, Barbuy, Helena: Arcadas. Largo de São Francisco: História da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Melhoramentos/Alternativa, 1990.

Menotti Del Pichia - A Revolução Paulista, São Paulo, 1932.


https://pt.wikipedia.org/wiki/Get%C3%BAlio_Vargas

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